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Financiar veículo está mais caro e prazo sobe para parcela caber no bolso

Empréstimos para compra do carro seguirão em crescimento, mas com custo mais elevado

O brasileiro recorreu mais ao financiamento de veículos em 2021 e a tendência deve continuar neste ano. A expectativa de normalização da produção de carros e o aumento do preço dos automóveis justificam essa projeção, mas o consumidor terá que arcar com um custo maior do empréstimo.

O saldo dessas operações somava em novembro R$ 238,9 bilhões, valor que representa um crescimento de 10,6% na comparação com igual mês de 2020, segundo dados do Banco Central.

Paulo Noman, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), considera que o resultado poderia ter sido até maior se as montadoras não tivessem enfrentado problemas de produção, o que fez rarear os carros zero quilômetro no mercado.

O dirigente lembra que com essa escassez, mesmo os bancos de montadora, que possuem interesse em escoar a produção das marcas, tiveram que se voltar para os seminovos. “Com a falta de carros novos, houve uma migração para os usados e isso se refletiu também nos financiamentos”, diz.

A menor disponibilidade de veículos zero quilômetro e o aumento dos juros, em especial no segundo semestre do ano passado, fez outra alteração no perfil dos financiamentos: o aumento do prazo, que no terceiro trimestre de 2021 (último dado consolidado disponível) chegou a uma média de 46,9 meses. Um ano antes, estava em 45 meses.

O prazo máximo está em 60 meses, mas Noman afirma que algumas financeiras já começaram a disponibilizar planos com 72 meses, além dos chamados planos “irregulares”, que são aqueles que começam com uma prestação mais baixa para a diferença ser paga no final. O objetivo é fazer com que a parcela caiba no bolso do consumidor, já que os juros encarecem os empréstimos.

Em novembro, a taxa média de juros do financiamento de veículos era de 27,5% ao ano (o equivalente a 2,05% ao mês). Doze meses antes, a média era de 19% ao ano (1,46% ao mês).

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À vista

Outra característica é que diferente de outros anos, foi maior a participação da compra à vista: ela respondeu por mais da metade das vendas – 53% do total. A média histórica fica em torno de 48%. Para o presidente da Anef, o motivo para essa mudança é a pandemia, que possibilitou que uma parcela dos consumidores fizesse uma poupança maior ao longo de 2020, quando as restrições de mobilidade eram maiores.

“Os veículos subiram de preço e os juros também subiram, mas, ao contrário do esperado, subiu a participação dos pagamentos à vista”, explica.

As médias também ficaram comprometidas porque houve falta de veículos e algumas montadoras podem ter priorizados os de maior valor, que são voltados para um público menos dependente de financiamento

André Novaes, diretor da Santander Financiamentos, espera que o aumento dos juros não iniba a concessão de novos empréstimos. Segundo ele, apesar da alta, o patamar de taxas ainda está similar ao que se tinha antes do início da pandemia – em fevereiro de 2020, a taxa média era de 19,4% ao ano.

Apesar de os juros serem considerados ainda atrativos, o executivo considera que o aumento dos preços dos automóveis pode ser um limitador para a demanda por financiamentos.

“O preço do automóvel em um ano e meio subiu entre 30% e 40%. Isso causa um efeito muito maior (para a decisão de compra) do que o efeito da alta de juros”, disse.

Ainda assim em sua avaliação, haverá um crescimento em 2022 das vendas e financiamento dos veículos zero quilometro e, do uso, algo próximo da estabilidade.

O Santander registrava em setembro de 2021 uma carteira de crédito de R$ 4,3 bilhões no segmento de financiamento de veículos a pessoas físicas, uma alta de 5% em 12 meses.

De acordo com o executivo, o principal canal para o crescimento desses financiamentos é a parceria com lojas e concessionárias. Para o banco, esse tipo de financiamento é importante porque, por ser de prazo mais longo, permite a oferta de outros produtos aos clientes, como seguro de veículos.

Apesar do crescimento da carteira que deve se repetir em 2022, o executivo lembra que o cenário macroeconômico, com desemprego ainda em alta e inflação, pode causar um pequeno aumento na inadimplência. Segundo dados do BC, a inadimplência (atrasos acima de 90 dias) no financiamento de veículos a pessoas físicas era de 3,7% em novembro, alta de 0,6 ponto percentual em 12 meses.

Esse, no entanto, não é o maior desafio para o setor. Segundo ele, a grande dúvida é sobre a regularização das vendas de veículos novos.

“Com essa nova variante da Covid, fica esse temor de limitação dos insumos, o que pode fazer faltar carro novamente ou mexer com o preço, isso acaba influenciando também o mercado de usados”, diz.

O consultor do mercado automotivo Raphael Galante destaca que o final de 2021 foi marcado pelo aumento dos juros e que apesar dele ter voltado para o patamar antes da pandemia, a situação do brasileiro é outra.

“Isso é perverso. A taxa é a mesma, mas o brasileiro médio ficou mais pobre”, lembra.

Para quem busca o financiamento, o ideal é pesquisar as taxas, vendo inclusive as condições ofertadas no banco de relacionamento, e tentar fazer o financiamento pelo menor prazo possível, pagando assim menos juros. Além disso, é preciso considerar que ter um veículo gera outras despesas (manutenção, impostos, seguro).

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