A alta da taxa Selic para 10,75% ao ano aumenta ainda mais a atratividade dos investimentos em renda fixa. E como o aperto monetário do Banco Central (BC) deve continuar, o que não faltam são opções de diversificação dentro dessa categoria.
Com a Selic em elevação, há oportunidades muito claras em renda fixa, seja em títulos pós-fixados, prefixados ou para quem busca proteção da inflação”, diz William Eid, diretor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A taxa Selic foi elevada nesta quarta-feira de 9,25% ao ano para 10,75% ao ano. Segundo o relatório Focus do BC, que compila as projeções de economistas, a taxa básica deverá terminar o ano em 11,75% para começar a recuar apenas em 2023.
Com esse cenário, o investidor tem na renda fixa um retorno que deve ficar acima da inflação — a projeção do IPCA para 2022 é de 5,38% e, para 2023, de 3,50%, também de acordo com o Focus. Na prática, será possível um ganho real, aumentando o patrimônio.
Essas oportunidades estão presentes tanto nos investimentos em títulos públicos, no Tesouro Direto, quanto nos privados (CDBs, LCIs, LCAs e debêntures). A escolha vai depender da estratégia de cada investidor, aponta Rodrigo Beresca, analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos.
“O investidor precisa conhecer o seu perfil. Se for mais conservador, melhor papéis mais curtos. Do contrário, é possível diversificar a carteira com papéis de prazos mais longos”, diz.
Simulação de retornos com Selic a 10,75% ao ano | |||
Valor da aplicação: R$ 10 mil por 12 meses | |||
Rentabilidade | Retorno bruto | Retorno líquido | |
Poupança | 6,17% | R$ 616,78 | R$ 616,78* |
Tesouro Selic | 10,75% | R$ 1.075,00 | R$ 886,88 |
CDB 120% CDI | 12,90% | R$ 1.290,00 | R$ 1.064,25 |
LCI/LCA a 100% do CDI | 10,75% | R$ 1.075,00 | R$ 1075* |
*Produtos isentos da alíquota de IR de 17,5% | |||
Fonte: Ativa Investimentos |
Retorno de 120% do CDI
No caso dos papéis pós-fixados, que são aqueles cujo retorno segue a taxa de juros, além do Tesouro Selic, Beresca destaca os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) que pagam um percentual do CDI, que é praticamente igual à Selic.
“Ainda é possível encontrar CDBs que pagam 120% do CDI até o vencimento do papel. Mais para frente, a tendência é que fique mais difícil encontrar esse retorno”, diz.
A razão para esse rendimento deixar de ser oferecido é justamente a trajetória de alta da Selic. Quando a taxa estava em 2% ao ano, algumas instituições financeiras chegavam a oferecer CDBs pagando 150% do CDI, o que daria um rendimento de 3%. Agora que a taxa Selic subiu para 10,25%, os bancos ficam menos ousados nessas ofertas.
No TradeMap, é possível ver quais instituições estão oferecendo CDBs com rentabilidade nessa faixa. Com um investimento de R$ 5 mil, há papéis pagando 120% do CDI pelo prazo de três anos.
E os CDBS, assim como as letras de crédito imobiliário e agrícola (LCI e LCA), possuem a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – limitada a R$ 250 mil por investidor por instituição financeira. A poupança tem essa mesma proteção.
Já o investidor que quer garantir a proteção da inflação pode comprar papéis corrigidos pela inflação. O Tesouro IPCA com vencimento em 2026 está pagando a variação do índice de preços mais uma taxa de 5,24% ao ano.
No caso de um papel privado (de banco ou empresa), o ideal é que ele ofereça um prêmio maior do que o disponível nos títulos do Tesouro Direto (do governo federal), já que o risco é maior.
Esses investimentos incluem o Tesouro Selic, cuja rentabilidade é indexada à taxa básica de juros, somada a um pequeno percentual adicional definido no momento do investimento. Atualmente, o retorno anual do Tesouro Selic com vencimento em 2024, por exemplo, é de 9,35% (Selic + 0,1086%).
E embora a renda fixa esteja mais atrativa, a poupança está entregando retornos menores. Com a Selic acima dos 8,5% ao ano, a regra de remuneração diz que o rendimento da caderneta fica fixo em 0,50% ao mês, ou 6,17% ao ano, mais a variação da TR, que atualmente está zerada.
A remuneração fixa significa dizer que, quanto mais a Selic sobe, mais distante fica o rendimento da poupança das outras alternativas de investimento consideradas de baixo risco.
Renda variável
A taxa Selic em alta torna, em tese, menos atrativos os investimentos em renda variável, como ações e fundos imobiliários. O motivo é que esses ativos precisam pagar uma remuneração maior que a renda fixa, que são investimentos considerados mais seguros e de menor volatilidade.
“Com as elevações da Selic, há um desestímulo para a renda variável. Apenas uma ou outra empresa se beneficia do atual cenário. Junta-se a isso a incerteza do ano eleitoral”, diz Eid.
Ainda assim, o investidor pode encontrar boas alternativas. No caso das ações, Eid cita os papéis de empresas que podem se beneficiar do ciclo de recuperação global, como as exportadoras.
Para os fundos imobiliários, o professor da FGV é um pouco mais cético, uma vez que ele acredita em um cenário ainda de vacância, ou seja, espaços vazios que não geram a renda do aluguel, prejudicando a rentabilidade dos FIIs.
“Há opções em fundos de logística, mas é melhor buscar aqueles que possuem uma diversificação de ativos dentro do mesmo fundo”, recomenda.