Lula volta a pressionar por mudanças na meta de inflação e Ibovespa cai 0,91%, abaixo dos 108 mil pontos

Presidente reforçou tentativa de aumento do alvo da inflação após presidente do BC afirmar que medida não traria benefícios

Foto: Shutterstock/Immersion Imagery

O Ibovespa aprofundou o sentimento negativo dos investidores na parte da tarde e fechou em queda nesta terça-feira (14), influenciado pela volatilidade dos mercados globais e por novas pressões sobre a política monetária doméstica.

No mercado financeiro, destaque para a recuperação de empresas expostas ao minério de ferro, que voltou a fechar em alta, enquanto os papéis ligados ao petróleo foram na direção oposta em mais um dia de desvalorização para a commodity.

O principal índice da Bolsa brasileira encerrou a sessão com queda de 0,91%, aos 107.849 pontos e R$ 18,92 bilhões em volume negociado, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap.

O desempenho faz o Ibovespa recuar 0,21% na semana, enquanto na parcial do mês a queda é de 4,92%, e no ano, a desvalorização soma 1,71%.

Lula volta a pressionar mudanças em meta de inflação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a pressionar por mudanças na meta de inflação para o fim deste ano. Segundo matéria do Broadcast, da Agência Estado, o petista avisou a equipe econômica que quer aumentar o alvo em 1 p.p (ponto percentual), passando de 3,25% para 4,25%.

A pressão do Executivo no Banco Central (BC) reforça o temor dos investidores após sinalizações de trégua lançadas pelo presidente da autarquia, Roberto Campo Neto.

Ontem, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o presidente do BC disse que uma mudança da meta de inflação teria como “efeito prático a perda de flexibilidade”, em resposta às críticas que tem recebido do governo Lula pelo alto patamar dos juros na economia.

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Ele, no entanto, defendeu “aperfeiçoamento” no sistema de metas, mas disse que em nenhum momento isso significa revisar o patamar deste e do próximo ano para o controle da inflação.

O patamar é definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que, além de Campos Neto, é formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento). A mudança nas metas permitiria uma “aceitação” de inflação maior, abrindo em tese, caminho para uma queda mais rápida dos juros.

O colegiado se encontra nesta quinta-feira (16). A mudança de meta não está na pauta, mas pode ser incluída durante as discussões.

“Essa interferência do presidente na autonomia do Banco Central faz com que bolsa fique instável e caia”, explica Rodrigo Cohen, analista de investimentos e cofundador da Escola de Investimentos.

BB, mineradoras e siderurgias puxam Ibovespa

A alta do dia foi liderada pelas ações do Carrefour (CRFB3), com valorização de 2,92%. A companhia teve um quarto trimestre de 2022 com aumento das vendas líquidas, mas nova redução do lucro ajustado diante do aumento das despesas, de acordo com as expectativas do mercado.

Na sequência, Banco do Brasil (BBAS3) fechou com elevação de 2,34%. O banco registrou lucro líquido de R$ 9 bilhões no último trimestre do ano passado, avanço de 52,4% ante o mesmo período de 2021, acima da expectativa do mercado.

Em 2022, o lucro líquido ajustado do banco somou R$ 31,8 bilhões, expansão de 51,3% em relação ao ano anterior. Para Renan Manda e Matheus Guimarães, analistas da XP, o resultado do quarto trimestre indica que 2023 será operacionalmente “forte” na instituição.

“O perfil defensivo de sua carteira prevaleceu e levou a um índice de inadimplência de 2,5%, mesmo 0,17 ponto percentual acima do ano anterior, é bem abaixo de seus pares”, destacam os analistas.

A parte positiva do desempenho das ações também teve forte participação de mineradoras e siderúrgicas, refletindo a valorização do minério de ferro no mercado global. A tonelada da commodity fechou com alta de 0,41% no porto de Dalian, na China, cotada a US$ 125,67.

Destaque para a valorização de 0,32% da Gerdau Metalurgia (GOUA4), enquanto CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) avançaram 0,29% e 0,25%, respectivamente. A Vale (VALE3), companhia com maior peso no Ibovespa, subiu 0,45%.

Quedas do dia

Na ponta oposta, as baixas do Ibovespa foram divididas pela Méliuz (CASH3) e Raízen (RAIZ4), com queda de 7,45% cada. Na sequência, CVC (CVCB3) perdeu 6,72%.

O grupo de educação Yduqs (YDUQ3) caiu 6,41%. Ontem, a empresa anunciou a reorganização da sua estrutura de gestão, com a unificação de áreas de negócio presencial e digital. Segundo a companhia, a medida está em linha com a visão de médio e longo prazo.

As petroleiras também registraram um dia de queda em função da desvalorização do petróleo. O barril do Brent, usado como referência no mercado global, caiu 1,05%, a US$ 85,70, segundo dados da ICE.

A 3R Petroleum (RRRP3) perdeu 4,94%, enquanto a PRIO (PRIO3) cedeu 2,81%. Os papéis preferenciais da Petrobras (PETR4) fecharam o dia com desvalorização de 0,37%, e os ordinários (PETR3) caíram 0,60%.

Mercado global e criptos

As principais Bolsas globais fecharam sem direção definida com investidores digerindo dados da inflação de janeiro divulgados nesta manhã.

Em Wall Street, o Dow Jones perdeu 0,46%, enquanto o S&P 500 ficou estável com leve queda de 0,03% e a Nasdaq se valorizou 0,57%. No Velho Continente, o Euro Stoxx 50 valorizou 0,22%.

O índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos avançou 0,5% em janeiro, na comparação com dezembro do ano passado, em linha com o esperado pelo mercado, segundo dados divulgados nesta terça pela secretaria de estatísticas trabalhistas (BLS).

O núcleo de inflação (medida que exclui preços de alimentos e energia, que são mais voláteis) avançou 0,4%.

Nos dois casos, o aumento veio em linha com o esperado pelo mercado.

Invertendo o quadro negativo dos últimos dias, o mercado de criptoativos opera em alta. Por volta das 18h, o Bitcoin (BTC) subia 3,4%, a US$ 22,5 mil. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) ganhava 4,3%, próximo de US$ 1,5 mil.

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