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Viva Air expõe setor aquecido, mas Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) esbarram em custos e dívidas

Chegada de aérea colombiana low cost no Brasil reforça demanda aquecida por aqui, mas custos e dívidas ainda prejudicam setor

Foto: Shutterstock

A chegada ao Brasil da Viva Air, empresa aérea colombiana focada em aviação low cost — que atua com um baixo custo operacional e passagens também mais baratas — serviu para demonstrar que a demanda por voos está aquecida no país.

Não por acaso, menos de três semanas depois de iniciar suas operações no mercado brasileiro, a companhia anunciou, em julho, que iria ampliar, a partir de outubro, a frequência da única rota que realiza, entre São Paulo e Medellin, de três par quatro voos por semana.

Engana-se, porém, que se apressa a concluir que esse anúncio pode ser um sinal de uma recuperação mais firme do setor aéreo brasileiro, que ainda junta os cacos dos estragos causados pela pandemia, com aumento dos custos e das dívidas das empresas, em especial Gol e Azul, as duas com ações listadas na B3.

Em uma análise dos números do segundo trimestre das duas companhias, é fato que a demanda tem, sim, evoluído.

Na Gol, o indicador do setor aéreo que mede a demanda, conhecido pela sigla RPK e que basicamente multiplica o número de passageiros pelo total de quilômetros voados, mais do que dobrou em relação a igual período do ano passado, com alta de 103%.

RPK da Gol no 2t22
Fonte: Gol Linhas Aéreas

De acordo com as prévias operacionais de abril, maio e junho, a Azul  – que divulgará seu balanço no dia 11 de agosto – o RPK subiu 50% na base comparativa anual.

Para o analista de renda variável Renato Hallgren, da BB Investimentos, o momento aquecido do setor se deve ao fato de a demanda ter ficado reprimida no mundo inteiro nos últimos dois anos, por causa das restrições de mobilidade causadas pela pandemia, tanto no segmento de turismo quanto no de negócios.

“O que atrapalha essas empresas é o preço do combustível, que não tem a ver só com o valor do petróleo, mas com toda a cadeia de refino. O preço aumenta e joga as tarifas aéreas para níveis históricos”, diz.

Na Gol, a tarifa média subiu 38,9% no segundo trimestre, para R$ 496,90, em comparação a igual período do ano passado. Na Azul, avançou 47,6% no primeiro trimestre (balanço mais recente) em relação a igual período do ano passado, para R$ 449,10.

O aumento das passagens reflete custos mais altos. Na Gol, o custo operacional da empresa dividido por passageiros pagantes e quilômetros voados, conhecido pela sigla CASK, mostrou um recuo de 14% na comparação anual, mas um avanço de 25,26% em comparação com o primeiro trimestre de 2022, em especial por causa do aumento do dólar.

Cerca de 60% dos custos de uma companhia aérea, vale lembrar, costumam ser atrelados à moeda americana, em especial o combustível usado nas aeronaves e o próprio aluguel que as empresas pagam pelas aeronaves.

No balanço da Gol para o segundo trimestre, o custo dos combustíveis dividido pelos passageiros e quilômetros — chamado de CASK Combustíveis — subiu 72% na comparação anual e também anotou um avanço na comparação trimestral.

CASK gol 2t22
Fonte: Gol Linhas Aéreas

Com o aumento da demanda, as companhias também têm elevado também o número de voos disponíveis. Segundo dados do Ministério do Turismo, com base nos relatórios da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) divulgados no fim de julho, a oferta de voos no Brasil aponta uma “manutenção da tendência de recuperação do setor aéreo”.

Esse indicador registrou em junho a segunda alta consecutiva na comparação com o mesmo mês de 2019, período anterior à pandemia de Covid-19.

Após avançar 6% em maio, em relação ao mesmo mês de 2019, a oferta de voos cresceu 0,5% em junho na comparação com igual período do mesmo ano. E em relação a junho de 2021, o aumento é de 45,8%.

“A demanda tem melhorado bem ao olharmos a evolução nos últimos meses. As viagens de turismo e lazer já haviam melhorado, e o segmento corporativo começou a avançar nos últimos três meses. As empresas começam a rodar com números pré-pandemia. O grande desafio é repassar os custos”, afirma Brunno Donadio, sócio da Equitas Investimentos.

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No entanto, como a oferta de voos cresce mais que a demanda, a taxa de ocupação dos voos da Gol caiu em julho deste ano, atingindo 80,8% no mês, uma porcentagem menor que os 84,5% registrados em julho de 2021. Este é o quarto mês consecutivo em que a companhia aérea apresenta taxas de ocupação menores na comparação anual.

Segundo dados divulgados pela companhia, a Gol fez 44,7% mais decolagens em julho deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado. A oferta de assentos cresceu em proporção semelhante (42,6%), e a demanda por transporte aéreo aumentou num ritmo um pouco menos intenso (36,3%).

Na Azul, porém, a taxa de ocupação está em alta. No acumulado de janeiro a junho deste ano em comparação com o mesmo intervalo em 2021, houve um avanço de 1,8 pontos-percentuais na ocupação, passando de 77,4% em 2021 para 79,2% em 2022.

O desafio de novos entrantes

Embora a Viva Air tenha anunciado um aumento da sua operação no Brasil, o setor aéreo local não é tão amigável para a entrada de novas empresas. Na visão de Hallgren, do BB Investimentos, o setor já está consolidado no país, o que dificulta novas operações robustas.

“Para posicinar uma nova companhia aqui é necessário muito capital. O que pode fazer mais sentido é como no caso da operação da Viva Air, uma parceria entre a Avianca, da Colômbia, e a Gol. Pensando numa estratégia combinada entre empresas, pode fazer sentido”, completa o analista.

A dificuldade de manter operações com custo baixo no Brasil é outro problema para as empresas, de acordo com os analistas ouvidos pela Agência TradeMap. “Não faz nenhum sentido falar de uma estratégia de low cost diante de um cenário de preço alto nos combustíveis e inflação elevada”, afirma Hallgren. 

Donadio, da Equitas, avalia que mesmo a empresa tendo foco inicial no low cost, como foi o caso da Gol, conforme a operação vai ficando maior, começa a haver mais dissídios, a estrutura vai ficando mais inchada e a folha salarial maior. Cria-se uma dificuldade para manter a atuação de baixo custo.

Outro problema, citado por Donadio, da Equitas, é a forte legislação que essas empresas aéreas enfrentam no país. O Brasil é recordista em processos contra companhias aéreas, segundo dados de 2021 da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo).

Segundo a instituição, o Brasil é o país em que as aéreas mais sofrem com processos no mundo. O estudo apontou uma alta de 52% no número de processos contra as empresas do setor de 2017 para 2018, para 64 mil. Entre 2018 e 2019 o aumento foi de 141%, para 154 mil.

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