Maio foi um mês positivo para o fluxo de capital estrangeiro na B3, com saldo líquido de R$ 10,662 bilhões considerando o mercado primário e secundário – maior saldo acumulado para um mês desde dezembro de 2023 e o melhor desempenho para o mês de maio desde 2021.
O saldo é resultado de compras acumuladas de R$ 327,029 bilhões, vendas acumuladas de R$ 316,447 bilhões e R$ 80,500 bilhões de Follow-on. Esse movimento sustentou a alta do Ibovespa, que superou os 140 mil pontos pela primeira vez na história, encerrando o mês com valorização de 1,45%.
No acumulado do ano, o fluxo de capital externo já soma R$ 21,515 bilhões, uma reversão significativa frente às saídas de R$ 34,630 bilhões observadas no mesmo período do ano passado.
A forte entrada de capital estrangeiro ocorreu mesmo em meio a um cenário internacional volátil. A trégua comercial entre Estados Unidos e China, com a redução mútua de tarifas por 90 dias, amenizou temporariamente o risco global e incentivou o apetite por ativos de maior retorno, incluindo os de mercados emergentes como o Brasil. Apesar disso, novas tensões surgiram: em 23 de maio, o presidente norte-americano Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia, reacendendo as incertezas. Ainda assim, o Brasil manteve sua atratividade relativa.
A rotação de investimentos de países desenvolvidos para emergentes foi intensificada por valuations ainda descontados na Bolsa brasileira e pela percepção de que o ciclo de alta da Selic estaria próximo do fim. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), no início do mês, de elevar a taxa básica de juros para 14,75% a.a. — maior patamar em quase duas décadas — reforçou o compromisso com o controle da inflação, ao mesmo tempo em que aumentou o apelo de ativos brasileiros, especialmente frente a uma taxa de câmbio mais favorável.
Internamente, o mês foi marcado por sinais mistos. O governo federal anunciou um bloqueio orçamentário de R$ 31,3 bilhões para 2025, numa tentativa de conter gastos e preservar a meta fiscal, mas a medida gerou preocupações quanto ao impacto sobre o crescimento. O aumento do IOF, parcialmente revogado no mesmo dia, também trouxe instabilidade, sugerindo incertezas na condução da política tributária. Ainda assim, o fluxo estrangeiro se manteve firme.
No câmbio, o dólar Ptax teve alta de 0,85% em maio, refletindo um movimento pontual de ajuste, mas ainda acumula queda de 7,81% no ano frente ao real. Esse desempenho é resultado da combinação entre a maior atratividade dos ativos brasileiros, a melhora no fluxo cambial e o ciclo de alta da Selic, que vêm sustentando o real e limitando sua desvalorização mesmo em momentos de incerteza externa.
Mesmo diante de ruídos fiscais internos e de incertezas internacionais renovadas, maio registrou um forte ingresso de capital estrangeiro, sustentado por um ambiente global momentaneamente mais favorável, reavaliação de riscos nos países desenvolvidos, expectativa de queda futura dos juros no Brasil e ações com preços ainda atrativos. O resultado foi a quebra de recordes no Ibovespa e um reforço na confiança de investidores internacionais no mercado brasileiro.
Para acompanhar mais notícias do mercado financeiro, baixe ou acesse o TradeMap.