O mercado tem certeza de que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, aumentará os juros amanhã. A dúvida é se a elevação será mais ou menos agressiva e, mais importante, se virá acompanhada de previsões condizentes com o discurso duro da instituição contra a inflação.
A aposta majoritária dos investidores é de que o Fed aumente os juros americanos em 0,75 ponto porcentual, para a faixa de 3,00% a 3,25% ao ano. Uma parcela bem menor do mercado acha que o aumento pode ser mais intenso, de 1,00 ponto porcentual.
Em qualquer um destes cenários, os juros aumentariam e ficariam perto ou acima de 3,4%. Este nível é importante porque foi divulgado em junho pelo próprio Fed como sendo o patamar “apropriado” para os juros ao fim deste ano.
Vale ressaltar que, naquela época, a inflação estava acelerando e alcançando os maiores níveis em décadas. Mesmo assim, ainda havia integrantes do comitê de política monetária defendendo altas menos intensas nos juros.
Nos meses seguintes, a situação mudou.
Em julho, todos os membros do comitê apoiaram um forte aumento nas taxas. Em agosto, o presidente do Fed, Jerome Powell, reiterou o compromisso com a alta nas taxas, mesmo que isso prejudique a economia.
Este foi um ponto particularmente relevante na mudança do discurso do banco central americano. Até então, a retórica usada pelas autoridades sugeria que elas descartavam a necessidade de frear a atividade para controlar a inflação.
O que o mercado quer saber é se esta mudança de discurso será respaldada pelas novas projeções do Fed.
O que o Fed deve mudar
“As previsões provavelmente serão menos benignas desta vez”, disse o banco Mizuho em um relatório. As novas estimativas devem apontar para um crescimento mais lento da economia, desemprego mais alto e desaceleração menos intensa da inflação.
Para os juros, os especialistas acham que as autoridades passarão a prever taxas de mais de 4% ao ano como apropriadas para 2022 e 2023.
O UBS, por exemplo, espera aumento das projeções para 4,1% e 4,6%, respectivamente, e acha que o Fed vai enfatizar isso para deixar em segundo plano a alta menos intensa dos juros nos próximos meses.
“A mensagem não será que o ritmo de alta dos juros vai diminuir, mas ‘olhem como as taxas ficarão altas até o final de 2023′”, disse o banco suíço em um relatório, prevendo que na reunião de novembro a alta de juros desacelere a 0,50 ponto porcentual.
O Wells Fargo acha que o Fed vai mudar a projeção para a taxa apropriada de juros a pouco mais de 4% até o fim de 2023, mas também ressaltou que a partir de novembro o banco central americano deve começar a tirar o pé do acelerador.
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“Em algum momento Powell e seus colegas vão se sentir confiantes para diminuir o ritmo de aperto monetário. Com os juros perto de superar 3% ao ano pela primeira vez em 15 anos e a redução do balanço do Fed a toda velocidade, a política monetária está caminhando para um território mais restritivo”, afirmou.