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Sinqia (SQIA3): tech mais descontada da Bolsa pode não sofrer tanto com alta de juros

Sinqia deve sofrer menos com alta de juros em 2023 por estar exposta ao setor financeiro

Foto: Shutterstock/Alf Ribeiro

A perspectiva de juros altos por mais tempo no ano que vem, causada por um risco fiscal ligado ao novo governo, voltou a assombrar as empresas mais sensíveis ao juros na Bolsa brasileira.

Na última edição do Boletim Focus, por exemplo, os analistas do mercado elevaram mais uma vez as expectativas para a taxa básica (Selic) em 2023, apostando que o Banco Central será forçado a adiar o corte nos juros.

Agora, a mediana das projeções é que a Selic alcance 12,25% ao ano em dezembro, contra estimativa anterior de 12% ao ano. A previsão para a taxa no final de 2024 foi mantida em 9% ao ano. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano.

É um cenário que prejudica principalmente as chamadas “empresas de crescimento”, que possuem essa denominação pois precisam captar recursos para realizar investimentos e, assim, no futuro, entregar resultados sólidos. As companhias de tecnologia costumam entrar nesta categoria.

Além da dificuldade de captar recursos, as empresas de crescimento acabam sofrendo com a desconfiança do investidor que evita ações de maior risco quando o juro sobe. Não à toa, as empresas de tecnologia operam em queda desde meados de novembro, quando o risco fiscal passou a tomar conta do noticiário.

A Sinqia (SQIA3), empresa que desenvolve produtos de tecnologia para o setor financeiro, não foi uma exceção nesse movimento. Do dia 11 de novembro até o último pregão de 2022, viu suas ações recuarem 21%, passando de R$ 19,01 para R$ 15,03. Dentre os pares, a Locaweb (LWSA3) recuou 26,11% no mesmo intervalo, enquanto a Totvs (TOTS3) perdeu 14%.

Algumas empresas, porém, podem estar sendo “mal precificadas”, ou seja, podem estar baratas, abaixo do que seria um valor justo, e trazerem uma opoertunidade para os investidores.

O analista CNPI da Agência TradeMap Sérgio Castro considera que o EV/Ebitda, indicador usado pelo mercado para medir se uma ação está sendo negociada com desconto ou não, pode ser um bom termômetro para saber se um papel está com um preço atrativo ou não. 

Em um levantamento realizado pela TradeMap, foi constatado que, na Sinqia, o EV (enterprise value, ou valor da firma, em português), que representa a soma do valor de mercado e das dívidas menos o caixa, equivale a 11 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de um ano da companhia.

Quanto mais vezes o EV supera o Ebitda de um ano, maior a chance de a empresa estar cara. Significa que são necessários mais anos de geração de Ebitda para atingir o valor de mercado da empresa.

Em comparação a pares do setor, a Sinqia tem um resultado menor. A Locaweb (LWSA3), por exemplo, tem um EV/Ebitda de 28 vezes, enquanto a Totvs (TOTS3) tem um múltiplo de 19 vezes.

 

Matheus Amaral, analista do Inter, avalia que, na comparação direta com a Totvs, que ele considera o concorrente mais próximo da Sinqia na Bolsa, a segunda desponta como melhor opção. “A Sinqia oferece um múltiplo interessante, com uma combinação boa de crescimento e melhora das margens no futuro”, comenta.

Vale a pena comprar ações da Sinqia?

Mesmo diante de um cenário de juros desfavorável, o mercado ainda aposta numa valorização do papel em 2023.

Desde o primeiro pregão de janeiro do ano passado até o último dia de 2022, as ações da empresa recuaram quase 10% na B3. Após abrir o ano com o papel cotado a R$ 16,65, encerrou o último pregão de 2022 por R$ 15,03.

A ação teve sua máxima do ano quando atingiu os R$ 21,40 no dia 10 de outubro, e atingiu sua mínima em 12 de janeiro, quando estava cotada a R$ 12,75.

A Warren, por exemplo, tem um preço-alvo para as ações da companhia em R$ 25 ao final do ano que vem, o que traria uma valorização de 62,44% nos próximos doze meses. Frederico Nobre, líder da área de análise da corretora, avalia que a empresa está num preço atrativo, já que sua performance operacional continua positiva.

Dados do Refinitiv compilados na plataforma do TradeMap mostram que a ação da Sinqia pode sim se valorizar em 2023. A mediana das projeções de casas do mercado é de R$ 26, o que traria um upside de 72,99% em relação ao preço de fechamento de 2022.

O Inter é um dos bancos que têm o preço-alvo de R$ 26 ao final de 2023 para as ações da companhia de tecnologia, com uma recomendação de compra para o papel.

O que esperar da Sinqia em 2023?

O fato curioso é que a Sinqia é uma empresa que tem uma estratégia de crescimento por meio da aquisições de companhias menores e, diante desse cenário de juros mais altos por mais tempo, deve ver uma desaceleração nessas compras, porque fica mais tomar empréstimos para financiar expansões.

Porém, o fato de a companhia atuar com softwares para bancos, fundos e consórcios pode “blindar” essa desaceleração esperada em razão da permanência da Selic em níveis altos em 2023, já que as instituições financeiras costumam ter ganhos maiores com juros mais elevados.

“O setor de tecnologia como um todo sofre pelo período de alta inflação e juros. Contudo, a Sinqia está posicionada no mercado financeiro, que tem demanda mesmo em cenário de estresse. Vejo a empresa bem posicionada para atravessar um momento turbulento de economia mais fraca”, afirma Alysson Gregorio, especialista em renda variável da SVN Investimentos.

Apesar dos efeitos negativos da Selic, Frederico Nobre, da Warren, afirma que a estratégia de crescimento da empresa tem se mostrado “sólida”, com a Sinqia “superando as expectativas do mercado”.

Em entrevista concedida à Agência TradeMap em outubro, o diretor de Relações com Investidores e ESG da empresa, Emerson Faria, informou que após a empresa adquirir nove companhias ao longo dos últimos anos, o processo não irá parar em 2023.

Na ocasião, o time de gestão da companhia possuía cerca de 600 negócios mapeados para possivelmente serem adquiridos, dos quais 100 já estavam em fase de análise dos balanços e 10 com conversas em andamento.

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O executivo não citou nomes, mas admitiu que o que mais tem analisado nas empresas que estão no radar é a margem do negócio como proporção do Ebitda (lucro que exclui da conta as despesas com juros e impostos e perdas com depreciações e amortizações).

“Como nossa margem Ebitda está em torno de 25%, trabalhamos para aumentar esse número. Conforme vamos incorporando empresas com margens maiores que a a da Sinqia, a nossa própria margem aumenta”, disse Faria.

Entre as companhias adquiridas desde 2020, estão nomes como a Itaú Soluções Previdenciárias (ISP) e a Simply. A maior aquisição, em valores, foi a da NewCon, em uma transação de R$ 422,5 milhões.

No segundo trimestre deste ano, por exemplo, período que a Sinqia afirmou que já consolidou as operações da NewCon, finalizou o período com uma margem Ebitda de 25,7%.

O número mostra um avanço de 3,3 pontos percentuais em comparação com o mesmo trimestre de 2021, quando era de 22,4%. Ao comprar a NewCon, a Sinqia afirmou que a empresa tinha uma margem Ebitda de 55,8%.

Amaral, do Inter, avalia que 2023 é um ano para a Sinqia aumentar seu cross selling, ou seja, adequar seu portfólio de serviços de forma a complementar, dentre as aquisições, o que um cliente pode adquirir.

“Vimos um crescimento tanto pelas aquisições interessante em 2022, o que contribuiu para os resultados durante o ano passado. Acreditamos que se a companhia focar nesse cross selling, podemos esperar bons resultados e margens maiores em 2023″, comenta o analista do Inter.

Nobre, da Warren, considera que a “tese da Sinqia tem se mostrado madura por conta das aquisições”, mesmo com a dificuldade do mercado. Ele também avalia que o mercado tem sido “pouco responsivo” aos números que a Sinqia tem apresentado em seus balanços.

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