Anbima já sente escassez de LCIs, LCAs e LIGs, mas demanda por papéis com benefício fiscal segue alta

Pessoas físicas fecharam 2022 com R$ 5,05 trilhões investidos; contas no varejo têm em média R$ R$ 21,6 mil e as de milionários, R$ 12,4 milhões

Foto: Shutterstock/Brian A Jackson

A demanda por papéis de emissão bancária com isenção fiscal segue forte, o que fará com que o investidor comece a sentir uma escassez de LCAs (letras de crédito agrícola), LCIs (letras de crédito imobiliário) e LIGs (letras imobiliárias garantidas) nas instituições financeiras. A falta é justificada pela inexistência de lastro para novas emissões, ou seja, a obtenção de recursos por meio de operações de crédito agrícola e imobiliário.

“Há ainda uma procura muito grande por esses produtos, mas há uma dificuldade (em novas ofertas)”, diz Ademir Correa, presidente do fórum de distribuição da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

As LCIs, LCAs e LIGs possuem isenção do IR (Imposto de Renda) sobre os rendimentos, o que atrai o investidor pessoa física.

Segundo dados da Anbima, as LCAs totalizaram R$ 137,1 bilhões nas carteiras das pessoas físicas (varejo, varejo alta renda e private) ao fim de 2022, um crescimento de 76% na comparação com o ano anterior. No caso das LCIs, o estoque ficou em R$ 87,6 bilhões, e o de LIGs, em R$ 40,5 bilhões. Os montantes representaram, altas de 67,6% e 87,7%, respectivamente.

Para Correa, a escassez é ligada à falta do crédito na outra ponta e não por uma estratégia das instituições financeiras. “Os bancos querem ter as duas pontas (operação de crédito e captação via produtos isentos). Se o mercado estivesse mais calmo, talvez a demanda não fosse tão alta e a oferta estivesse normal”, avalia.

Balanço de investimentos

A Anbima divulgou nesta quinta-feira (9) os dados sobre o balanço de investimento dos brasileiros. O total de investimento detidos por pessoas físicas nos diferentes segmentos de atendimento (varejo tradicional, varejo de alta renda e private) chegou a R$ 5,05 trilhões, alta de 11,7% em 2022 na comparação com 2021. É a primeira vez que a soma das aplicações chega a esse patamar.

O maior incremento se deu no varejo de alta renda. O patrimônio líquido totalizou R$ 1,4 trilhão, crescimento de 16,2%. No varejo tradicional, o total chegou a R$ 1,7 trilhão, aumento de 13,3%. No caso do private, o patrimônio líquido ficou em R$ 1,9 trilhão, um avanço de 7,3% no ano.

Os dados da associação mostram ainda que as pessoas físicas (tradicional e alta renda) possuem 143,6 milhões de contas (um CPF pode ter mais de uma conta corrente). Isso significa que, em média, cada conta do varejo tem R$ 21,6 mil em aplicações.

Já no private, o número de contas ficou em 153,1 mil, o que faz com que cada uma delas tenha, em média, R$ 12,4 milhões.

E nesses portfólios, a renda fixa reinou. Essa classe respondeu por 60,3% do total investido por pessoas físicas, ante 56,8% em 2021. Já a participação da renda variável caiu de 19,5% para 17,1%.

“A renda fixa tem relação com a mudança do patamar da taxa de juros. Teve um crescimento da renda fixa e um recuo da renda variável. A volatilidade da bolsa, o pós-pandemia, a guerra na Ucrânia e o cenário econômico atual levou a esse movimento das classes de ativos”, explica Correa.

Para esse início de 2023, ele observa que o comportamento do investidor se repete, com maior procura pela renda fixa. “Em janeiro, vimos ainda a preocupação do investidor em ter um porto seguro.”

Americanas: “caso isolado”

Sobre a Americanas (AMER3), que afetou a rentabilidade dos fundos de renda fixa com crédito privado, o dirigente avalia que foi um fato isolado e que a reprecificação do mercado, ao de imediato dar as debêntures da varejista como inadimplentes, foi rápida.

“Acreditamos, enquanto Anbima, que a transparência do mercado amenizou os impactos desse caso. O investidor está preocupado, mas vemos como um caso isolado”, ressaltou.

 

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