As incertezas quanto aos rumos das contas do governo fizeram os investidores buscarem proteção em opções mais seguras do Tesouro Direto em janeiro.
Com isso, as vendas dos papéis indexados à Selic (antiga LTF) bateram recorde no mês, ao somarem R$ 2,8 bilhões, segundo dados do Ministério da Fazenda divulgados nesta terça-feira (28). Este foi o maior valor da série histórica do Tesouro Nacional, iniciada em janeiro de 2002.
O montante representa quase 65% do total de vendas no mês, de R$ 4,36 bilhões, o melhor desempenho do Tesouro Direto desde maio de 2019.
Em janeiro, no entanto, os investidores fizeram mais resgates do que aportes no Tesouro Direto como um todo. As vendas líquidas ficaram negativas, ou seja, o Tesouro recolheu mais títulos do que colocou no mercado – no valor de R$ 447,7 milhões, o pior resultado desde março de 2021.
Saiba mais:
Descontados recompras e resgates feitos pelos investidores, as vendas de papéis vinculados à Selic registraram saldo positivo de R$ 1,46 bilhão, o segundo maior volume da série histórica e praticamente o dobro dos R$ 730 milhões vendidos no mês anterior.
Em contrapartida, as duas modalidades de papéis prefixados tiveram saldo negativo de R$ 2,27 bilhões, com as opções das antigas LTN responsáveis pelo grosso do valor. No mês anterior, a soma dos dois contratos havia encerrado com saldo positivo de R$ 46,5 milhões.
Vale lembrar, porém, que em janeiro houve o vencimento de opções prefixadas, respondendo por um total de R$ 2,57 bilhões.
Já os papéis expostos à variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) tiveram resultados positivos. As vendas líquidas dos antigos papéis NTN-B Principal somaram R$ 254 milhões, enquanto as opções de NTN-B fecharam o mês com saldo positivo de R$ 94,4 bilhões. Nos dois casos, o saldo de janeiro foi levemente acima do registrado no mês anterior.
Cenário macro desafiador
O início do ano foi marcado por forte alta das taxas do Tesouro Direto em meio às incertezas com os primeiros passos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além da invasão aos prédios dos Três Poderes.
O estresse ficou mais latente nos papéis com prazos mais longos e vinculados à inflação, com prêmios que chegaram a 6,51% no caso do Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045 – a taxa mais alta desde o início da negociação do papel, em fevereiro de 2017.
E neste mês, o clima ficou ainda mais pesado após a intensificação dos ataques de Lula à taxa de juros definida pelo Banco Central e as discussões sobre a alteração das metas de inflação.
Sem contar o recém-lançado Tesouro RendA+, das 11 opções disponíveis atualmente para compra no Tesouro Direto em janeiro, apenas o Tesouro Prefixado 2026 se valorizou, com leve alta de 0,01%. Todos os demais títulos públicos perderam para o rendimento do CDI do período, de 1,12%.