Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Grupo Mateus (GMAT3) e Assaí (ASAI3) devem surfar o Auxílio Brasil – mas quem vai melhor?

As duas aparecem como as queridinhas do mercado não apenas porque vendem alimentos, mas principalmente porque atuam no atacarejo

Foto: Shutterstock

Quando o presidente Jair Bolsonaro sancionou a ampliação do programa de transferência de renda Auxílio Brasil, de R$ 400 para R$ 600 mensais entre agosto e dezembro, um setor ficou obviamente animado: o varejo, que viu na turbinada dada ao benefício a chance de impulsionar as vendas nos meses que restam para o ano acabar.

Mas nem todos os segmentos do varejo devem ser igualmente beneficiados. Como o Auxílio Brasil se destina às famílias mais pobres, que dedicam a maior parte de seus recursos ao consumo de itens básicos, investidores e analistas do mercado financeiro acreditam que o varejo ligado a alimentos, que abrange supermercados e redes de atacado, é o que mais deve ganhar com a medida.

Dentro dessa tese, há duas empresas que despontam como as principais apostas do mercado para surfar a ampliação do Auxílio Brasil: o Grupo Mateus (GMAT3), rede de atacarejo que concentra suas operações nas regiões Norte e Nordeste, e o Assaí (ASAI3), também do atacarejo, porém mais espalhado pelo Brasil.

Desde que a ampliação temporária do Auxílio Brasil foi sancionada, no dia 9 de agosto, ambas acumulam valorização em suas ações. O Grupo Mateus tem alta de 40,69%, enquanto o Assaí sobe 12,75%.

As duas aparecem como as queridinhas do mercado não apenas porque vendem alimentos, mas principalmente porque atuam no atacarejo, um segmento que proporciona preços mais vantajosos e, exatamente por isso, atrai o consumidor de renda mais baixa, o público-alvo do programa de transferência.

O atacarejo passa a ter uma relevância ainda maior para as famílias de renda mais baixa em um cenário de inflação alta. Embora o Brasil tenha registrado deflação em julho, o índice oficial de inflação ao consumidor, o IPCA, medido pelo IBGE, acumula alta de 10,07% em 12 meses, quase três vezes o centro meta do Banco Central (BC), de 3,5%.

“Como o formato de atacarejo tem preços mais atrativos, essas empresas se beneficiam quando os consumidores trocam uma marca mais cara por uma opção mais barata, para fugir da inflação, no chamado trade down”, afirma a analista Giovana Scottini, sócia da Meraki Capital.

No entanto, é bom ressaltar que as duas empresas contam com diferenças importantes, que podem definir uma tomada de decisão de investimento, dando preferência a uma ou à outra.

Para o analista Andreas Ferreira, da gestora Mantaro Capital, um ponto importante a favor do Grupo Mateus é o fato de a rede estar geograficamente concentrada em estados como Piauí, Maranhão e Pará, onde a renda média da população é mais baixa e, portanto, o aumento de R$ 200 terá um impacto maior na vida dos mais pobres, em comparação a estados como São Paulo, onde o custo de vida é maior.

Ferreira toma como exemplo o auxílio emergencial criado no início da pandemia, que beneficiou com mais força as empresas localizadas nas regiões mais pobres, como o próprio Grupo Mateus. “Até mesmo olhando para o desempenho das lojas do Assaí, durante esse período, as que mais se beneficiaram foram as do Nordeste. Esse cenário deve se repetir”, acredita o analista.

De acordo com o balanço da empresa no segundo trimestre, o Grupo Mateus possui 222 lojas, das quais 75 no Pará (berço da companhia), e o restante no Nordeste. Enquanto isso, o Assaí soma 220 lojas abertas, das quais a maioria — 115 — está no Sudeste. O Nordeste tem 61 lojas e o Norte, 16.

Não por acaso, foi em razão da maior exposição a regiões mais pobres que os analistas do Itaú BBA definiram o Grupo Mateus como a mais nova ação preferida entre as empresas que atuam com supermercados, em relatório publicado em agosto, dias depois da sanção do Auxílio turbinado.

“Acreditamos que o Grupo Mateus tenha o melhor cenário operacional no curto prazo entre os players do setor, e possa ser o mais beneficiado por potenciais auxílios do governo”, escreveram os analistas Thiago Macruz, Maria Clara Infantozzi e Gabriela Moraes. “Os benefícios dos vouchers do governo devem ser mais fortes para o Grupo Mateus, considerando sua maior exposição ao Nordeste.”

No relatório, o banco também cita, como pontos positivos, a posição de liderança da companhia no Maranhão e no Pará, que cria altas barreiras de entrada; os planos de expansão para outros estados do Norte e do Nordeste, que devem gerar crescimento de receita líquida; e a campanha promocional de aniversário que irá ocorrer no terceiro trimestre, impulsionando vendas e rentabilidade.

Os estados do Maranhão e do Pará, os dois primeiros em número de lojas do Grupo Mateus, contam com particulares que podem deixar o acionista da companhia ainda mais animado com o Auxílio, de acordo com levantamento feito pelos analistas Luís Novaes e Régis Chinchilla, da Terra Investimentos.

“De a acordo com os dados do Caged, no Maranhão, a população que recebe o benefício social é mais que o dobro do número de pessoas empregadas formalmente. No Pará, esse número não é tão grande, mas os beneficiários do auxílio ainda são maioria comparados aos empregados CLT”, eles afirmam.

Assaí também não é mau negócio

Os pontos favoráveis que foram citados para o Grupo Mateus, no entanto, não colocam o Assaí como uma carta fora do jogo. Para analistas, o Assaí é, sim, uma boa ação para se ter na carteira, com um alto potencial de crescimento, principalmente depois de incorporar as lojas do antigo Extra Hiper, vendidas pelo GPA.

Não à toa, o papel da empresa entrou no hall de ações mais recomendadas para o mês de setembro, de acordo com levantamento com 15 instituições financeiras feito pela Agência TradeMap.

Os analistas da Terra Investimentos, por exemplo, consideram o Assaí “muito à frente do concorrente”, em uma perspectiva de mais longo prazo. “O Assaí deve seguir expandindo com investimentos originados pelo grande caixa gerado nos últimos resultados”, comentam Chinchilla e Novaes.

O Santander, que também aposta no crescimento do Assaí, divulgou um relatório no início de setembro no qual eleva o preço-alvo do papel do Assaí de R$ 20 para R$ 24 ao final de 2023, por vislumbrar boas perspectivas tanto no curto quanto no médio prazo para a companhia. Com isso, o banco projeta uma valorização de 28% na ação.

Os analistas Ruben Couto e Eric Huang, que assinam o relatório, contam que participaram de um evento com a empresa, e gostaram das perspectivas da conversão de lojas do antigo Extra Hiper para o futuro.

“Acreditamos que as próximas conversões podem gerar uma média de R$ 435 milhões por ano em cada loja, contribuindo para margens Ebitda ainda maiores do que a margem incremental de 1,5 ponto percentual das conversões anteriores, que tiveram vendas médias de R$ 260 milhões por ano em cada loja”, comparam.

No final do mês passado, a XP elevou o preço-alvo da ação do Assaí de R$ 20 para R$ 22 ao fim de 2023, mantendo a recomendação de compra, por acreditar que a companhia conseguirá triplicar as vendas e apresentar margens de lucro mais altas nas lojas convertidas do Extra Hiper.

“Esperamos que as lojas tenham uma curva de maturação rápida, com três meses para atingir o nível de vendas de uma loja madura, um ano para atingir o ponto de equilíbrio e dois anos para estar em pleno potencial”, explicaram os analistas Danniela Eiger, Thiago Sauedt e Gustavo Senday.

Auxílio deve continuar em 2023

Embora a ampliação do auxílio para R$ 600 seja temporária, o mercado já trabalha com a possibilidade de o valor se tornar definitivo, a julgar por promessas de campanha que foram feitas tanto presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, quanto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas.

“Conversei com o ministro Paulo Guedes, também dentro da responsabilidade, vamos nos socorrer do parlamento para a gente tornar definitivo esse valor de R$ 600 a partir de 2023. Tenho certeza que o parlamento vai se fazer presente”, disse o presidente, no dia 18 de agosto.

Lula, por sua vez, em uma live com o deputado federal André Janones (Avante-MG) no dia 13 de agosto, também disse que, se eleito, dará continuidade ao benefício de R$ 600 para as famílias mais necessitadas.

Diante desse cenário, Giovana Scottini, da Meraki Capital, vislumbra bons trimestres para ambas as empresas em 2023. “Olhando desde o segundo trimestre deste ano, as empresas já tiveram crescimentos fortes na receita. Esse auxílio daqui pra frente, num cenário de inflação ainda forte como estamos vendo, pode ir justamente para o consumo de bens essenciais”, completa.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.