A oferta de ações da Eletrobras (ELET3; ELET6) abriu uma “guerra” entre as instituições financeiras, que reduziram gradualmente as taxas de administração para atrair mais investidores, cobrando no máximo 0,40% ao ano. Essa competição, no entanto, passa longe dos fundos de privatização criados no início dos anos 2000, em que as taxas chegam a 1,90%.
Os dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostram que há 65 fundos ativos do período da privatização de Vale (VALE3) e da capitalização da Petrobras (PETR3; PETR4).
Esses fundos foram criados para que os trabalhadores pudessem utilizar os recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de serviço) no processo de privatização dessas empresas por meio de um veículo específico, que é o FMP (fundo mútuo de privatização).
Com cerca de 134 mil investidores pessoas físicas, nenhum desses fundos mútuos cobra taxa abaixo de 0,50% ao ano. Considerando apenas as carteiras com mais de mil cotistas – lista restrita a 16 -, as taxas variam entre 0,80% e 1,90%.
Confira a lista completa dos 16 fundos:
Gestora | Nome do fundo | Patrimônio (em R$ milhões) |
Taxa de administração (ao ano) |
BRAM (BRADESCO) | BRADESCO FMP FGTS VALE PRIVATE | 147,6 | 0,80% |
SANTANDER BRASIL | SANTANDER FMP FGTS VALE II | 193,7 | 0,80% |
ITAU UNIBANCO | ITAUBANCO FMP FGTS VALE | 237,8 | 0,80% |
CAIXA ASSET | CAIXA FMP FGTS PETROBRAS IV | 537,5 | 0,95% |
SANTANDER BRASIL | SANTANDER FMP FGTS VALE | 261,5 | 1,00% |
CAIXA ASSET | CAIXA FMP FGTS PETROBRAS III | 626,9 | 1,20% |
BB DTVM S.A | BB FMP FGTS PETROBRAS | 177,9 | 1,40% |
CAIXA ASSET | CAIXA FMP FGTS PETROBRAS II | 384,3 | 1,40% |
BB DTVM | BB FMP FGTS VALE DO RIO DOCE | 405,6 | 1,40% |
CAIXA ASSET | CAIXA FMP FGTS VALE II | 990,2 | 1,40% |
BRAM (BRADESCO) | BRADESCO H FMP FGTS VALE | 132,0 | 1,50% |
ITAU UNIBANCO | ITAU PETROBRAS FMP FGTS | 222,6 | 1,50% |
ITAU UNIBANCO | ITAU FMP FGTS VALE | 337,1 | 1,50% |
BRAM (BRADESCO) | BRADESCO FGTS PETROBRAS | 346,0 | 1,50% |
BRAM (BRADESCO) | BRADESCO FMP FGTS VALE | 434,5 | 1,50% |
CAIXA ASSET | CAIXA FMP FGTS VALE I | 552,1 | 1,90% |
Fonte: Anbima |
Essas carteiras têm características similares a de fundos monoação, ou seja, que investem em um só papel, sem um trabalho específico de gestão, já que não há uma estratégia.
“É um fundo que não precisa de uma equipe de análise. Precisa apenas comprar um tipo de ação”, explica Michael Viriato, estrategista da assessoria de investimentos Casa do Investidor.
Para ele, esse tipo de fundo passivo deve ter uma taxa de, no máximo, 0,50%ao ano.
Já para Flávio Conde, analista da Levante Investimento, esse custo ao investidor deveria ser ainda mais baixo, de 0,20% – patamar de taxa encontrado em 14 dos 20 fundos mútuos da oferta da Eletrobras.
Poucas alternativas
Para o investidor que está incomodado com as taxas cobradas nessas carteiras, as opções são bem limitadas.
Os recursos em um FMP possuem regras específicas de movimentação. Os aportes, por exemplo, podem ser feitos apenas durante a oferta da empresa que está em processo de privatização.
De volta ao FGTS
A partir de 12 meses do investimento, há a possibilidade de solicitar que os recursos voltem para a conta do FGTS. Nesse caso, pagando um Imposto de Renda de 15% sobre os ganhos que ultrapassem a remuneração vinculada à conta do FGTS no mesmo período.
Em uma situação hipotética, considere um fundo FMP-FGTS que tenha se valorizado em 10% no ano passado. No mesmo período, o FGTS rendeu em torno de 7%, variação que considera a remuneração garantida (3% mais a variação da TR) mais a incorporação dos resultados das aplicações do FGTS, distribuídos aos trabalhadores.
O investidor que tivesse R$ 10 mil investidos nesse fundo teria apurado um ganho de R$ 1 mil. Já esse mesmo dinheiro na conta vinculada ao FGTS teria gerado um retorno de R$ 700. Se o trabalhador solicitasse a migração de seus recursos para a conta do FGTS, ele pagaria uma alíquota de 15% do IR apenas sobre a diferença, ou seja, sobre R$ 300, o que daria um recolhimento de R$ 45.
Migre para fundos mais diversificados
Outra opção a quem tem recursos no FMP-FGTS da Vale ou Petrobras é solicitar a migração para um FMP “carteira livre”, o que pode ser feito a cada seis meses. Nesse tipo de fundo mútuo, 49% do patrimônio fica investido em títulos de renda fixa e o restante, em ações ou índices. Esses fundos são específicos para receber os recursos do FGTS que foram utilizados para a privatização da Vale ou Petrobras. Não é cobrado IR na portabilidade.
Caso o investidor prefira essa alternativa, é preciso antes consultar quais são os fundos de menores taxas, mas considerando que por se tratar de um fundo com uma gestão mais ativa – em que é possível aplicar em diferentes ativos -, a taxa de administração tende a ser maior que a de um fundo passivo.
O Caixa FMP-FGTS Carteira Livre, por exemplo, possui taxa de administração de 2,2%. O Bradesco Multiportfólio FMP FGTS CL e o Itaú Personalité Balanceado FMP-FGTS CL têm ambos taxa anual de 1,5%. Já o Bradesco FMP FGTS CL cobra 3%.
Essas carteiras possuem estratégias diferentes, o que também deve ser levado em conta no momento de uma eventual transferência de recursos.
O Bradesco Multiportifólio concentra as aplicações em ações, sendo que Vale, Petrobras e Itaú representam mais de 30% do patrimônio do fundo, mas há também papéis como da B3, BB Seguridade, Suzano e Weg, entre outras empresas.
O Itaú Personlité Balanceado aloca cerca de 80% do patrimônio em ações, com maior peso para Vale, Petrobras e Bradesco. Uma fatia de 20% está aplicada em títulos públicos.
Já o produto da Caixa tem 75% do patrimônio investido em ações ordinárias da Petrobras (PETR3) e o restante em títulos públicos.
Os trabalhadores que aportaram recursos na oferta da Eletrobras também terão esse direito, mas respeitando o prazo de 12 meses para retornar ao FGTS ou de seis meses para a migração para um FMP “carteira livre” a ser criado para essa destinação – receber recursos dos que aportaram na capitalização da empresa de energia.
O saque dos recursos só é permitido dentro das regras do FGTS, que incluem justificativas como demissão sem justa causa e doenças graves, entre outros casos.