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Produção de carros é a melhor em 20 meses, mas juros altos atrapalham vendas, diz Anfavea

Brasil produziu 219 mil unidades no período com melhora na entrega de semicondutores; crise na Argentina prejudica exportações

Foto: Shutterstock

A despeito do arrefecimento da crise de semicondutores elevar a produção de veículos no Brasil em julho para o melhor resultado desde novembro de 2020, os impactos do aumento dos juros, sobretudo nos consumidores da classe média, acendem um sinal de alerta no setor automotivo.

Esta foi a avaliação do presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Autoveículos), Márcio de Lima Leite, durante apresentação na manhã desta sexta-feira (5) dos números da entidade no mês passado. “A alta dos juros gera uma questão de maior dificuldade de acesso ao crédito, e o nosso setor depende fundamentalmente do crédito”, afirmou.

As vendas em julho somaram 182 mil unidades, alta de 2% em comparação ao registrado em junho, e o segundo melhor mês para o ano. Apesar do resultado positivo, a Anfavea chamou a atenção para o aumento da disparidade nas modalidades de venda.

Em julho, as comercializações a prazo corresponderam por 35%, enquanto os pagamentos à vista ficaram em 65%. No mesmo mês de 2020, com os juros na casa de 2,25% ao ano, a situação era a oposta, com mercado a prazo prevalecendo sobre as vendas à vista.

Segundo Moraes, esse comportamento indica as dificuldades encontradas pelos consumidores para a compra de veículos novos diante da Selic a 13,75% ao ano. Neste nível, a taxa básica de juros deixa as taxas de financiamento de automóveis perto de 30% ao ano.

“Se o consumidor final não tem crédito, nós deixamos cada vez mais os automóveis passarem a ser produtos para quem tem disponibilidade de caixa”, afirmou. “Com isso, nós geramos um afastamento do consumidor de classe média, e isso gera diversos efeitos na questão de volume, na descarbonização e na geração de empregos.”

Além dos juros altos, o presidente da Anfavea apontou as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) como um dos principais desafios para a disponibilidade de crédito.

Segundo Moraes, atualmente o consumidor precisa pagar o IOF em três fases: no momento da venda da montadora para a concessionária, na compra de fato do veículo e, por último, na contratação do seguro. “Nesse momento, há uma necessidade de redução do IOF para aumentar as vendas e retomar o crédito aos consumidores”, afirmou.

A questão tributária foi alvo de reunião entre a Anfavea e o ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta quinta-feira (4). “Pode ser uma medida temporária ou definitiva, mas é importante para o setor, além da redução da taxa de juros”, afirmou.

Em julho, o mercado teve uma venda média de 8,7 mil unidades por dia, o melhor desempenho desde o início do ano. Para alcançar a meta de 2,14 milhões de unidades comercializadas em 2022, a Anfavea estima que as vendas mensais devam crescer em uma ordem linear de 13% ao mês até dezembro.

Segundo Moraes, a meta é possível, desde que não haja mais interrupções na cadeia de insumos tecnológicos. “70% dependem de semicondutores e 30% de juros e financiamento. Esses são os principais fatores para se chegar a esses números perseguidos pela Anfavea”, disse.

Melhor produção em 20 meses

Em julho, o país produziu 219 mil veículos, o melhor resultado desde novembro de 2020. Segundo a Anfavea, o bom desempenho tem ligação direta com o arrefecimento da crise de semicondutores do mercado asiático, o principal entrave para a derrubada do setor em 2021.

A tendência para agosto é de melhora na entrega dos equipamentos econômicos com o período de férias na Europa e nos Estados Unidos, o que tende a favorecer o embarque dos produtos ao mercado brasileiro. “Nesse momento ainda há fábricas paradas. É um sinal de que a crise de desabastecimento continua impactando, apesar de apresentar melhora”, afirmou Moraes.

Segundo o presidente, a tendência é de normalização da cadeia ao longo dos próximos meses, com o reestabelecimento da normalidade apenas no segundo semestre de 2023. 

Crise na Argentina afeta exportações

As exportações em julho totalizaram 42 mil veículos, 11,4% a menos que junho e 76,3% abaixo do registrado no mesmo mês de 2021. O recuo ocorreu após três meses seguidos de aumento e tem ligação direta com o agravamento da crise financeira na Argentina, que atualmente corresponde por 30% das exportações de veículos brasileiros.

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Segundo a Anfavea, a produção da Argentina caiu, em julho, 9,1%, enquanto as vendas retraíram 21% e as exportações tombaram 28,2%. “O principal país da exportação argentina é o Brasil, são pilares extremamente importantes”, disse Moraes, ao justificar que a queda das atividades dos vizinhos afeta diretamente o mercado doméstico.

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