O lucro da Petrobras (PETR4) no primeiro trimestre foi grande. Tão grande que superou, por ampla margem, os resultados de petrolíferas mais bem estabelecidas e maiores do que a estatal brasileira.
No primeiro trimestre, o lucro da Petrobras foi recorde – de US$ 8,4 bilhões, quase 50 vezes maior que o observado em igual intervalo de 2021.
O resultado foi tão forte que superou os lucros reportados pela Shell e a Exxon Mobil, duas das maiores e mais tradicionais empresas petrolíferas do mundo.
Ambas tiveram receitas muito superiores às da estatal brasileira no primeiro trimestre, mas lucraram bem menos – US$ 7,1 bilhões e US$ 5,5 bilhões, respectivamente.
Esta discrepância deixou em destaque a diferença entre a margem líquida das companhias. Este indicador, que mede o porcentual de lucro em relação à receita, atingiu 30,91% na Petrobras no primeiro trimestre. Na Shell e na Exxon Mobil, as taxas foram de 8,46% e 6,08% respectivamente.
Alguns fatores ajudaram no desempenho das petrolíferas em geral, como a atual guerra no Leste Europeu.
Após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, os Estados Unidos e a Europa adotaram sanções econômicas que dificultaram o comércio dos russos com o exterior.
A Rússia, no entanto, é a maior exportadora mundial de petróleo e derivados, segundo dados da AIE (Agência Internacional de Energia).
A perspectiva de que as sanções ao país poderiam restringir a oferta destes produtos aumentou a demanda pelo petróleo vindo de outros lugares. Isto e a percepção de escassez futura fez com que o preço do barril chegasse perto de US$ 140 em meados de março, nível mais alto desde 2008.
Além disso, gigantes do mercado petrolífero, como Shell, British Petroleum (BP), Equinor e TotalEnergies, anunciaram sua saída de negócios da Rússia, o que apertou ainda mais a oferta e ocasionou perdas nos resultados dessas empresas.
Petrobras aproveitou o vácuo
Na Petrobras, o preço médio de venda do barril no primeiro trimestre subiu, para US$ 101,60 – valor 27,2% superior ao do quarto trimestre de 2021. Ao mesmo tempo, o custo de produção caiu 5%, devido à menor importação de gás natural.
A combinação de maiores receitas com menores custos ajudou a estatal a ampliar a margem bruta, que mostra a rentabilidade das vendas (receita de venda/custos de venda). No primeiro trimestre a empresa a obteve uma margem bruta de 53,02%, avanço de 9 pontos percentuais (pp) em comparação com último trimestre de 2021.
O cenário também contribuiu para aumentar as exportações da Petrobras, principalmente para a China – que passou a representar 56% do total de volume exportado, frente aos 38% do início de 2021.
Os custos de extração cresceram, em 16% na mesma comparação, devido à necessidade de maior produção, mas foram mais do que eclipsados pelo crescimento de 23,7% na receita obtida com as vendas ao exterior.
Este avanço fez com que a empresa, ao final do primeiro trimestre, reportasse receita de US$ 24 bilhões, 13,1% superior à do quarto trimestre de 2021 e 73% maior em comparação com mesmo período de 2021.
Somando isso às perdas das concorrentes, a Petrobras se destacou entre os maiores lucros obtidos do setor no início deste ano.
Qual a principal fonte de lucro da Petrobras?
A empresa atua em três segmentos:
- Exploração e Produção (E&P) – Abrange a exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e de gás natural, em terra e no mar para comercialização do petróleo bruto.
- Refino, Transporte e Comercialização (RTC) – Contempla atividades de refino, logística, transporte, aquisição e exportação de petróleo bruto, assim como a compra e venda de produtos derivados do petróleo e etanol, no Brasil e no exterior.
- Gás & Energia (G&E) – Abrange as atividades de logística, comercialização de gás natural e energia elétrica, transporte e comercialização de gás natural liquefeito (GNL), geração de energia através de usinas termelétricas, processamento de gás natural, bem como participação em sociedades transportadoras e distribuidoras de gás natural no Brasil e no exterior.
Na análise dos resultados por segmento, podemos ver que a receita de RTC é a maior, porém os altos custos e despesas da operação fazem com que o lucro líquido desta vertical represente apenas 20% do total gerado pela empresa.
Mesmo que o preço interno de transferência de petróleo para o RTC tenha sido 7,58% menor do que o valor médio do Brent praticado pelo segmento de E&P, o segmento de refino apresentou uma margem líquida de 8%, 1 p.p. menor em comparação com o primeiro trimestre de 2021.
Isso significa que, mesmo diante do aumento nos preços de combustíveis e outros derivados de petróleo no período, a alta foi insuficiente para segurar a rentabilidade.
O maior responsável pelo lucro gerado neste trimestre foi mesmo o segmento de E&P, negócio principal da empresa e que teve um resultado final de US$ 7,95 bilhões – ou cerca de 80% do lucro líquido da Petrobras.
Com isso, o segmento de E&P reportou margem líquida de 40,6% neste primeiro trimestre de 2022, 6,7 p.p. superior em comparação com mesmo período de 2021.
Portanto, pode-se dizer que a maior parte do lucro da Petrobras é derivada da comercialização e exportação do petróleo bruto, e não do repasse do petróleo refinado para o consumidor final.
O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, enxerga o assunto sob um prisma diferente, e tem feito trocas no comando da Petrobras para demonstrar sua insatisfação com a política adotada pela empresa para os preços de combustíveis.
A mais recente delas foi anunciada ontem à noite, cerca de 40 dias depois de o atual presidente da estatal, José Mauro Ferreira Coelho, ter assumido o cargo.
Sob a política de preços atual, a Petrobras vende gasolina e diesel no mercado interno por valores equivalentes aos praticados no exterior. A companhia alega que isto é necessário para manter o mercado brasileiro abastecido por importadores, visto que, sozinha, a estatal é incapaz de suprir a demanda brasileira por combustíveis.
O último aumento nos preços dos combustíveis feito pela Petrobras foi o do diesel, no início de maio. Ainda assim, o valor do combustível vendido no Brasil está 1% abaixo do praticado no exterior, segundo dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).
Os preços da gasolina, que foram reajustados pela última vez em março, estão 2% menores que os do mercado internacional, também de acordo com dados da Abicom atualizados nesta terça-feira (24).
Visão do Mercado
De acordo com dados compilados pela Refinitiv e apresentados na plataforma TradeMap a recomendação dos analistas para o papel é de compra.
Dos 11 analistas consultados, um recomenda forte compra, sete recomendam compra e três preferem a manutenção do papel em carteira.
O mercado não viu com bons olhos a troca do presidente da estatal e nesta terça-feira (24), por volta das 11h33, o papel estava cotado à R$ 31,29, queda de 3,89%.
Dos resultados obtidos pelos analistas, a mediana do preço-alvo é de R$ 38,05 com uma valorização potencial de 21,43% para o papel.