O Ibovespa opera instável nesta quinta-feira (22), puxado pelo mau humor das Bolsas globais com expectativa de juros altos nos Estados Unidos.
Na cena local, as atenções estavam voltadas para o anúncio de novos ministros pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A lista, porém, não trouxe nenhuma surpresa em relação ao que já era esperado pelos analistas do mercado.
Entre as altas do dia, quem lidera os avanços é a Sabesp (SBSP3 +3,57%), diante de um possível aumento das tarifas cobradas pela companhia no início de 2023.
Já as quedas eram dominadas por papéis que passam por momento de correção. O ressegurador IRB (IRBR3) era um deles, recuando 6,93% após alta de quase 25% na véspera.
Diante deste contexto, por volta das 13h20, o principal índice da Bolsa brasileira operava com alta de 0,23%, aos 103.678 pontos, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap.
Sabesp lidera altas
A expectativa de reajustes das tarifas de água e esgoto impulsiona as ações da Sabesp no pregão. O aumento seria feito fora do calendário habitual devido um pedido de revisão da companhia à Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo).
A empresa convenceu a agência de que os reajustes anteriores foram insuficientes para manter o equilíbrio econômico e financeiro das operações.
A Arsesp refez as contas e calculou que seria necessário um aumento de 6,3733% nas tarifas da Sabesp para compensar a empresa. As novas tarifas entrariam em vigor em fevereiro de 2023, com efeito para os clientes a partir de março do ano que vem.
O Banco Pan (BPAN11) também estava entre os destaques de alta da sessão, com valorização de 3,07%. Na noite de ontem, o banco anunciou a distribuição de R$ 320 milhões em JCP (Juros sobre Capital Próprio) a partir de janeiro.
Em relatório divulgado nesta quinta-feira (22), a Genial Investimentos destacou que o montante é significativo, já que representa um dividend yield de 4% com base no valor das ações do fechamento de ontem, de R$ 6,19.
Correções na ponta negativa
O pelotão de baixo do Ibovespa concentra empresas que tiveram altas nos últimos pregões e agora passam por correções de preço.
Neste segmento, destaque para setores mais expostos aos juros, como Natura (NTCO3) e Petz (PETZ3), que tombam 2,88% e 2,43%, respectivamente.
PIB dos EUA derruba Bolsas
A revisão para cima do PIB (Produto Interno Bruto) americano derrubou as Bolsas em Wall Street com a percepção de que a economia aquecida vai demandar juros mais longos e prolongados nos EUA.
A atividade econômica do país aumentou 3,2% no período em relação ao segundo trimestre, em dados anualizados.
A leitura anterior havia apontado uma expansão menos intensa, de 2,9%, e a expectativa do mercado, segundo o FX Street, era de que o número se confirmasse.
O que gerou preocupação nos investidores foi o fato de a economia ter crescido mais que o previsto. No momento, esse tipo de notícia é recebido de forma negativa pelo mercado, porque aumenta as chances de o Federal Reserve, o banco central dos EUA, manter os juros em níveis elevados.
“Os dados reforçam a tese de que o Fed deve subir os juros acima de 5% e manter neste patamar elevado por mais tempo”, afirma Piter Carvalho, especialista da Valor Investimentos.
Sem surpresas com novos ministros
O presidente eleito anunciou no fim da manhã o nome de 16 ministros que ocuparão a Esplanada a partir de 2023. O único destaque ficou para a nomeação do vice eleito, Geraldo Alckmin, para ocupar a pasta de Indústria e Comércio após outros nomes sondados pelos governistas negarem a cadeira.
Outros 13 nomes devem ser anunciados até a próxima terça-feira (27). Os investidores seguem na expectativa da indicação para o Ministério do Planejamento, que será recriado após o desmembramento da atual pasta da Economia.
“A nomeação não trouxe surpresas porque a maior parte dos nomes já tinha vazado”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Saiba mais:
Na falta de nome da iniciativa privada, Alckmin vai assumir Ministério do Desenvolvimento
Segundo Cruz, a nomeação de Geraldo Alckmin para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio deve ser bem recebido pelo mercado, já que ele não tem um perfil muito desenvolvimentista.
A nomeação de Alckmin veio após a dificuldade do governo em atrair um nome da iniciativa privada. Tanto Josué Gomes, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo como o presidente do conselho de administração do grupo Ultra Pedro Wongtschowski negaram o convite para a pasta.
Já o nome do senador Camilo Santana (PT-CE) para o Ministério da Educação deve ser bem recebido pelas empresas de educação, segundo Cruz. “Ele disse que vai focar mais no ensino básico”, disse Cruz.
O mercado agora aguarda a nomeação do ministro do Planejamento. Dois nomes ligados ao Plano Real, que participaram da campanha do PT, André Lara Resende e Persio Arida, declinaram do convite para o cargo.
“Quando se coloca o Fernando Haddad na Fazenda e Aloizio Mercadante no BNDES, já mostra que o governo está mais próximo das últimas experiências do governo Dilma, o que deixa quem está na iniciativa privada melindroso de entrar no governo”, diz Cruz.
Além da montagem do Executivo, investidores digerem a aprovação pelo Congresso da PEC (Proposta de Emenda da Constituição) da Transição, encerrada na noite desta quarta-feira (21).
O texto autoriza o novo governo a tirar cerca de R$ 168 bilhões do teto de gastos para garantir o pagamento do Bolsa Família de R$ 600 por mês em 2023, bem como para bancar outros programas sociais, como o Farmácia Popular.
No texto final, a isenção à regra do teto de gastos valerá apenas para o ano que vem. Originalmente, o governo eleito havia solicitado que ela durasse por um período indeterminado.