Os mercados financeiros sangram na tarde desta sexta-feira (26). Com a notícia de que a variante africana B.1.1.529 pode ser mais séria do que as anteriores, os investidores têm sua aversão ao risco aflorada. O Ibovespa, um dos piores índices acionários do ano, despenca.
Por volta das 13h15, o índice brasileiro recuava 3,90%, aos 101.690 pontos. Em termos de fechamento, esse é o menor patamar do Ibovespa desde 21 de agosto de 2020, quando encerrou o dia aos 101.521 pontos.
Não sendo exclusividade, o dia é complicado para os mercados emergentes. A Bolsa mexicana cai 2,45%; a russa recua mais de 4%; e o índice BIST 100, da Turquia, tem perda de 2,35%.
A aversão ao risco global demonstra a preocupação dos investidores com o desempenho econômico global frágil. Enquanto as commodities tombam, as Treasuries, títulos públicos dos Estados Unidos, o dólar e ouro ganham força.
As altas e baixas do Ibovespa
Dentre as empresas integrantes do Ibovespa, o destaque negativo fica para as empresas ligadas ao setor aéreo e de turismo. Veja o desempenho:
- Gol (GOLL4): -12,87%
- Azul (AZUL4): -12,38%
- CVC (CVCB3): -10,89%
- Embraer (EMBR3): -10,36%
Até então, a perspectiva era de retomada do movimento aéreo após quase dois anos de fronteiras fechadas. Embora ainda pouco conhecida, a nova variante pode ser mais resistente às vacinas aplicadas mundo afora, provocando novos lockdowns.
As empresas ligadas a viagens e transporte aéreo tiveram forte aceleração nos resultados em relação ao mesmo período do ano passado, uma vez que 2020 foi um ano caótico para o setor. Porém, em relação ao mesmo período de 2019, ainda deixam a desejar.
A Gol, destaque de baixa no pregão, por exemplo, informou que no terceiro trimestre as decolagens cresceram 87,3% na base anual, mas ainda estão a 53% dos níveis pré-pandêmicos, em 2019. A diferença na receita líquida é ainda maior.
Histórico da receita líquida da Gol no acumulado de 12 meses, em base trimestral

Venda generalizada
De todos os 91 papéis que compõem o Ibovespa, apenas dois têm (leve) alta: Suzano (SUZB3 +1,02%) e Taesa (TAEE11 +0,17%). A venda é generalizada, atingindo setores diversos.
Além das aéreas e turismo, destacam-se negativamente as empresas ligadas às commodities.
- PetroRio (PRIO3): -11,69%
- Usiminas (USIM5): -6,87%
- CSN (CSNA3): -5,68%
- Petrobras ON (PETR3): -4,95%
- Petrobras PN (PETR4): -4,52%
- Gerdau (GGBR4): -3,24%
- Vale (VALE3): -3,22%
Juntas, essas empresas equivalem a 27,03% do Ibovespa.
No caso das petroleiras, trata-se do reflexo da queda da cotação do petróleo. O barril de Brent cai mais de 5% no mercado futuro, na maior baixa diária desde julho, com a percepção de menor demanda à frente.
O minério de ferro, por sua vez, recuou 6,65% na Bolsa de Dalian, na China. A tonelada da matéria-prima encerrou o pregão negociada a US$ 90, queda de 59% desde a máxima histórica, pressionando as empresas do setor em razão da possível menor procura por aço.
Mapa de calor do Ibovespa

Informações sobre a variante
As informações disponíveis até o momento, divulgadas pelo Centro de Resposta Epidêmica e Inovação (Ceri) da África do Sul, apontam que a nova cepa da Covid-19:
- possui elevado grau de mutação;
- tem chance de ser mais transmissível;
- é capaz de superar a proteção trazida pelas vacinas atuais;
- é identificável por testes PCR existentes.
Na província de Gauteng, onde está localizada Pretória, a capital administrativa da África do Sul, o Ceri calcula que 90% dos cerca de mil casos diários esteja sendo causado pela nova variante.
“Ela parece se espalhar muito rápido. Em menos de duas semanas, ela domina todas as infecções após uma onda devastadora da [variante] delta na África do Sul”, disse o diretor do Ceri, Tulio de Oliveira, ao apresentar as descobertas.
O Ibovespa cai 4,14% em 30 dias, 17,72% em seis meses e 7,45% no acumulado do último ano.