Nova surpresa positiva de serviços reforça resiliência da economia no 2º semestre

Setor, o mais importante para o PIB, cresceu 0,7% em agosto, bastante acima das expectativas do mercado

Foto: Shutterstock/WichitS

O novo avanço acima do esperado do setor de serviços em agosto reforça a tese entre os analistas de que a economia brasileira entrou no segundo semestre de 2022 com muito mais resiliência do que se havia projetado alguns meses atrás.

O impulso do setor, que representa 70% do PIB (Produto Interno Bruto) doméstico, é reflexo de menos pressão na renda das famílias após três quedas seguidas da inflação, além do mercado de trabalho mais aquecido e a demanda reprimida.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta sexta-feira (14), a receita do setor de serviços aumentou 0,7% em agosto na comparação com julho. O resultado já desconta a inflação do período.

A expectativa do mercado era que o dado mostrasse estabilidade, embora alguns bancos projetassem resultados mais fortes – como o UBS e o Goldman Sachs, que previam altas de 0,30% e 0,25%, respectivamente.

Na comparação com agosto de 2021, o setor de serviços faturou 8,0% a mais. No acumulado de 2022, a alta é de 8,4%, enquanto em 12 meses há avanço de 8,9%.

Com os resultados de agosto, a receita do setor está 10,1% acima do nível observado em fevereiro de 2020 – mês que antecedeu a pandemia de Covid-19 – e 0,9% abaixo do ponto mais alto da série histórica, de novembro de 2014.

Eduardo Vilarim, economista do Banco Original, destaca que a surpresa positiva veio dos serviços prestados às famílias, segmento para o qual projetava desaceleração após as recentes altas. “Este retrato reforça que as famílias estão trocando os gastos no varejo por serviços, que foi um setor ficou represado por conta da pandemia”, explica.

Mais dinheiro no bolso

No cenário macroeconômico, uma das principais contribuições para o quatro mês de alta dos serviços foi a queda da inflação medida pelo IPCA (Índice Nacioanl de Preços ao Consumidor Amplo) após o governo intervir diretamente no corte de tributos de combustíveis e energia elétrica, entre outros itens.

A variação de preços registrou queda 1,32% no terceiro trimestre deste ano, a maior já registrada para qualquer período de três meses da história, segundo dados do IBGE publicados nesta terça-feira (11).

Saiba mais:
IPCA registra maior deflação trimestral da história, mas alta deve voltar em outubro

“A queda no preço dos combustíveis libera mais renda para as pessoas, que acaba tendo um efeito de transbordo”, afirma Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, destacando o direcionamento dos recursos para outras áreas de consumo.

Além do corte do IPCA, a injeção direta de dinheiro via os benefícios sociais, a exemplo do Auxílio Brasil, também ajuda a sustentar a demanda pelo setor de serviços. “A economia está mais resiliente porque ninguém fazia ideia de que haveria um estímulo fiscal deste tamanho”, pontua o especialista.

Vilarim, do Original, também joga luz à melhora do mercado de trabalho nos últimos meses. A taxa de desemprego caiu para 8,9% no trimestre finalizado em agosto, menor nível desde julho de 2015. O dado anterior, do trimestre encerrado em julho, mostrava taxa de desemprego em 9,1%.

“O setor de serviços é muito intensivo para o mercado de trabalho, então temos esse jogo em que um acaba ajudando o outro”, explica.

Mudanças nas expectativas

A segunda surpresa positiva no setor de serviços deve levar à revisão das expectativas para a economia no terceiro trimestre e impactar na melhora para o PIB de 2022. A perspectiva do Banco Original é que a economia cresça 0,5% entre julho e setembro.

O dado, porém, pode ser revisado para cima com dados preliminares de setembro já indicando a manutenção do fluxo positivo no setor de serviços. Segundo Vilarim, o resultado de agosto já encomenda uma alta de ao menos 5,3% no setor de serviços no trimestre.

Para o ano, a expectativa ainda está em torno de 2,7% de crescimento, mas com perspectiva de ser corrigido para cima caso o quadro positivo se mantenha.

A situação é semelhante na análise da RPS Capital. A casa também projeta avanço de 0,5% do PIB no terceiro trimestre, com possibilidade de o número ser revisto para cima nos próximos dias.

“Vemos uma resiliência um pouco impressionante na economia. Isso nos faz acreditar que a chance de um crescimento [do PIB] próximo de 3% no ano não é desprezível”, diz Candido.

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Destaques econômicos – 02 de abril

Nesta quarta (02), o calendário econômico apresenta importantes atualizações que podem influenciar os mercados. Confira os principais eventos e suas possíveis repercussões:   04:00 –

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.