Sem surpresa: Ibovespa fecha em forte baixa; turismo e shoppings lideram perdas

Depois de passar o dia todo no vermelho, o Ibovespa não conseguiu inverter o sinal e fechou o pregão desta segunda-feira, dia 20, em forte baixa de 2,03%, aos 105.019 pontos.

A queda desta segunda, na visão de Rafael Ribeiro, analista de investimentos da Clear Corretora, coloca o índice em uma situação complicada do ponto de vista da análise técnica. “Graficamente falando, eleva a probabilidade de retorno para a mínima do ano, em linha com sua tendência de baixa de curtíssimo prazo e em vista da perda do suporte intermediário”, explica.

O movimento veio em linha com os mercados internacionais, que têm sofrido com o aumento dos temores em torno da variante Ômicron do coronavírus. Em Wall Street, o S&P 500 fechou o dia em baixa de 1,14%, o Dow Jones, de 1,23%; e o Nasdaq, de 1,24%. Na Europa, o Euro Stoxx caiu 1,3%; o FTSE 100, de Londres, recuou 0,99%, e o DAX, da Alemanha, perdeu 1,88%.

O dólar, por sua vez, terminou o pregão com alta de 1,02%, a R$ 5,7431, perto da máxima do ano.

No centro das preocupações estão os temores em torno da variante Ômicron do coronavírus, depois de uma série de países europeus ter endurecido medidas para conter a disseminação do vírus. A Holanda, por exemplo, decretou quarentena, enquanto França e Áustria aumentaram as restrições a viagens internacionais.

O fato de ser inverno no Hemisfério Norte piora a situação e ameaça a capacidade de atendimentos dos hospitais, segundo Túlio Nunes, especialista de finanças da Toro Investimentos. Nunes menciona ainda as festas de fim de ano como um fator que pode intensificar o contágio.

Além da aversão global ao risco, mais fatores internos ajudam a azedar o humor do mercado brasileiro. Na visão de Nunes, “além das condições macroeconômicas deterioradas como alta inflação, elevação nos juros e atividade estagnada, o mercado espera um ano de volatilidade em 2022 devido às eleições presidenciais que se aproximam”.

Nesta manhã, o Banco Central (BC) divulgou a última edição do boletim Focus, que compila as expectativas do mercado para os principais indicadores da economia. As projeções para o IPCA de 2021 passaram de 10,05% para 10,04%, enquanto as estimativas para o PIB caíram de 4,65% para 4,58%.

Nos Estados Unidos, o pacote de infraestrutura do presidente Joe Biden, que parecia garantido, voltou a ser ameaçado após o senador democrata Joe Manchin ter se mostrado contrário ao projeto, fazendo com que o partido precise voltar às negociações.

A partir desta segunda, tem início um movimento de diminuição de liquidez nos mercados com a aproximação das festas de final de ano.

No fechamento de hoje, as maiores baixas foram de CVC Brasil (CVCB3), Locaweb (LWSA3) e CSN (CSNA3), que perderam 8,76%, 7,13% e 6,91%, respectivamente. As únicas ações a fechar em alta, por outro lado, foram JBS (JBSS3), Eneva (ENEV3), Minerva (BEEF3) e Braskem (BRKM5), com ganhos de 1,43%, 1,29%, 1,21% e 0,47%.

Destaques

A possibilidade de novas restrições e bloqueios para conter a disseminação do vírus impactou especialmente ações de companhias aéreas, shoppings e educação, tanto no Brasil quanto no exterior. Azul (AZUL4) fechou em baixa de 3,58%; Gol (GOLL4) caiu 4,24%; BR Malls (BRML3) perdeu 6,66%; Multiplan (MULT3) teve recuo de 4,66%; Ânima (ANIM3) caiu 4,37%; e Cogna (COGN3) teve queda de 1,95%.

“O mercado global, inclusive o Brasil, está apreensivo com a velocidade da disseminação da nova variante do coronavírus, o que pode desencadear medidas mais restritivas na circulação de pessoas. Os setores mais prejudicados estão ligados justamente à reabertura da economia, como turismo e companhias aéreas”, afirmou Tulio Nunes, especialista em finanças da Toro Investimentos.

A CVC Brasil, por sua vez, foi especialmente afetada pela suspensão de todas as operações da Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), anunciada pelo Grupo Itapemirim na sexta-feira, dia 17.

A suspensão das atividades da ITA surpreendeu a CVC (CVCB3), disse a agência de viagens, que precisou criar uma operação especial para dar apoio aos clientes prejudicados.

Na análise de Carlos Eduardo Daltozo, diretor da área de renda variável da Eleven, em entrevista à Agência TradeMap, a suspensão da ITA, que afetou pacotes de viagens vendidos pela CVC, deve ser encarado como um “sinal amarelo” para a agência de turismo. “Há dois anos, houve o problema da Avianca e agora este. Eles precisam ter mais critérios para escolher os parceiros”, diz. A Eleven, porém, mantém recomendação de compra para o papel.

A forte queda do minério de ferro e do petróleo também exerce impacto sobre a bolsa brasileira, diz Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, pois as maiores empresas do Ibovespa atuam no setor. O petróleo Brent fechou em baixa de 2,72%, a US$ 71,52, e o WTI caiu 2,98%, a US$ 68,61. Gigantes do setor, a Vale (VALE3) fechou em baixa de 1,12%, a R$ 78,28, enquanto a Petrobras (PETR4) caiu 2,86%, a R$ 28,16.