Um novo surto de Covid-19 voltou a assombrar a China neste fim de semana, o que acabou derrubando o preço do minério de ferro no mercado internacional, com reflexos nas ações de mineradoras e siderúrgicas brasileiras no pregão desta segunda-feira (21).
No Ibovespa, Vale (VALE3) recuava 2,70%, CSN (CSNA3) caía 5%, CSN Mineração (CMIN3) perdia 2,48% e Usiminas (USIM5) se desvalorizava 4,22%. No mesmo sentido, o Ibovespa apontava em 0,71% para baixo, operando aos 108.098 pontos.
Na Bolsa de Dalian, a tonelada da commodity teve uma baixa de 0,96%, cotada a US$ 104. Vale ressaltar que os contratos apresentaram duas semanas consecutivas de alta, depois de informações de que a China estudava arrefecer as medidas contra a doença, justamente porque o número de infectados havia diminuído.
No domingo (20), a China registrou 26.824 novos casos, aproximando-se dos picos de abril. Diante disso, o governo pediu para as autoridades locais tomarem cuidado com a flexibilização das medidas contra a doença para que o surto não se agrave. Além dos novos casos, foram registradas duas mortes em Pequim.
Próximo da China, na Índia, o governo eliminou impostos para a exportação de minério de ferro e de alguns produtos de aço no fim de semana, atendendo a um pedido das mineradoras e siderúrgicas locais.
A iniciativa indiana pode mexer ainda mais nos preços do minério de ferro, uma vez que deve gerar um aumento da oferta da commodity no país.
De acordo com informações da Reuters, a Índia exportou 24,79 milhões de toneladas de granulados e finos de minério de ferro no ano passado, além de embarcar 10,79 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro.
Além das empresas ligadas ao minério, petrolíferas recuavam com intensidade, repercutindo uma baixa no preço do petróleo do tipo Brent. Prio (PRIO3) perdia 4,17%, 3R Petroleum (RRRP3) caía 3,48% e Petrobras (PETR4) recuava 1,65%.
No mercado futuro da ICE, o contrato mais negociado do Brent tinha uma desvalorização de 4,8%, avaliado a US$ 82 por barril.
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Altas do Ibovespa
A ação da Copel (CPLE6) dispara 21,51% no primeiro pregão da semana, repercutindo um anúncio feito na manhã desta segunda-feira (21), pela empresa, acerca da possível desestatização da companhia.
Seu controlador, o estado do Paraná, informou que pretende transformar a companhia em uma corporação, sem um controlador definido. O fato relevante divulgado pela Copel menciona a realização de uma oferta de ações, a qual não seria acompanhada pelo estado, que deve ver a sua participação do capital social da empresa cair de 60% para 15%, sendo 10% do capital com direito a voto.
O estado do Paraná alega a intenção de captar recursos financeiros para suprir as necessidades de investimento público. O levantamento do capital aconteceria com a valorização das ações detidas na Copel.
O especialista em renda variável Pedro Queiroz, da SVN Investimentos, escritório de agentes autônomos ligado à XP, comenta que o processo de privatização gera uma expectativa na melhora da gestão da empresa, o que acaba sendo refletido nas ações.
No caso específico da companhia paranaense, ele avalia que a privatização, se ocorrer, pode gerar um caixa relevante para a companhia, que pode se transformar em investimento em diversas áreas.
Além disso, ressalta que o movimento acaba “puxando” outras estatais estaduais na Bolsa, já que coloca sobre a mesa uma possibilidade de novas desestatizações.
A também paranaense Sanepar (SAPR4) avançava 12,58%, enquanto a paulista Sabesp (SBSP3) subia 4,37% e a mineira Cemig (CMIG4) ganhava 8,22%.
“Essa sinalização de privatização é positiva para o mercado, mas também é positiva para a população, tanto pela eficiência quanto pela disputa de preços”, opina Queiroz, da SVN.
Empresas ligadas ao juros recuperam parte das perdas
Além das estatais estaduais, empresas sensíveis ao juros recuperam parte das perdas vistas na semana passada.
Cyrela (CYRE3) avançava 4,70%, Multiplan (MULT3) ganhava 4,42%, Iguatemi (IGTI11) subia 3,70% e Magazine Luiza (MGLU3) apontava em 3,18% para cima.
Pedro Queiroz, da SVN, ressalta que a curva de juros opera em baixa nesta segunda, após dias sucessivos de alta.
De acordo com dados disponíveis na plataforma do TradeMap, as taxas dos contratos de DI para janeiro de 2024, 2026 e 2028 estavam em 14,26%, 13,39% e 13,26%, com recuos de 0,12 p.p (ponto percentual), 0,22 p.p. e 0,21 p.p, respectivamente.
Contudo, Queiroz vê que o cenário macroeconômico de risco fiscal continua no radar, com as incertezas em relação à PEC da Transição e a ausência de confirmação do novo ministro da Fazenda do novo governo.
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“O mercado trabalhava com uma queda de juros em 2023, cenário que parece ter mudado. Essa falta de compromisso fiscal do novo governo coloca um peso nos ativos e estressa o cenário de juros”, comenta o especialista.
Os economistas ouvidos semanalmente pelo Boletim Focus passaram a projetar que a Selic, a taxa básica de juros, encerre 2023 em 11,50% ao ano, ante os 11,25% previstos nas 10 semanas anteriores.
O aumento das expectativas com a Selic acompanha o novo aumento das projeções para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), neste ano e no próximo.
Segundo o Focus, o mercado agora espera que o indicador da alta de preços encerre 2022 a 5,88%, ante 5,82% na semana passada. Foi a quarta semana seguida de revisão para cima.
Bolsas internacionais
Fora do Brasil, os mercados operam em terreno negativo, também repercutindo o cenário da China.
Nos Estados Unidos, a semana será reduzida em razão do feriado do Dia de Ação de Graças, mas contará com novos pronunciamentos de membros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Na Europa, a inflação ao produtor da Alemanha registrou uma variação negativa de 4,2% na comparação mensal, uma surpresa positiva frente a queda esperada de 0,9%, mostrando um arrefecimento na alta de preços no país.