Mesmo com a forte alta das ações da Petrobras (PETR4; PETR3), que ajudou a sustentar o índice no positivo por boa parte do dia, o Ibovespa seguiu o mau humor de seus pares estrangeiros e fechou o pregão desta quarta-feira (31) em baixa de 0,82%, aos 109.522 pontos, com R$ 26,23 bilhões em volume negociado.
A queda de hoje, segunda consecutiva, não foi suficiente para inverter o saldo do Ibovespa para o mês de agosto, que fechou em alta de 6,16%. Desde o início do ano, a valorização acumulada é de 4,48%.
O dia também foi de baixas no exterior. Em Nova York, o S&P 500 teve baixa de 0,78%, o Dow Jones recuou 0,88% e o Nasdaq caiu 0,56%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com perdas de 1,25%.
Mais uma vez, política monetária derruba Bolsas
As Bolsas estrangeiras seguem operando em modo de cautela em meio a expectativas de austeridade na política monetária ao redor do mundo. Ontem, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, afirmou acreditar que as taxas de juros devem subir ainda mais e permanecer em níveis elevados até que a inflação seja controlada.
Na Europa, a divulgação de uma inflação recorde, acima da expectativa do mercado, acentuou a percepção de que o BCE (Banco Central Europeu) terá de endurecer sua política de aperto monetário. O índice de preços anotou alta anual de 9,1% em agosto, acima da estimativa de 9%.
Por aqui, a taxa de desemprego caiu para 9,1% no trimestre finalizado em julho, menor nível desde dezembro de 2015, em linha com o esperado por analistas de mercado, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). O dado anterior, do trimestre encerrado em junho, ficou em 9,3%.
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Em outra frente, desenvolvimentos em torno da campanha eleitoral repercutem no noticiário. Na campanha do presidente Jair Bolsonaro, tomam as manchetes afirmações que os recursos de privatizações podem ser utilizados para financiar o Auxílio Brasil de R$ 600. Seu oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu um adicional de R$ 150 no auxílio para cada criança de até seis anos.
Ainda, de acordo com a coluna da Mônica Bergamo, no jornal Folha de S. Paulo, o setor financeiro aposta em Geraldo Alckmin como ministro da Economia em eventual governo Lula. Alexandre Padilha e Aloizio Mercadante também são apostas.
Petróleo cai, mas Petrobras sobe
A pressão do exterior foi suficiente para compensar a alta das ações da Petrobras, que lideraram os ganhos do Ibovespa. O papel ordinário da estatal (PETR3) teve alta de 2,94% e o preferencial (PETR4), de 2,47%.
Mais cedo, o governo americano anunciou que os estoques de petróleo do país caíram 3,32 milhões de barris nesta semana, ante uma expectativa de retirada de 1,483 milhão de barris. A notícia pode mostrar um mercado mais aquecido para a demanda da commodity, o que acaba beneficiando as petrolíferas.
Além disso, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou, nesta terça, a venda da Reman (Refinaria Isaac Sabbá) no Amazonas. Na visão de Cássio Bambirra, sócio da One Investimentos, o anúncio é positivo e deve reforçar o papel da empresa como um dos “queridinhos” até o final do ano.
Por fim, a petrolífera paga hoje a primeira parcela de dividendos no valor de R$ 3,36 por ação, ou R$ 43,8 bilhões no total. A segunda parcela, no mesmo valor, será paga em 20 de setembro.
A alta das ações da Petrobras ocorre mesmo em dia de baixa do petróleo, refletindo dados econômicos negativos na China. O Brent fechou o pregão com desvalorização de 2,25%, a US$ 95,64.
O PMI Industrial chinês subiu para 49,4 em agosto, de 49 no mês anterior. O patamar, abaixo de 50, ainda é considerado contracionista, mas veio acima das estimativas de 49,2. O PMI de serviços, por sua vez, recuou de 53,8 para 52,6 no mesmo período.
Além da Petrobras, destaque de alta para a EDP Brasil (ENBR3), que subiu 2,39% depois do anúncio de venda da subsidiária Energest, controladora da usina hidrelétrica Mascarenhas, por R$ 1,22 bilhão. A venda é mais um passo da companhia para diminuir sua exposição ao risco hidrológico no segmento de geração de energia.
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No fechamento, as ações que mais subiam eram as de Méliuz (CASH3), Pão de Açúcar (PCAR3) e Petz (PETZ3), com altas de 3,97%, 3,38% e 3,24%, respectivamente.
Maiores baixas do Ibovespa
Na ponta oposta, os papéis que mais caíram foram os de Alpargatas (ALPA4), Magazine Luiza (MGLU3) e Dexco (DXCO3), com recuos de 5,54%, 5,32% e 4,84%, nesta ordem.
A Hapvida (HAPV3) e a Qualicorp (QUAL3) também ficou entre as maiores baixas, com quedas de 3,58% e 3,9%, respectivamente,, ainda repercutindo a aprovação, no Senado, do projeto de lei que obriga os planos de saúde a cobrir procedimentos que não estejam na lista da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Além disso, a Hapvida informou ao mercado algumas mudanças no seu conselho de administração, com a saída dos membros Christopher Riley Gordon, Márcio Luiz Simões Utsch e Lício Tavares Ângelo Cintra. Este último, além de membro do conselho, também era diretor vice-presidente comercial e de relacionamento da companhia.
Outra queda importante foi de IRB (IRBR3), de 4,65%. Ao longo da terça-feira, a companhia anunciou a venda da sede da empresa, por R$ 83,5 milhões, e a alienação de sua participação no empreendimento Casashopping, no Rio de Janeiro, por R$ 100 milhões.
Com as vendas, o IRB abre uma nova frente de ações para recompor seus níveis de capital e voltar a cumprir os critérios regulatórios, depois de reportar números abaixo do exigido pelo órgão que regula o setor, a Susep (Superintendência de Seguros Privados), em relação a cobertura de provisões técnicas e suficiência de patrimônio líquido ajustado.
Em menor intensidade, os bancos recuaram em bloco, um dia depois de a Câmara dos Deputados aprovar a Medida Provisória que aumenta em 1% a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) de instituições financeiras. O Banco do Brasil (BBAS3) caiu 1,51%, o Itaú Unibanco (ITUB4) recuou 2,53%, o Santander (SANB11) perdeu 2,26% e o Bradesco (BBDC4) teve baixa de 2,52%.
Por fim, fora do Ibovespa, a Espaçolaser (ESPA3) despencou 17,92%, depois de a companhia aprovar um aumento de capital por meio do lançamento de novas ações no mercado. O plano prevê a arrecadação entre R$ 85 milhões e R$ 225 milhões, com e emissão de até 117,1 mil novas ações ordinárias.
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Em relatório, o Goldman Sachs avaliou a medida como positiva para fortalecer a estrutura de capital e reduzir a alavancagem, mas negativa pela diluição de 15,3% a 32,4% para os atuais acionistas.
Criptomoedas
O Bitcoin (BTC) resiste na faixa de US$ 20 mil enquanto os investidores seguem cautelosos com os juros americanos. O patamar, no entanto, não está solidificado, e sua permanência vai depender do humor dos mercados globais nos próximos dias.
As atenções se voltam para dados da economia americana na busca de sinais de desaceleração que justifiquem uma alta menos agressiva da política monetária.
Nesta sexta-feira (2) serão divulgados dados do mercado de trabalho, um importante termômetro para medir se o aumento dos juros já está impactando nas atividades.
Por volta das 16h50, o BTC registrava alta de 1,8%, negociado a US$ 20.131, conforme dados do Binance disponíveis na plataforma TradeMap.
No mês, a queda foi de 14,8%, o que devolve praticamente todo o ganho de 15,7% registrado em julho.
O Ethreum (ETH) mostra recuperação mais robusta, com alta de 2,5%, aos US$ 1.570, com os investidores à espera do processo de atualização da blockchain confirmada para o dia 15 de agosto.
No mês, a segunda maior cripto do mercado registrou queda de 8%, ante alta de 55,3 % em julho.