Os juros no Brasil precisam cair para abaixo de 10% ao ano para que o investidor fique mais inclinado a ativos de risco, como as ações, segundo avaliação da BlackRock, uma das maiores gestoras de recursos do mundo (US$ 8,5 trilhões).
“Enquanto a Selic estiver alta, a propensão de assumir risco é baixa. Para os clientes voltarem a tomar risco, a taxa tem que ser ao menos abaixo de 10%”, diz Karina Saade, presidente da BlackRock no Brasil.
A taxa Selic está atualmente em 13,75% ao ano. A expectativa era de que o Banco Central (BC) começasse a reduzir os juros a partir de meados do ano que vem.
No entanto, diante da incerteza fiscal agravada pelas discussões sobre a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Transição, o temor é que essa redução demore mais.
Embora não saiba precisar quando os juros irão ceder, a executiva acredita que estruturalmente as taxas devem voltar para a casa de um dígito, retomando a tendência de maior busca por ativos de risco.
“Estruturalmente a Selic não vai permanecer em mais de 10% no médio e longo prazos. Então vamos retomar essa tendência”, diz.
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Para o estrategista-chefe de investimentos para a América Latina, Alex Christensen, o Brasil não é o único país a enfrentar maior pressão por gastos sociais e o impacto no social.
“O Brasil não está sozinho nas pressões fiscais. Outras economias passam o mesmo, como o Chile e Colômbia, que enfrentam pressões por gastos sociais. Mesmo entre os desenvolvidos, olhe o que ocorreu no Reino Unido sobre gastos adicionais”, diz.
Em setembro, o Reino Unido viu as taxas de juros disparar depois de o governo da ocasião apresentar um plano econômico que previa aumento significativo nos gastos públicos sem uma contrapartida do lado da receita. A turbulência foi tanta que exigiu uma intervenção do banco central no mercado.
Redução da custódia
A BlackRock, assim como outros gestores, sentiu os efeitos dos juros em patamar elevado.
A empresa possui no Brasil 101 BDRs (recibos de ativos negociados no exterior) lastreados em ETFs (fundos que replicam índices) e viu o patrimônio sob custódia desses ativos sair de R$ 5,4 bilhões entre o final de 2021 e início de 2022 para R$ 2,7 bilhões.
“Mas essa é uma dinâmica de mercado onde existe um sentimento generalizado de risk off (aversão ao risco) e há também a taxa de juros que faz com que o custo de oportunidade seja muito maior. É natural esse movimento”, diz Paula Salamonde, responsável pela área de ETFs da BlackRock no Brasil.
A expectativa é que esse volume volte a crescer à medida que as incertezas se reduzam e os juros voltem a cair.
Mega tendências
Em termos de alocação e ferramentas para a estratégia dos investidores, a BlackRock irá continuar apostando em 2023 nas mega tendências, que são teses de investimento que observam as mudanças estruturais de longo prazo.
São cinco: inovação tecnológica; rápida urbanização, que demanda investimentos em infraestrutura; aumento da riqueza em economias emergentes, aumentando o consumo; mudanças demográficas; mudanças climáticas e escassez de recursos.
Todas essas teses são muito atreladas ao mercado global, já que o Brasil não possui empresas com exposição nessas áreas. Por essa razão, a BlackRock acredita que os BDRs e ETFs é que serão os instrumentos para que os investidores consigam tirar proveito dessas tendências.
“Essas mega tendências são complementares à estratégia local. É uma estratégia secular de longo prazo que não é dependente apenas dos movimentos cíclicos”, diz Cristiano Monteiro de Castro, diretor da BlackRock.