Em meio a um cenário turbulento, com risco de shutdown (paralisação do governo por falta de aprovação do orçamento pelo Congresso) nos EUA, novas tarifas comerciais impostas pelos EUA, sobre medicamentos, que sofrerão alíquota de 100%, além de armários de cozinha e banheiro (50%), móveis estofados (30%) e caminhões pesados (25%), além de tensões institucionais no Brasil, o Ibovespa renovou sua máxima histórica em setembro. Sustentado por cortes de juros nos EUA e trégua diplomática entre Lula e Trump. Papéis ligados ao varejo, energia e consumo interno lideraram os ganhos.
Apesar do cenário externo conturbado, o Ibovespa renovou sua máxima histórica no dia 23 de setembro, encerrando aos 146.425 pontos após tocar 147.178 no intraday, com variação anual de 21,58% no ano de 2025. O índice foi sustentado pela trégua diplomática entre Lula e Trump durante a Assembleia-Geral da ONU, quando ambos sinalizaram aproximação, e pelo corte de juros nos EUA. No Brasil, o ambiente interno também foi movimentado pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão, fato citado por Lula em discurso na ONU em defesa da democracia e da soberania nacional.
No campo monetário, o Federal Reserve anunciou seu primeiro corte de juros em nove meses, reduzindo a taxa básica para o intervalo de 4,00% a 4,25% ao ano. No Brasil, embora o corte de juros externo tenha trazido algum impulso, os riscos fiscais e políticos mantiveram os investidores cautelosos em relação ao último trimestre do ano.
Entre as principais altas do mês, se destacaram:
Magalu (MGLU3): (+17,22%)
A varejista teve um dos melhores desempenhos do Ibovespa em setembro, com alta de 17,22%, impulsionada sobretudo pelo ambiente macroeconômico mais favorável ao consumo. A queda nas projeções de inflação e o reforço nas apostas de que o ciclo de afrouxamento monetário será intensificado no Brasil entre o fim de 2025 e o início de 2026 beneficiaram empresas sensíveis à taxa de juros, como o varejo. Com juros mais baixos, o crédito tende a ficar mais acessível, o que estimula a demanda das famílias e melhora as expectativas para companhias como a Magalu, que operam em segmentos diretamente ligados ao consumo das classes médias.
Eletrobras (ELET3 e ELET6): (+16,66%; +16,24%)
As ações da Eletrobras figuraram entre as maiores altas do mês, com ganhos de 16,66% (ELET3) e 16,24% (ELET6), refletindo o forte otimismo do mercado em relação ao potencial de valorização da companhia no médio prazo. Analistas destacaram a elétrica como uma das principais oportunidades no setor de utilities, com revisão positiva de projeções e aumento significativo nos preços-alvo para os próximos anos. A expectativa de ganhos operacionais com a privatização, a melhoria da eficiência na gestão e o foco em geração renovável contribuíram para atrair investidores institucionais, fortalecendo a tese de valorização dos papéis ao longo do mês.
Cogna (COGN3): (+14,38%)
As ações da Cogna encerraram setembro com alta de 14,38%, refletindo a reação positiva do mercado à estratégia de reorganização de ativos anunciada pela companhia. Em comunicado ao mercado, a empresa revelou a intenção de realizar uma oferta pública para aquisição da totalidade das ações da Vasta, sua subsidiária listada na Nasdaq desde 2020. A possível reintegração dos ativos educacionais é vista como uma sinalização de foco e simplificação estrutural. Além disso, o ambiente macro mais benigno, com expectativas de corte de juros e melhora nas condições de crédito, favorece empresas cíclicas e endividadas, como é o caso da Cogna, potencializando o movimento de recuperação dos papéis. Além disso, é uma das empresas que mais figura no ano até o momento, com acumulado de 224,30%.
Na outra ponta, o Ibovespa registrou fortes perdas em papéis de setores variados.
Entre os destaques negativos ficaram:
Braskem (BRKM5): (-29,88%)
As ações da Braskem despencaram 29,88% em setembro, pressionadas por temores crescentes sobre a saúde financeira da companhia. O mercado reagiu negativamente à contratação de assessores financeiros e jurídicos para auxiliar na elaboração de um diagnóstico sobre alternativas econômico-financeiras, interpretando o movimento como indicativo de uma possível reestruturação de capital. A companhia avalia medidas como uma recuperação extrajudicial, diante do elevado nível de endividamento e margens pressionadas pelo ciclo global da indústria química. A deterioração do cenário acendeu alertas também sobre eventuais impactos para a Petrobras, que detém 49% do capital da Braskem, especialmente em relação à distribuição de dividendos futuros pela estatal.
Vamos (VAMO3): (-20,32%)
Com queda de 20,32% em setembro, as ações da Vamos refletiram a preocupação do mercado com o elevado custo de captação em sua recente emissão internacional de títulos. A subsidiária Vamos Europe precificou US$ 300 milhões em “Notes” com taxa anual de 9,25%, vencimento em janeiro de 2031 e liquidação prevista para 2 de outubro. Apesar de a operação aliviar pressões de curto prazo sobre o caixa, ao estender o perfil da dívida, o alto custo em dólar foi mal-recebido pelos investidores. Além disso, os resultados do segundo trimestre de 2025 decepcionaram parte do mercado: mesmo com crescimento da receita líquida puxado pela venda de ativos, a companhia apresentou queda de rentabilidade, reforçando o sentimento negativo ao longo do mês.
Hapvida (HAPV3): (-14,05%)
A Hapvida encerrou setembro com uma das maiores baixas do Ibovespa, acumulando queda de 14,05%. A deterioração de seus indicadores financeiros no segundo trimestre de 2025 reacendeu as dúvidas do mercado sobre sua eficiência operacional. A companhia reportou queda tanto no lucro líquido ajustado quanto no Ebitda ajustado, sinalizando dificuldades na captura de sinergias após recentes aquisições e desafios no controle de custos. Em meio a um cenário competitivo e com margens pressionadas, os números reforçaram a percepção de que a empresa ainda enfrenta um processo complexo de reorganização interna, o que pesou sobre suas ações ao longo do mês.
Para acompanhar mais notícias do mercado financeiro, baixe ou acesse o TradeMap.