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Por que o Itaú (ITUB4) turbina a carteira de crédito mesmo com um discurso de cautela

A expectativa do banco é que a carteira de crédito cresça entre 15,5% e 17,5% em 2022

Foto: Divulgação

O Itaú Unibanco, que publicou resultados para o segundo trimestre na noite de segunda-feira (8), surpreendeu o mercado ao anunciar uma projeção mais otimista para o tamanho da carteira de crédito ao final do ano, mesmo em um cenário marcado pelo aumento da inadimplência em todo o setor financeiro.

Até então, o banco acreditava que a carteira de crédito teria uma expansão entre 9% e 12% em 2022. Agora, a expectativa é que o avanço fique entre 15,5% e 17,5%.

A revisão, é claro, reflete, em primeiro lugar, o que foi feito até aqui. Ao final do primeiro semestre, a carteira do Itaú já mostrou um crescimento superior ao que estava previsto, com uma expansão de 19,3% em relação ao que tinha um ano antes.

E o mais curioso é que entre as linhas de crédito que mais crescem estão aquelas ligadas ao consumo, como o cartão de crédito, que teve alta de 43,1%, e o crédito pessoal, com avanço de 33,8% – que, em tese, são as de maior risco.

O que não mudou no banco foi o discurso. Desde o início do ano, o Itaú tem pregado cautela. Como a inadimplência tem subido, em um cenário de juros e inflação em alta, o banco lembra que a renda dos brasileiros está mais pressionada e, portanto, não é o momento de ser agressivo na concessão de crédito.

O investidor, então, pode se perguntar: por que o Itaú elevou a sua projeção para a carteira de 2022, com empréstimos para consumo que crescem com mais força, se os brasileiros estão atrasando mais o pagamento de suas dívidas?

Em coletiva de imprensa na manhã, o CEO do banco, Milton Maluhy Filho, respondeu a esta pergunta e dividiu a sua explicação em quatro pontos:

Inflação

O primeiro ponto é a aceleração dos preços no Brasil. A carteira de crédito de qualquer banco é sensível à inflação. Se os preços sobem e as pessoas passam a pagar mais caros pelos produtos, o dinheiro que os bancos emprestam para a aquisição de qualquer bem também será maior.

“No início, quando fizemos nossa primeira projeção para a carteira de crédito, estávamos considerando que a inflação de 2022 ficaria em torno de 5%. Agora, estamos prevendo algo em torno de 8%”, disse o executivo.

Não por acaso, as linhas de crédito ligadas ao consumo estão entre as que mais crescem, também impulsionadas por um início de recuperação da demanda do consumidor no Brasil, que é beneficiada pela redução da taxa de desemprego, que caiu para 9,3% no segundo trimestre, e pela reabertura da economia com o arrefecimento da pandemia.

“O crédito para o consumo cresce porque há uma retomada do consumo junto com mais inflação”, ele disse.

O executivo, além disso, ressaltou que o cartão de crédito é uma linha em que a maior parte dos clientes não paga juros. “Dos R$ 124 bilhões que temos na carteira do cartão de crédito, R$ 101 bilhões não pagam juros”, disse o executivo, dando o exemplo de compras que são parceladas sem juros.

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Recuperação da participação de mercado

Segundo o CEO do Itaú, nos anos de 2020 e 2021, quando a pandemia passou por seus piores momentos, o banco adotou uma postura mais cautelosa que a média do mercado, com uma desaceleração “consciente” da concessão de crédito, aliada a uma renegociação de empréstimos já concedidos.

“Até o ano passado, nossas carteiras vinham tendo uma performance de crescimento inferior à indústria”, disse.

Agora, explicou, o banco tem crescido com mais velocidade, em um processo de retomada da fatia de mercado que tinha antes da pandemia. “Estamos voltando ao que seria o nosso ‘share’ natural”, disse.

Novos públicos

Maluhy destacou também que a carteira de crédito do banco agora inclui clientes que antes não tinha, em especial no crédito consignado, que passou a ter novas regras e a abranger um público maior. “A margem consignável cresceu [para 40%] e tivemos a entrada de beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada)”, disse.

Ao final do primeiro semestre, a carteira de crédito consignado do banco cresceu 19,3%, para R$ 70,6 bilhões.

A força da renda mais alta

O CEO afirmou ainda que, no caso do cheque especial e do crédito pessoal, a maior parte do crescimento tem se concentrado nos clientes de renda mais alta do banco.

“No cheque especial, 80% da expansão se deu no segmento de renda mais alta, no Personnalité e no Uniclass”, disse. “Entre as micro, pequenas e médias empresas, 70% da originação de novos créditos se deu entre as empresas com mais faturamento”, disse.

Resultado: margem maior

O banco, é claro, também se beneficia do aumento dos juros no Brasil, cuja taxa básica saiu de 2% ao ano para 13,75% em cerca de um ano e meio. Com uma maior carteira de crédito, em especial em linhas de maior risco, que cobram juros mais altos, também cresce o quanto os bancos ganham – a chamada margem financeira.

No segundo trimestre, a margem financeira com clientes do Itaú cresceu 30,9% no segundo trimestre, na comparação anual, para R$ 21,9 bilhões.

A expectativa para a margem financeira com os clientes também foi elevada. Antes, esperava-se expansão de 20,5% a 23,5%. Agora, projeta-se aumento de 25% a 27%. A projeção para a margem financeira com o mercado foi mantida, em algo entre R$ 1 bilhão e R$ 3 bilhões.

Enquanto isso, a taxa de inadimplência cresce de forma controlada. No segundo trimestre, ficou em 2,7%, 0,10 ponto percentual acima do nível do primeiro trimestre. Para o CEO do banco, as taxas ainda devem subir mais um pouco, mas não devem ser superiores ao que se via antes da pandemia.

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