PIB forte do 2º trimestre deixa mercado mais otimista com resultado da economia em 2022

Economia deve perder fôlego a partir do final do ano, com previsão de crescimento bem menor em 2023

Foto: Shutterstock

Impulsionado por estímulos do governo e pela demanda reprimida por dois anos de pandemia de coronavírus, o PIB (Produto Interno Bruto) surpreendeu o mercado e mostrou um avanço de 1,2% no segundo trimestre, em um crescimento puxado por serviços, mas disseminado por quase todas as atividades.

O bom desempenho levou a reavaliações das expectativas para o indicador em 2022, com alguns bancos colocando viés de alta nas suas estimativas e outros mudando suas projeções para um avanço de mais de 3%.

Se hoje as expectativas para o crescimento da atividade neste ano estão em 2,10%, segundo o último Boletim Focus, economistas avaliam que a média das estimativas deve subir para 2,5% ou mais daqui para a frente.

Por outro lado, as más notícias devem começar a chegar a partir do final deste ano, segundo especialistas. A desaceleração da economia mundial, os juros altos e a incerteza das eleições devem frear a atividade, em especial no quarto trimestre, movimento que se intensificará no ano que vem – a expectativa de analistas ouvidos pela pesquisa Focus é de alta de 0,37%.

“O dado foi positivo, e deve estimular um movimento de revisões para cima das projeções para o PIB de 2022”, avalia o economista Daniel Sinigaglia, da Garde Asset Management. “Provavelmente uma alta de 2,5% vai se tornar piso.”

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A demanda que se acumulou durante os anos de pandemia (e que voltou neste ano com o avanço da vacinação) e os estímulos injetados na economia, como antecipação do 13º salário e liberação do saque do FGTS, explicam o bom desempenho da primeira metade do ano.

O aumento da atividade econômica foi puxado pelo desempenho do setor de serviços, que representa 70% do PIB e que subiu 1,3% no período, mas a indústria e agropecuária também contribuíram com avanço de 2,2% e 0,5%, respectivamente.

“Quando se olha o comportamento da indústria em detalhes, a conclusão é que todas as atividades cresceram, com exceção da administração pública”, avaliou Juliana Trece, economista da Ibre/ FGV. “De qualquer forma, os serviços continuam sendo o setor que mais contribui para o PIB como um todo.”

Consumo das famílias surpreende

As boas surpresas vieram principalmente do lado da demanda, com o consumo das famílias e os investimentos mostrando crescimentos robustos na comparação com o primeiro trimestre – as altas foram de 2,6% e 4,8%, respectivamente.

“A mensagem é de uma atividade que começa o segundo semestre mais resiliente, apesar de um conjunto grande de fatores que podem desacelerá-la”, diz Sinigaglia, da Garde, que deve revisar sua expectativa de alta do PIB deste ano de 2% para 2,5%.

Se os economistas são unânimes na constatação de que a atividade se comportou muito melhor do que o esperado entre abril e junho, se dividem na avaliação do que acontecerá daqui para a frente.

Ao mesmo tempo em que a demanda deve continuar sendo estimulada pelo Auxílio Brasil de R$ 600, jogarão contra a desaceleração da economia global, os juros altos, o esgotamento da demanda reprimida e a incerteza do cenário eleitoral.

Grandes bancos, como o Itaú Unibanco e o Santander, colocaram viés de alta em suas projeções para o ano, mas ao mesmo tempo destacaram que indicadores internos de atividade econômica apontam para uma perda de ritmo já a partir de julho.

O Itaú Unibanco afirmou que espera uma economia “relativamente estável” até o final do ano, e indicou que sua estimativa de alta de 2,2% deve ser revisada para cima.

“O estímulo fiscal provavelmente será compensado pelos efeitos da política monetária contracionista [ou seja, o aumento da taxa básica de juros, que tem efeito defasado sobre a atividade] e pela desaceleração da atividade global.”

De acordo com o banco, os indicadores diários coletados pela instituição apontam para desaceleração da atividade em julho e agosto. “Até o momento, não vemos efeito significativo do aumento de pagamentos e de beneficiários do programa Auxílio Brasil. No entanto, esperamos algum crescimento nos gastos reais ao longo dos próximos meses.”

O Santander também colocou viés de alta em sua projeção de alta de 1,9% do PIB neste ano, mas ressaltou que o nível elevado da atividade no mês de junho representa uma base de comparação mais forte para o terceiro trimestre (um efeito chamado de carregamento estatístico pelos economistas).

“No curto prazo, o carregamento estatístico da atividade em junho, junto com sinais de enfraquecimento da atividade apontados pelo nosso indicador corrobora um cenário de atividade esfriando”, disse o economista Lucas Maynard em relatório.

 

O Goldman Sachs revisou sua projeção para 2022 de 2,2% para 2,9% de crescimento neste ano.

“A inflação alta, os impactos recentes da política monetária restritiva, com condições gradualmente mais exigentes de crédito, a inadimplência elevada e a desaceleração em curso da economia global, além da incerteza eleitoral, provavelmente vão adicionar ventos contrários crescentes à atividade econômica”, ponderou o economista Alberto Ramos em relatório.

O Bank Of America foi o mais otimista, ao elevar sua projeção para o PIB de 2022 de uma alta de 2,5% para 3,25%. “A atividade começou 2022 em um ritmo forte, apesar do impacto inicial negativo da variante Ômicron, e manteve sua performance no segundo trimestre, com resultados ainda mais impressionantes”, afirmou o banco em relatório.

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