O Ibovespa, que chegou a subir logo após a abertura do pregão, opera em queda nesta segunda-feira (31), com ações de empresas de educação, construção civil e saúde no positivo. Por outro lado, os papéis de estatais operam em baixa, repercutindo a eleição presidencial.
Por volta das 13h20, o principal índice da B3 operava em baixa de 0,26%, aos 114.238 pontos, no primeiro pregão após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ponta positiva contava com Hapvida (HAPV3) ganhando 7,23%, Alpargatas (ALPA4) subindo 6,21%, Raia Drogasil (RADL3) avançando 5,35% e Cogna (COGN3) apontando em 4,72% para cima.
Na visão do operador de renda variável da SVN Investimentos, Luiz Souza, o mercado espera que o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possa beneficiar empresas que atuem com o segmento de baixa renda.
“No caso do setor de saúde, com o governo colocando ‘mais dinheiro na mão da população’, empresas que atuam com planos de saúde baixa e média renda se beneficiam”, comenta Souza.
No caso de Raia Drogasil, especificamente, existe também a expectativa pelo balanço do terceiro trimestre do ano, que será divulgado após o fechamento do mercado.
As educacionais, por sua vez, estendem o movimento de alta visto na semana passada, com as pesquisas eleitorais indicando a vitória de Lula.
Essa alta das empresas de educação se deve ao fato de Lula ter declarado durante a companha que iria impulsionar novamente os programas de financiamento estudantil criados nas gestões petistas, como o Fies, que turbinaram os resultados das companhias de educação no passado.
Na madrugada desta segunda-feira (31), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) informou que Lula foi eleito presidente com 50,90% dos votos válidos. O segundo colocado, Jair Bolsonaro (PL), chegou a 49,10%.
Bolsa sobe e desce
O movimento positivo em parte do pregão pode ser encarado como uma surpresa, já que mais cedo, antes da abertura dos negócios, o contrato futuro do Ibovespa chegou a recuar 3%, bem como as ações de empresas brasileiras negociadas nos EUA, as chamadas ADRs.
O principal ETF de ações brasileiras negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, o MSCI Brazil Capped ETF (EWZ), também recuou no pré-mercado.
Souza, da SVN, afirma que existia um risco de contestação do resultado, independente do vencedor do pleito, após a definição.
Contudo, mesmo Bolsonaro não tendo reconhecido a derrota e feito algum pronunciamento até agora, aliados do presidente como o senador eleito no Rio Grande do Sul, Hamilton Mourão, e o governador eleito em São Paulo, Tarcísio de Freitas, reconheceram o resultado e afirmaram que conversarão com o Governo Federal.
“Esse cenário diminui bastante o risco de contestação. O mercado agora aguarda a divulgação de quem será o corpo econômico do governo Lula”, acrescenta o operador de renda variável.
Para Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Novus Capital, a vitória apertada de Lula já era o cenário-base esperado pelo mercado, dado que o candidato sempre esteve à frente nas pesquisas eleitorais.
“Os mercados só não abriram em alta porque Bolsonaro ainda não reconheceu o resultado das eleições”, disse Portella.
Os investidores já tinham ajustado em boa parte suas posições antes da eleição, com o Ibovespa encerrando em queda de mais de 4% na semana passada.
Petrobras lidera as baixas
A ação preferencial (PETR4) da estatal liderava as perdas do Ibovespa com um recuo de 8,87%, seguida pela ação ordinária (PETR3), que operava em baixa de 7,63%.
Com a vitória do candidato petista no pleito presidencial, o J.P. Morgan rebaixou a recomendação da ação preferencial da Petrobras, avaliando que é necessário “aguardar as mudanças com o novo governo”, e que isso pode demorar pelo menos seis meses.
O banco diminuiu a recomendação das ações da Petrobras de overweight, equivalente à “compra”, para uma posição neutra, acrescentando que o novo governo pode mudar tanto a forma de a estatal investir como a política da companhia para os preços de combustíveis.
O JP também reduziu o preço-alvo da ação de R$ 53 para R$ 37 ao final de 2023, uma queda de cerca de 30%.
Além do JP, o BTG também reduziu o preço-alvo dos papéis da Petrobras, passando de R$ 40 para R$ 35. Apesar disso, a recomendação continua neutra para os analistas do banco brasileiro.
A eleição de Lula colocou água no chope de quem esperava a privatização da estatal nos próximos anos, já que o presidente eleito se posicionou contra essa possibilidade. O “efeito Lula” também pressiona os papéis do Banco do Brasil (BBAS3), que desvalorizavam 5,69%, figurando entre as maiores perdas do dia.
Ademais, Suzano (SUZB3) caía 3,94%, CSN (CSNA3) recuava 2,76%, JBS (JBSS3) perdia 2,25% e Marfrig (MRFG3) perdia 1,82%. A CSN divulgará seus resultados do terceiro trimestre nesta segunda, após o fechamento do mercado.
Os frigoríficos repercutem um anúncio de novas medidas restritivas para frear o avanço da Covid-19 na China. Na semana passada, o centro financeiro do país, Xangai, voltou a impor restrições de movimentação em pelo menos um dos distritos da cidade depois da detecção de novos casos da doença.
Bolsas internacionais
O movimento dos mercados globais é misto nesta segunda-feira, com os índices subindo na Europa e caindo nos Estados Unidos.
Nos EUA, existe a expectativa pela próxima reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que acontecerá na quarta-feira (2).
A maior parte dos analistas espera uma nova alta de 0,75 p.p (ponto percentual), que pode ser a última dessa magnitude. Caso confirmada, a taxa básica de juros americana ficará numa faixa de 3,75% a 4% ao ano.
Na Europa, a prévia da inflação na Zona do Euro atingiu 10,7% no acumulado dos últimos 12 meses, superando o consenso de 10,2% e adicionando mais pressão no BCE (Banco Central Europeu) em aumentar os juros por lá no futuro.
Veja o movimento dos principais índices globais nesta segunda-feira, último dia do mês de outubro: