As ações da Alliar (AALR3) operam em queda de mais de 3% nesta quarta-feira (5) após um novo capítulo da disputa milionária entre os sócios minoritários da companhia e a MAM Asset Management, gestora de Nelson Tanure.
Desde o ano passado, a Alliar tem sido alvo de tentativas de aquisição. A Rede D’Or fez a primeira oferta e o Fleury indicou que teria interesse, mas quem levou foi Tanure. Ele comprou pouco mais de um quarto da companhia em agosto de 2021, o que lhe conferiu o status de maior acionista individual da Alliar.
A iniciativa fez outros acionistas se mexerem. Os dois médicos fundadores da companhia, Roberto Kalil e Sergio Tufik, se juntaram a 48 acionistas minoritários e fizeram um acordo para formar um bloco representando uma participação de 50,2% da Alliar, garantindo o controle do negócio.
O bloco, então, deu início a uma negociação com Tanure, que culminou com o anúncio de um acordo em dezembro: o empresário compraria a fatia deste bloco pagando R$ 20,50 por ação – quase o dobro dos R$ 11,50 que a Rede D’Or havia proposto, e o equivalente a R$ 1,27 bilhão. No entanto, o acordo previa que a compra poderia ser parcelada – uma parte agora e o restante num período de até dois anos.
O formato da proposta desagradou outros minoritários da Alliar (que ficaram de fora do bloco), que viram o acordo como uma tentativa de burlar uma regra que obrigaria Tanure a comprar a empresa inteira pelo mesmo valor proposto aos 50 acionistas.
Não por acaso, no dia seguinte ao anúncio do acordo, em dezembro, a ação da companhia caiu 20,4%, refletindo a venda do papel por investidores que tinham comprado a ação esperando que a empresa fosse adquirida na íntegra pelo empresário.
Tanure rebateu acusação
Diante da repercussão negativa desde então, a MAM Asset Management, gestora que representa Tanure na operação, divulgou um comunicado nesta terça-feira rebatendo a acusação.
Segundo a gestora, o acordo prevê a possibilidade de o empresário assumir o controle da empresa de imediato, mas incluiu a hipótese de parcelamento apenas para permitir a permanência dos acionistas do atual bloco de controle, “haja vista a sua importância para o desenvolvimento da companhia e a crença no seu potencial de crescimento”.
A MAM também reiterou que, se Tanure adquirir mais da metade do capital social da Alliar, “adotará imediatamente as medidas necessárias à realização de Oferta Pública de Aquisição de Ações”, conforme diz a legislação.
Conforme destacou a gestora no comunicado divulgado, o acordo “prevê a aquisição de até a totalidade de ações do bloco de controle”, mas não de todas. A oferta aos minoritários só seria obrigatória se Tanure aumentasse sua participação na Alliar para mais de 50%. Hoje, ele detém 27,60% da companhia.
Minoritários ainda estão preocupados
A Agência TradeMap conversou com gestores que investem em ações da Alliar sobre a manifestação da MAM. Eles não quiseram ser identificados por causa da sensibilidade do assunto, mas relataram que ainda têm ressalvas em relação ao acordo de Tanure com os controladores da Alliar.
Segundo os gestores, o ideal seria Tanure lançar a oferta ao preço de R$ 20,50 por ação para todos os investidores, evitando o tratamento desigual da proposta atual.
Um deles afirmou que acionistas controladores sinalizaram que vão rejeitar a opção de vender as ações da Alliar de forma parcelada. Se o bloco de controle vendesse todas os papéis de uma vez para Tanure, o empresário também teria que lançar uma oferta para os minoritários — o que custaria em torno de R$ 606 milhões a mais para Tanure e representaria lucro de 52% para o investidor que tivesse comprado a ação pelo preço de fechamento de terça, de R$ 13,51.
Vale destacar, porém, que ainda não se sabe se o bloco de controle venderá uma quantidade suficiente de ações a Tanure para forçá-lo a fazer uma oferta aos minoritários.
Outro gestor ressaltou que não está preocupado com este aspecto da operação. “Esperamos que os controladores atuais optem pela venda das ações agora”, afirmou. “Vamos descobrir isso passando à próxima etapa, que é a do Cade. Em breve vai ter um posicionamento dos acionistas. A coisa mais sensata [para os controladores] é vender tudo agora, e não daqui a dois anos.”
Na prática, esse gestor acredita que todos os minoritários poderão ser contemplados pela proposta de R$ 20,50 por ação na oferta.