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Selic a 13,75% ao ano desacelera entrada de pessoas físicas no mercado de ações, mas saldo ainda é positivo

Crescimento do número de investidores em 2022 está em 3,2%

Foto: Shutterstock

Com a taxa Selic a 13,75% ao ano, o ritmo de entrada de novos investidores pessoas físicas no mercado de ações passa por uma desaceleração. Depois de o número de CPFs dobrar em anos anteriores, o crescimento em 2022 chega a apenas 3,2% no acumulado até junho.

Além da menor atratividade da renda variável com os juros básicos em patamares elevados, a base de investidores superior a 3 milhões e o mercado “andando de lado” são outros fatores que afastam os potenciais interessados em entrar.

Dados da B3 (B3SA3) contabilizavam 3,2 milhões de CPFs no mercado à vista de ações em junho. Esse número indica uma entrada de apenas 100 mil no primeiro semestre, alta de 3,2% em relação a dezembro.

Esse crescimento mostra uma desaceleração em relação ao registrado em anos anteriores, com altas expressivas desde 2018.

“Esse movimento [de alta] foi mais intenso durante os períodos em que os investidores buscaram alternativas de investimentos mais rentáveis em função dos juros menores”, explica Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes da B3.

O Brasil teve juro na casa de um dígito por pouco mais que quatro anos seguidos, período no qual a Selic chegou a ficar na mínima histórica de 2% entre agosto de 2020 e março de 2021.

Mas o aumento da inflação fez o Banco Central (BC) elevar a Selic, atualmente em 13,75%. Com juros mais altos e o famoso retorno de 1% ao mês de volta, o investidor tende a preferir opções na renda fixa a correr o risco da renda variável.

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Paiva lembra que a atração de novos investidores para a Bolsa depende de vários fatores, como as iniciativas de educação financeira e um cenário macroeconômico favorável ao crescimento do país – uma atividade aquecida favorece o crescimento de lucros das empresas e a valorização de suas ações, o que é um atrativo para os investidores.

Em 2020, o Ibovespa subiu 2,92% e, no ano seguinte, caiu 11,92%. Neste ano, acumula alta de 9,37%.

Saldo da poupança ainda é maior que o da Bolsa

Mesmo nesse cenário, contudo, Paiva acredita ser possível continuar a levar novas pessoas físicas para o mercado acionário.

“Ainda há muito espaço para crescimento na Bolsa. Basta lembrarmos que existe um enorme contingente de brasileiros que ainda alocam suas economias em cadernetas de poupança”, diz.

A caderneta de poupança conta atualmente com um saldo de R$ 987,6 bilhões. Já o valor em custódia das ações detidas por pessoas físicas, em junho, era de R$ 328 bilhões. A tradicional caderneta, no entanto, conta com 233 de contas, sendo que cerca de 34 milhões possuem saldo acima de R$ 5 mil.

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O saldo mediano detido pelos investidores de Bolsa está em R$ 3 mil. Um ano antes, era de R$ 7 mil. Essa queda está ligada não só à variação dos preços das ações, mas à entrada de investidores com um tíquete menor.

Gabriela Joubert, analista-chefe do Inter, lembra que o período de forte crescimento de investidores em ações coincidiu com um “bull market” local e global, ou seja, um longo período de cotações em trajetória de alta e maior otimismo, o que atrai investidores.

“É normal ver o número de investidores pessoas físicas aumentar quando a gente está experimentando um bull market“, diz.

Já o cenário atual é diferente. A Bolsa está com uma volatilidade maior e sem um fator que sustente uma trajetória de alta, além das incertezas do período eleitoral e um cenário externo mais adverso.

“A gente acaba vendo os dados de movimentação na Bolsa e o número de compras e vendas está menor. Há um pouco de inércia e isso é natural em alguns momentos”, complenta a analista.

Neste ano, o Ibovespa até acumula ganhos, mas em um nível bem parecido com o CDI, que tem alta de 9,91% e com menor risco e volatilidade.

Investidores menos ativos em Bolsa?

A B3 considera como investidores mais ativos aqueles que realizaram ao menos uma operação por mês. Esse número em 2022 está em 1,4 milhão de pessoas físicas. No ano passado, era de 1,5 milhão.

“Quando a Bolsa está em queda, fica mais difícil operar e ganhar dinheiro. É um fator que também contribui para a desaceleração do número de investidores”, explica Joubert.

A analista ressalta que em outros mercados esse comportamento é parecido, assim como a concentração da Bolsa em alguns setores.

No Brasil, o maior peso está com as empresas de commodities e bancos, mas Joubert lembra que, em outras economias, essa concentração também existe. Nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia e bancos são as mais representativas, enquanto, na Europa, o destaque recai sobre farmacêuticas e varejo de luxo.

“São as empresas que têm maior liquidez, são consolidadas e pagam dividendos. É natural essa concentração e uma mudança decorre mais de uma alteração estrutural na economia”, avalia.

A entrada de pessoas físicas no mercado de ações de forma mais expressiva deve ocorrer quando os juros derem um alívio, o que deve a valorização das ações.

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O Inter espera que a flexibilização da política monetária tenha início em meados de 2023 e que o Ibovespa termine o ano de 2022 em 120 mil pontos.

Maurício Takahashi, professor da área de finanças da Universidade Mackenzie, também concorda que é a Bolsa em trajetória de alta que ajuda a atrair um número maior de investidores pessoas físicas, mas faz uma ressalva.

“O investidor institucional puxa a pessoa física. Nesse caso, a pessoa física acaba fazendo muitas vezes o movimento errado, que é comprar quando a ação já está cara”, diz.

Para evitar essa armadilha, o professor sugere que o investidor estude antes as ações que vai comprar para entender quais são os fatores que justificam esperar que elas irão se valorizar (crescimento da economia, mudança de legislação, concorrência menor, inovações) e acompanhar mudanças nessa tese de investimento.

“O investidor institucional faz mais projeções, cenários e probabilidade. Se uma das hipóteses de investimento muda, ele faz a reprecificação mais rápida.”

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