Pessimismo sem fim: 5 razões para o mau humor dos mercados nesta quinta-feira

Inflação acelerando e dados fracos de balanço elevaram (ainda mais) a preocupação dos investidores

Foto: Shutterstock

O pessimismo dos mercados com a perspectiva de uma recessão da economia mundial parece não ter fim, com a divulgação de seguidos indicadores ruins para a inflação e atividade nos EUA e na Europa, queda nas cotações de commodities, conflitos geopolíticos e aumento de casos de Covid-19 na China.

A isso, soma-se o início da temporada de balanços de empresas americanas para o segundo trimestre, já mostrando o impacto da disparada da alta de preços na maior economia do mundo sobre os resultados corporativos.

Nesse cenário, as bolsas americanas e europeias, que fecharam em queda ontem, amanheceram novamente de mau humor nesta quinta-feira (14). Por volta das 12h30, o Dow Jones caía 1,90%, o S&P 500 perdia 1,98% e o Nasdaq estava em queda de 1,88%. O EuroStoxx 50 também estava no vermelho, despencando 2,25%.

Por aqui, o Ibovespa recuava 2,35%, a 95.584 pontos, enquanto o dólar subia 1,11%, a R$ 5,46.

Veja abaixo, em detalhes, as razões do mau humor dos mercados nesta segunda.

Inflação do consumidor e produtor em alta

Os analistas de mercado vêm revisando para cima as projeções para a inflação nos Estados Unidos, mas sempre são surpreendidos com um quadro pior do que era esperado.

Ontem, a secretaria de estatísticas trabalhistas do país divulgou que o CPI (índice de preços ao consumidor) de junho avançou 1,3%, acima do esperado pelo mercado. Hoje, foi a vez do PPI (índice de preços ao produtor), que mostrou aumento de 1,1%, um quadro também pior do que o projetado.

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Após a divulgação, por volta das 11h30 desta quinta, 80% dos investidores já precificavam um aumento maior de juros, de 1 ponto percentual, na próxima reunião do Federal Reserve, o banco central americano, que acontece no final deste mês.

Discurso de Yellen

Na manhã desta quinta (14), a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, afirmou que a inflação no país está alta de forma “inaceitável”, e que apoia as ações do Federal Reserve para conter a escalada de preços.

Ela disse ainda que o mercado de trabalho americano está “forte” e “apertado” – o que significa poucos trabalhadores para as vagas disponíveis –, e que vive uma “recuperação histórica”, ao mesmo tempo em que frisou o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia para os preços.

“Estamos vendo os efeitos negativos dessa guerra em todos os cantos do mundo – particularmente no que diz respeito aos preços mais altos da energia e à crescente insegurança alimentar”, disse ela.

Juntamente com o dado ruim de inflação ao produtor, a fala foi vista como um novo sinal do tamanho das preocupações do governo americano com a alta de preços e de que o Fed não terá pudores de subir os juros de forma mais intensa, mesmo que isso custe o crescimento econômico.

Balanços ruins de bancos

Na manhã desta quinta, saíram os primeiros balanços financeiros de grandes bancos americanos para o segundo trimestre de 2022, e os investidores não gostaram do que viram: os primeiros sinais do que uma provável recessão nos EUA pode fazer com os resultados corporativos.

O JP Morgan, por exemplo, informou uma queda de 28% no seu lucro para o período, para US$ 8,65 bilhões, um resultado pior do que o esperado. A razão é que o maior banco americano fez mais provisões (reservas para calotes) para cobrir eventuais perdas de uma queda da economia.

O Morgan Stanley também entregou um lucro abaixo do esperado (US$ 2,4 bilhões), uma redução de quase 30% na comparação com o segundo trimestre de 2021.

Lockdowns (de novo) na China

A disparada de casos de coronavírus na China, país que tem uma política de “Covid zero”, elevou a ameaça de novos lockdowns rigorosos para conter a variante Ômicron na segunda maior economia do mundo.

Depois de passar boa parte de junho registrando algumas centenas de novos casos de Covid-19 por dia, a China reportou em cada um dos últimos oito dias pelo menos 3 mil recém-infectados pela doença. Ontem, o número estava em 3.506, segundo dados da universidade americana Johns Hopkins.

Isso equivale a menos de 10% dos casos diários registrados no Brasil, por exemplo, mas é algo que preocupa o mercado. Em abril, quando o índice diário de novas infecções na China estava perto de 14 mil, o país trancou a população de grandes cidades por quase dois meses em casa para baixar as contaminações, o que afetou particularmente o funcionamento do porto de Xangai.

Se os trabalhadores ficarem novamente trancados em casa, a expectativa é de nova desaceleração na atividade chinesa, e menor demanda por commodities. Segundo a Reuters, os preços dos contratos futuros de minério de ferro caíram nesta quinta ao menor nível em oito meses.

Europa vai crescer menos

Como se não bastasse, a Comissão Europeia informou hoje que subiu de forma significativa suas projeções para a inflação da Zona do Euro, ao mesmo tempo em que elevou sua expectativa para a inflação do bloco comercial em meio ao conflito sem data para acabar entre a Rússia e a Ucrânia.

Agora, a comissão espera que o CPI (índice de preços ao consumidor) da Zona do Euro alcance 7,6% em 2022 (ante projeção anterior de 6,1%). O indicador deve subir mais 4% no ano que vem (a expectativa anterior era de 2,7%).

Como resultado, o PIB da Europa deve crescer menos do que era esperado. A projeção para a alta da atividade no ano que vem foi reduzida de 2,3% para 1,4%.

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