A Sinqia (SQIA3), empresa que desenvolve produtos de tecnologia para o setor financeiro e coleciona nove aquisições ao longo dos últimos dois anos, está com sede para mais.
O time de gestão da companhia tem cerca de 600 negócios mapeados para possivelmente serem adquiridos, dos quais 100 já estão em fase de análise dos balanços e 10 com conversas em andamento, segundo disse à Agência TradeMap o diretor de Relações com Investidores e ESG da empresa, Emerson Faria, em entrevista exclusiva.
O executivo não cita nomes, mas admite que o que mais tem analisado nas empresas que estão no radar é a margem do negócio como proporção do Ebitda (lucro que exclui da conta as despesas com juros e impostos e perdas com depreciações e amortizações).
“Como nossa margem Ebitda está em torno de 25%, trabalhamos para aumentar esse número. Conforme vamos incorporando empresas com margens maiores que a a da Sinqia, a nossa própria margem aumenta”, disse Faria.
Entre as companhias adquiridas desde 2020, estão nomes como a Itaú Soluções Previdenciárias (ISP) e a Simply. A maior aquisição, em valores, foi a da NewCon, em uma transação de R$ 422,5 milhões.
No segundo trimestre deste ano, por exemplo, período que a Sinqia afirmou que já consolidou as operações da NewCon, finalizou o período em uma margem Ebitda de 25,7%.
O número mostra um avanço de 3,3 pontos percentuais em comparação com o mesmo trimestre de 2021, quando era de 22,4%. Ao comprar a NewCon, a Sinqia afirmou que a empresa possuía uma margem Ebitda de 55,8%.
Além da preocupação com a margem, a Sinqia busca companhias que vendam produtos e serviços que sejam complementares aos da empresa, de forma a poder vender mais de um produto ou serviço para o mesmo cliente. A companhia, é claro, também busca saber se os clientes da empresa a ser adquirida conseguem comprar outros produtos da Sinqia.
Para Faria, a estratégia de aquisições da Sinqia é o principal motivo que explica o desempenho da ação da Sinqia, uma das poucas do setor de tecnologia que acumula valorização em 2022.
Desde o início do ano, a ação da companhia acumula valorização de 20,36%, enquanto nomes como Locaweb (LWSA3) e a Méliuz (CASH3) registram queda de 25% e 66% em 2022, respectivamente, segundo dados disponíveis na plataforma do TradeMap.
O setor de tecnologia tem sido penalizado pelo mercado por causa do aumento de juros. De março do ano passado para cá, a Selic saltou de 2% para 13,75% ao ano.
O avanço dos juros costuma ser prejudicial para o setor porque as empresas de tecnologia em geral precisam captar recursos no mercado para financiar sua expansão. Com juros mais altos, essa captação fica mais cara e, em tese, os negócios demorariam mais tempo para se provar lucrativo.
Além disso, o juro mais elevado torna mais custoso o pagamento das dívidas que já foram tomadas, o que contribui para que as empresas registrem prejuízos ou lucros menores em seus balanços.
A própria Sinqia viu lucro líquido atribuído aos acionistas cair 64,7% no segundo trimestre, para R$ 1,7 milhão, em relação a igual período do ano passado. Por outro lado, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) cresceu 98,3% no mesmo tipode comparação, ao atingir R$ 39,1 milhões.
“Estamos buscando alcançar o nível de lucratividade dos principais pares globais, que apresentam uma margem Ebitda superior a 30%”, disse a Sinqia, no seu balanço do segundo trimestre.
Para o analista de renda variável Pedro Martins, da ACE Capital, a Sinqia é uma empresa interessante para o investidor porque possui um “crescimento contratado” para os próximos anos, pois, à medida que as empresas adquiridas vão sendo incorporadas, os resultados tendem a melhorar.
“Eles continuarão com as aquisições, e, como a base de clientes deles é grande, conseguem vender seus ‘novos’ produtos de uma forma eficiente e rápida”, disse.
E o caixa da Sinqia?
Quem vive de aquisições precisa de caixa. Faria afirma que a empresa possui atualmente entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões disponíveis para aquisições.
Contudo, caso a empresa resolva fechar negócio com as 10 companhias que possuem conversas adiantadas, o dinheiro não seria suficiente para todas as aquisições.
Diante disso, Faria cita duas formas de levantar dinheiro: ou emitindo novas ações (follow-on) ou via emissão de um título de dívida. Dentre as opções, o executivo acha mais viável a segunda. Atualmente a Sinqia possui uma debênture no mercado de R$ 250 milhões no mercado, com vencimento para daqui quatro anos.
Na prática, o investidor que compra uma debênture empresta dinheiro a uma companhia por um período predeterminado e é remunerado por isso com o pagamento de juros.
O diretor de RI acredita que a emissão de dívida é mais proveitosa do que um follow-on por acreditar que o preço atual da ação da empresa está barato. Portanto, se optasse por emitir mais ações, com o preço atual, acabaria captando menos do que consideraria justo.
De acordo com dados da plataforma do TradeMap, cada papel da empresa é avaliado em R$19,54, bem abaixo da máxima histórica de R$ 30,09, atingida em julho do ano passado. “Não temos apetite para este preço atual”, afirma Faria.
O executivo acredita também que há espaço para a ação voltar a patamares próximos dos R$ 30 após a eleição, acreditando que pode haver um rally na Bolsa, impulsionada por investidores estrangeiros.
O analista da ACE Capital tem um preço-alvo de R$ 26 para ação no médio prazo, um pouco abaixo do que projeta o executivo da Sinqia.
“Definindo o presidente e a equipe econômica, os investidores vão investir no Brasil. O dinheiro virá, resta saber quando, como e de que forma. Como as small caps [empresas de menor valor de mercado] são mais voláteis, tendem a subir um pouco mais, então esperamos capturar bastante desse valor”, afirma Faria, da Sinqia.
Reforços em campo
Além da fome de aquisições, a Sinqia tem como foco melhorar a eficiência interna da companhia e, para isso, tem contratado executivos experientes no mercado. Faria cita a entrada do antigo head do serviços de Cloud na Google do Brasil, João Bolonha, para ser vice-presidente da Sinqia.
A entrada de Bolonha no time animou os analistas do Itaú BBA. Em um relatório publicado no início de outubro, os analistas Thiago Kapulskis e Cristian Faria afirmaram que a entrada da executivo mostra que a empresa está se preparando para uma próxima geração tecnológica.
No relatório, os analistas do banco destacam que a “formação estratégica organizacional de Bolonha é muito rica”, dada sua experiência prévia.
Para eles, o executivo possui a capacidade de transformar completamente a Sinqia, trazendo a possibilidade de vender mais de um produto, de maior valor e mais sustentáveis, para o mesmo cliente. “Há também uma oportunidade de fomentar o mercado de desenvolvedores no Brasil, que possui mais de 600 profissionais”, destacaram no relatório.
Martins, da ACE Capital, considera que a adição de Bolonha e também de Claudio Prado, ex-Fleury na empresa, são “interessantes”, por se tratarem de nomes de peso. “Acho que a Sinqia está pronta para crescer mais”, complementa.
Dividendos da Sinqia
Desde que estreou na Bolsa, em 2013, a Sinqia pagou proventos aos acionistas em todos os anos, com execeção de 2019. A empresa paga, atualmente, o mínimo exigido para os dividendos: cerca de 25% do lucro líquido.
De 2018 pra cá, por exemplo, já pagou R$ 7,5 bilhões entre dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP), em valores que variam de R$ 0,01 e R$ 0,06 por ação.
Emerson Faria acredita que, pelo fato de a empresa ainda utilizar seu lucro para reinvestir na própria operação, não deverá ser uma grande pagadora de dividendos nos próximos cinco anos.
“A Sinqia é um super gerador de caixa. A partir do momento que parar de crescer, deve pagar bons dividendos”, afirma Martins, da ACE Capital.