A prestação de serviços subiu 0,2% em abril ante março, segundo dados divulgados nesta terça-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em comparação a abril do ano passado, o setor teve alta de 9,4%.
O resultado veio abaixo do esperado pelo mercado. Analistas ouvidos pela Reuters previam alta de 0,4% na base mensal, e de 10,4% em paralelo ao mesmo mês de 2021.
Apesar de indicar avanço do setor responsável pela principal fatia do PIB (Produto Interno Bruto) e que concentra o maior mercado de trabalho doméstico, os dados emitem sinais de alerta para a desaceleração da atividade.
Em março, o setor registrou alta de 1,4%, conforme dados atualizados, enquanto o acumulado entre janeiro e março a alta foi de 1,6%. No trimestre encerrado em abril, o avanço desacelerou para 0,7%.
Inflação e juros devem forçar desaceleração
A perda de força deve se intensificar nos próximos meses a partir do esgotamento dos efeitos das medidas de estímulo econômico injetadas pelo governo federal, como o reajuste do salário mínimo, a distribuição do Auxílio Brasil e a liberação dos saques do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Somada a essa perda de gás está a continuidade da inflação em patamares elevados, que deve manter a corrosão do poder de compra dos brasileiros, e a manutenção dos juros acima de 13% ao ano por mais tempo do que o previsto inicialmente, impactando diretamente no encarecimento da tomada de crédito e na desaceleração das atividades econômicas.
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Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, um dos indicativos desta diminuição do fôlego está no avanço de apenas duas das cinco atividades pesquisadas pelo IBGE em abril na comparação mensal. Em março, todas haviam registrado expansão ante o mês anterior.
“O setor foi o grande destaque do lado da oferta no primeiro trimestre, mas deve ter uma contribuição menor no segundo”, diz. “A recuperação cíclica já está chegando no fim, e temos ainda um cenário de inflação alta, juros elevados e incerteza eleitoral”, completa.
Economia global pressiona
Além dos desafios do cenário doméstico, a prestação de serviços no Brasil também deve ter influência dos desdobramentos dos entraves da economia global.
O aumento dos juros americanos para além do esperado pode contratar uma recessão na maior economia do globo, e em consequência debilitar os demais países. Ainda há pressões vindas da China com a queda no ritmo de crescimento após a retomada de medidas de isolamento para conter o avanço da pandemia da Covid-19.
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A guerra na Ucrânia, que não apresenta resolução no curto prazo, também se mantém como um ponto de alerta em razão aos impactos na cotação de commodities, que em efeito dominó, impacta toda a cadeia de produção e logística global.
Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, afirma que o elevado nível de incertezas globais deixa o futuro dos serviços brasileiros ainda mais incerto. “O risco de recessão nos Estados Unidos é impossível não refletir na nossa economia”, diz.
Emprego e serviços às famílias trazem alento
Apesar do quadro pouco favorável à frente, alguns dados também trazem sinais de alento ao setor. Os serviços prestados às famílias, um dos mais beneficiados pela queda das medidas de lockdown, subiram 1,9% em abril e dão sinais de maior expansão nos próximos meses.
“[Os serviços prestados às famílias] seguem 9,6% abaixo do patamar pré-pandemia, indicando que ainda há espaço para recuperação nesse segmento”, afirmou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
A elevação do emprego no setor também é um indicativo de confiança dos empresários na manutenção das atividades, afirma Laatus. Em abril, o segmento de serviços teve 117 mil novas vagas com carteira assinada, o melhor desempenho do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
“As pessoas não vão contratar se não acreditam que a atividade vai melhorar”, afirma.