Tesouro Direto: Tesouro IPCA lidera as perdas em maio, mas papel ainda é o mais indicado; entenda

Inflação persistentemente elevada e sinalização de fim de alta dos juros aumentam atratividade desses títulos públicos

Foto: Shutterstock

A inflação acima de dois dígitos e a perspectiva de que os juros terão o último aumento pelo Banco Central neste mês de junho elevaram a atratividade dos títulos públicos atrelados à inflação – conhecidos como IPCA+ ou pela antiga sigla NTN-B -, principalmente no curto e no médio prazo, afirmam especialistas ouvidos pela Agência TradeMap.

Dados preliminares mostraram que, em maio, a inflação desacelerou para 0,59% em base mensal, mas, em 12 meses, acelerou para 12,20%.

Outros indicadores inflacionários mais recentes, como o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), divulgado nesta segunda-feira (30), também apontaram perda de fôlego da inflação, mas a análise de especialistas é que esse processo de desacelerarão será lento, e que os preços continuarão rodando com inflação em níveis elevados nos próximos meses.

A disseminação da inflação por diversos subgrupos da economia indica que aalta de preços continuará forte por algum tempo, assinala Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management.

Os dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mostraram que, em maio, 75% dos produtos e serviços pesquisados pelo IBGE subiram de preço, bem acima da média histórica, de 60% para o mês.

Há ainda o fato de o mundo inteiro enfrentar picos inflacionários, o que gera ainda mais pressão sobre a economia doméstica. Na visão da Azimut, o IPCA deve encerrar o ano com alta de 9% – uma inflação quase duas vezes maior que o limite de 5% previsto para este ano sob o regime de metas.

Segundo Barcellos, esta junção de fatores dá mais vantagens para a assimetria entre risco e retorno dos ativos que acompanham a variação de preço, que estão pagando atualmente taxas de juro reais de até 5,8% ao ano.

“Nesse momento, faz mais sentido apostar em opções lastreadas em inflação ou em ativos pós-fixados no curto prazo”, afirma o CEO da Azimut Brasil.

Também olhando em um horizonte mais próximo, Fernanda Mansano, economista-chefe da Empiricus, diz que os títulos ligados à inflação são os que oferecem os melhores retornos para os investidores.

“Vemos a inflação ainda pressionada, e os investidores podem aproveitar essas taxas no curto prazo com os [papéis]  indexados ao IPCA”, afirma, citando as opções com vencimento entre 2024 e 2025.

Acompanhando a onda de alta dos juros que o Banco Central promove desde o início de 2021 para tentar controlar a inflação, os papéis do Tesouro Selic foram os que apresentaram maior rentabilidade nos últimos em maio.

O topo da lista empatou com os papéis atrelados à Selic com vencimento em 2024 e 2027 (atualmente disponível para compra), ambos com retorno de 1,1% em maio. Na sequência, esteve o Tesouro Selic com vencimento em 2025, com rendimento de 1,07%, e o título com vencimento em 2023, 1,05%. 

Já entre as maiores quedas do mês aparece o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045, com perda de 3,8%. Vale lembrar que, quando as taxas aumentam, os preços caem.

Confira a seguir o desempenho de todos os títulos públicos, disponíveis ou não para compra, no Tesouro Direto, em maio.

Título Vencimento Retorno em maio (%) Retorno anual (%)
Tesouro Selic 01/09/2024 1,1 4,47
Tesouro Selic 01/03/2027 1,1 4,85
Tesouro Selic 01/03/2025 1,07 4,53
Tesouro Selic 01/03/2023 1,05 4,46
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2023 0,82 3,88
Tesouro Prefixado 01/01/2023 0,81 3,77
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2024 0,07 5,88
Tesouro IPCA+ 15/08/2024 0,05 5,73
Tesouro Prefixado 01/07/2024 -0,01 0,67
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2025 -0,17 0,36
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2026 -0,22 4,86
Tesouro Prefixado 01/01/2025 -0,24 -0,05
Tesouro IPCA+ 15/08/2026 -0,29 4,51
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2030 -0,54 3,16
Tesouro IGPM+ com Juros Semestrais 01/01/2031 -0,77 5,98
Tesouro Prefixado 01/01/2026 -0,8 -1,88
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2032 -0,86
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2035 -0,97 1,33
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2027 -0,99 -1,95
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2045 -1,14 0,81
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 -1,23 1,14
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2050 -1,28 0,01
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2029 -1,36 -3,82
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 -1,4 -0,97
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 -1,59 -1,13
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2031 -1,83 -5,2
Tesouro Prefixado 01/01/2029 -1,85
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2033 -2,06
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 -3,8 -7,2

Fonte: Tesouro Direto

Inflação persistente

Após entregar uma inflação quase duas vezes maior que o teto em 2021 – de 10,06% -, o BC indicou que provavelmente vai descumprir a meta também neste ano, e que as ações adotadas agora têm em vista garantir uma variação aceitável nos preços em 2023.

Analistas, no entanto, acham que a inflação continuará acima do limite previsto nas metas do BC tanto neste ano quanto no próximo. O retorno para dentro da banda estimada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) deve ocorrer apenas em 2024, período em que o centro da meta de inflação será de 3%, com limite mínimo de 1,5% e máximo de 4,5%.

Paulo Duarte, economista-chefe da Valor Investimentos, projeta que o IPCA encerrará o ano que vem na casa de 6% – mais que o teto de 4,75% previsto no regime de metas para 2023.

“É um problema mundial e vem do lado da oferta. Temos um problema sério pelo aumento das commodities, a quebra das cadeias de produção e as dificuldades para o escoamento de produtos por causa dos portos fechados na China”, explica.

Diante deste quadro pressionado, ele também cita as opções em Tesouro IPCA+ como as mais vantajosas, ainda que os prêmios reais (isto é, acima da inflação) possam recuar para um patamar da ordem de 5,7%.

“Captura-se uma proteção com a inflação devido a esse retorno do IPCA e com o fechamento do prêmio de risco na curva de juros”, afirma, indicando que a queda das taxas poderá proporcionar ganhos de capital em caso de venda antecipada dos papéis.

Juros altos por mais tempo

No encontro realizado no início de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) acrescentou um ponto na Selic, para 12,75% ao ano, e sinalizou mais um aumento na reunião agendada para os dias 14 e 15 de junho.

O colegiado adiantou que a alta deve ser menor, e o mercado projeta novo acréscimo de 0,5 ponto, o que deixaria a taxa básica de juros em 13,25% ao ano.

Apesar das crescentes críticas de setores sobre o estrangulamento econômico com a Selic no maior patamar desde 2017, a autoridade monetária não se comprometeu a dar fim ao ciclo de altas e “deixou a porta aberta” para uma nova mudança em agosto.

Para os agentes do mercado, outro acréscimo após junho não fará diferença nos esforços para trazer a inflação para baixo. Os olhares, dizem, estão nas pistas que o BC pode deixar sobre a necessidade de extensão deste ciclo.

Até pouco tempo atrás, as opiniões convergiam para um início gradual de corte na Selic a partir do primeiro trimestre de 2023. As expectativas mudaram, e há quem enxergue a queda dos juros apenas no segundo semestre do ano que vem.

Segundo Duarte, da Valor, mais aumentos dos juros não vão mudar o cenário, visto que a alta da inflação é um problema do lado da oferta, principalmente pelos gargalos de produção e logística, e não pelo aquecimento da demanda interna.

“Na prática, novos aumentos [de juros] serão um remédio amargo que não vão fazer efeito sobre o problema principal da inflação”, diz.

A Azimut Brasil revisou as previsões para corte nos juros para além de abril de 2023, ante a estimativa de que o movimento do BC poderia ser iniciado já no primeiro trimestre. 

“A expectativa é que essa curva vai ter que se prolongar por mais tempo para acomodar a inflação. Os preços estão surpreendendo o tempo inteiro, e é uma pressão com muita resiliência em vários grupos”, afirma Barcellos, citando que esse processo de aumento do tempo de juros altos favorece papéis como o do Tesouro Selic, que acompanha a variação da Selic, no curto prazo.

A opinião é compartilhada por Mansano, da Empiricus. A casa também projeta os juros acima de 13% ao ano até ao menos junho do ano que vem. “Depois a Selic pode começar a ter cortes, o que faz os papéis prefixados ganharem atratividade.

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