Desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) acumulam desvalorização de mais de 30%. As ações baratas, no entanto, já não compensam os riscos, diz a Órama Investimentos, que passou a recomendar a venda das ações.
“Para que as ações da Petrobras de fato representem um investimento atrativo, teríamos que ter alguma confiança de que a Petrobras de amanhã seguirá sendo a mesma empresa de hoje. É neste ponto que tendemos a discordar”, afirma Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, em relatório publicado nesta quinta-feira (24).
Por isso, a corretora passou a recomendar a venda do papel, e espera que a ação preferencial (PETR4) alcance o valor de R$ 22 daqui a 12 meses – o que representa queda de 6% na comparação com o preço da ação no fechamento de quarta-feira (23), de R$ 23,44.
O principal temor, na visão da corretora, é que, com a eleição de Lula, a Petrobras reverta avanços conquistados nos últimos anos, como a redução dos custos de produção, a diminuição do endividamento e a venda de ativos menos lucrativos, como refinarias e gasodutos.
Outra preocupação diz respeito à política de preços da companhia, que hoje adota a paridade internacional, abordagem que leva em consideração o preço de aquisição do combustível mais os custos de sua entrega. “Um retorno ao combustível subsidiado pela Petrobras certamente traria perdas financeiras robustas”, avalia a Órama.
A corretora aponta ainda a possibilidade de um aumento nas despesas gerais, com mais contratações de pessoas e serviços, e uma maior participação do governo nos acordos de compartilhamento de produção, gerando perdas à estatal.
“Vemos, na possibilidade de adoção de algumas ou todas as práticas listadas, uma perspectiva de deterioração dos números da Petrobras, e com isso recomendamos a saída do papel”, conclui a corretora.
Onda de rebaixamentos
Na última segunda-feira (21), o banco de investimentos UBS-BB também passou a indicar a venda e cortou o preço-alvo dos papéis praticamente pela metade, em meio a receios sobre a mudança de direção que a empresa pode tomar com a troca do governo federal.
Até então, o UBS recomendava a compra das ações da companhia, citando como justificativas a melhoria operacional, a alta geração de caixa, o pagamento de dividendos significativos e a expectativa de valorização das ações.
“Seis anos se passaram [desde que começamos a avaliar a Petrobras] e agora acreditamos que estas etapas estão em um caminho de reversão, com os próximos anos parecendo mais sombrios do que os pontos altos que a Petrobras alcançou”, escreveram Luiz Carvalho Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos, analistas do banco.
Já Monique Grego, Bruna Amorim e Eric de Mello, analistas do Itaú BBA, mantiveram sua classificação neutra em relatório de quarta-feira (23), mas alertaram que nível de preço atual das ações ainda não incorpora os riscos da adoção de uma política de precificação mais extrema, como a baseada apenas nos custos de produção.
“Dada a incerteza em torno da política de preços da companhia e os potenciais impactos de cenários mais extremos, acreditamos que seja cedo demais para afirmar que o preço atual da ação está descontado o suficiente para acomodar todos os possíveis resultados deste risco”, afirmaram os analistas.