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Sem trégua: IPCA acelera para 1,62% em março, maior para o mês desde 1994

Transportes e alimentos representaram 72% da alta, que veio acima do esperado pelo mercado

Foto: Shutterstock

A inflação voltou a avançar a um ritmo acima do esperado pelo mercado, em meio ao reajuste dos preços dos combustíveis pela Petrobras e à disparada nos preços dos alimentos.

Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de março subiu 1,62%. É a maior alta para o mês desde 1994, antes da implantação do Plano Real.

O número representa uma aceleração em relação a fevereiro, quando os preços subiram 1,01%, e veio acima do esperado por analistas ouvidos pela Reuters, que acreditavam em uma alta de 1,3%. No acumulado do ano, o IPCA acumula aumento de 3,20% e, nos últimos 12 meses, de 11,30%.

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Veja abaixo o comportamento dos preços mês a mês de abril de 2021 para cá:

gráfico com histórico de variação mensal do IPCA
Fonte: IBGE

Transportes e alimentação puxaram alta

De acordo com o IBGE, os principais impactos vieram de transportes (3,02%) e alimentação e bebidas (2,42%). Juntos, os dois grupos contribuíram para 72% do IPCA do mês.

“Tivemos um reajuste de 18,77% no preço médio da gasolina vendida pela Petrobras para as distribuidoras, no dia 11 de março. Houve também altas nos preços do gás veicular (5,29%), do etanol (3,02%) e do óleo diesel (13,65%)”, apontou o gerente do índice, Pedro Kislanov, no material de divulgação do IPCA. “Além dos combustíveis, outros componentes ajudam a explicar a alta nesse grupo, como o transporte por aplicativo (7,98%) e o conserto de automóvel (1,47%)”.

Já em alimentos e bebidas, o vilão da inflação (ou seja, que teve maior impacto no IPCA do mês) foi o tomate, cujos preços subiram 27,22% em março. De acordo com o IBGE, a cenoura avançou mais 31,47%, e já acumula alta de 166,17% em 12 meses. Subiram também os preços do leite longa vida (9,34%), do óleo de soja (8,99%), das frutas (6,39%) e do pão francês (2,97%).

“Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram uma pressão inflacionária. Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, avaliou Kislanov.

Mais pressão sobre o Copom

A surpresa de março faz crescer a pressão para que o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) leve os juros a um patamar além de 12,75% ao ano – esse é o nível que o BC vem afirmando que é suficiente para entregar a inflação na meta em 2023.

Atualmente, os juros estão em 11,75% ao ano, e o BC já contratou uma nota alta de 1 ponto percentual na próxima reunião, sinalizando que o ciclo de aperto monetário deve parar por aí. Analistas ouvidos pelo Boletim Focus, entretanto, já esperam uma taxa em 13% ao ano.

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“A leitura preliminar dos dados reforça a perspectiva de que a autoridade monetária terá que de fato subir a Selic também na reunião de junho”, avaliou o economista-chefe da Necton, André Perfeito. “Ou seja, teremos uma alta de 100 pontos base em maio, fazendo a Selic subir para 12,75%, e mais outra de pelo menos 50 pontos em junho, o que fará a taxa chegar em 13,25%”.

A Necton revisou o IPCA para o final deste ano de 6,77% para 7,4%.

Por que esse dado é importante?

Indicações de uma inflação maior ou menor afetam os juros futuros, e o IPCA é o indicador oficial acompanhado pelo Banco Central para as decisões de política monetária. Uma variação de preços mais expressiva do que o esperado pesa a favor de altas mais fortes na taxa básica de juro, a Selic, e vice-versa. Quando há uma inflação menor, a tendência é que seja desnecessária uma alta de juros maior à frente.

Os juros futuros, por sua vez, afetam diretamente a Bolsa, já que o cálculo do valor atual de uma empresa é feito também com base no quanto ela gerará de valor lá na frente. Essa estimativa é trazida a valor presente através de uma taxa de desconto, que em geral corresponde aos juros de longo prazo.

Além disso, uma inflação elevada como a que temos hoje tende a corroer o poder de compra da população, o que é uma má notícia em especial para empresas ligadas a consumo.

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