Desde que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou em 13 de julho a regulamentação do Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, o chamado Fiagro, há 16 produtos listados na B3 de 16 gestoras e outras cinco ofertas em análise pelo órgão regulador.
Atualmente, a modalidade predominante no mercado é a de Fiagros imobiliários de papel. Semelhantes aos fundos imobiliários de recebíveis, esses produtos compram títulos indexados ao IPCA ou ao CDI.
Gestoras como JGP, Valora, Devant Asset e NCH Capital foram algumas das que lançaram Fiagros de papéis atrelados ao CDI. “O momento para o CDI está mais interessante com a alta da taxa Selic”, diz James Gulbrandsen, gestor da NCH Capital.
Dos Fiagros imobiliários já aprovados e listados na bolsa, quatro estão disponíveis para negociação. Os demais acabaram de encerrar ou estão com oferta em andamento.
Fonte: B3. * Fiagros que já negociam cotas na bolsa | |
Fiagros imobiliários listados na bolsa | Código de negociação |
Fiagro BBGO | BBGO11 |
Fiagro CCFA | CCFA11 |
Fiagro DEVANT | DCRA11 |
Fiagro ECO | EGAF11 |
Fiagro RIZA | RZAG11* |
Fiagro JGP | JGPX11* |
Fiagro FGA | FGAA11 |
Fiagro GLPG | GCRA11 |
Fiagro KINEA | KNCA11 |
Fiagro LESTE | LSAG11 |
Fiagro EQIA | EQIA11 |
Fiagro PLUR | PLCA11 |
Fiagro STAFE | FARM11 |
Fiagro VGIA | VGIA11* |
Fiagro VCRA | VCRA |
Fiagro XP CA | XPCA* |
A gestora Hectare também está considerando lançar um produto, seja via criação de um fundo para investir nessas carteiras ou o lançamento de um Fiagro próprio, segundo Lucas Elmor, sócio e diretor de gestão.
O que são Fiagros?
Criados como mais um instrumento para financiar a cadeia do agronegócio, os Fiagros podem investir em uma ampla variedade de ativos como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e outros títulos emitidos por agentes ligados à cadeia produtiva; imóveis, terras e propriedades rurais; ações ou cotas de sociedades.
Resolução da CVM levou a uma regra temporária para criação desses produtos, utilizando como base a regulamentação dos fundos estruturados. Pela regra, os Fiagros podem utilizar três tipos de estruturas:
- Fiagro-FIDC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) – compram recebíveis de empresas ou produtores que vendem esse direito de recebimentos ao fundo e antecipam seu pagamento.
- Fiagro-FII – podem investir em CRAs, Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e títulos de dívida atrelados ao financiamento da cadeia do agronegócio ou em terras ou propriedades rurais, que são o mais comum.
- Fiagro -FIP – que compram participação em sociedade no modelo private equity.
Assim como os fundos imobiliários, os Fiagros imobiliários podem ser listados em bolsa e oferecem uma remuneração composta pela distribuição dos rendimentos e a variação da cota em bolsa.
Os rendimentos Fiagros também são isentos de Imposto de Renda para pessoas físicas, desde que o fundo seja listado em bolsa e tenho, no mínimo, 50 cotistas.
A CVM pretender criar uma norma específica para o Fiagro e vai discutir o assunto no ano que vem. Entre os assuntos que devem ser abordados está a ampliação dos produtos disponíveis aos investidores de varejo, com a possibilidade de liberação do acesso ao Fiagro de FIDC, por exemplo.
Fiagros de papel são opção para ganhar com alta do CDI
A maioria dos Fiagros de papel lançados no mercado tem como foco o investimento em títulos indexados ao CDI, dado o cenário de alta da taxa Selic.
A gestora Valora levantou R$ 100 milhões com o lançamento de um Fiagro de papel que busca um retorno de CDI mais uma taxa de 3,5% a 4%. A carteira tem foco em operações de financiamento da cadeia de insumos emitidos por cooperativas, tradings e distribuidores.
“Nós mesmos estruturamos as operações que vão dentro do fundo e a ideia é aproveitar as operações de barter [que envolvem a troca de insumos pela produção] já existentes com as tradings”, diz Guilherme Grahl, associado da gestora que tem mais de 20 anos de experiência no setor, com passagem pela Cargil.
A NCH Capital também acabou de levantar R$ 40 milhões em um Fiagro de papel que mira um retorno de CDI mais uma taxa de 6%, o que daria um dividend yield aproximado de 15%. “Nosso objetivo é buscar uma diversificação da carteira com a inclusão de oito culturas agrícolas diferentes”, afirma Gulbrandsen.
A NCH está analisando agora o lançamento de Fiagros voltados para investidores estrangeiros.
A JGP começou a negociar o Fiagro JGPX11 na B3 no fim de novembro, tendo 90% da carteira investidos em papéis atrelados ao CDI e com isenção de taxa de gestão pelos três primeiros meses.
Segundo Alexandre Muller, sócio-gestor da JGP, o fundo mira um retorno líquido de CDI mais 3%, o que daria um dividend yield líquido de taxas de 14,5%. Essa rentabilidade ainda pode aumentar com o giro da carteira no mercado secundário.
“A vantagem de investir em papéis do setor de agronegócio via fundos é que conseguimos capturar as oportunidades de ajustes das taxas vendendo os papéis no mercado secundário”, diz Muller.
Outro diferencial defendido pela JGP é que os investimentos devem seguir as diretrizes ESG (que considera critérios ambientais, sociais e de governança) da casa. “Não investimos em culturas como tabaco, por exemplo, e já rejeitamos uma operação de óleo de palma na Amazônia”, diz Julia Bretz, analista sênior.
O fundo já tem cerca de 60% da carteira investidos em setores como sucroalccoleiro, florestal, cooperativas agrícolas e de bioinsumos, em 12 estados diferentes. “A diversificação geográfica ajuda a reduzir riscos com problema climático, por exemplo”, afirma Bretz.
Já o fundo da Devant , com oferta em andamento, tem como foco papéis emitidos por grandes empresas, segundo informações do prospecto.
Quais as vantagens do Fiagro ?
Os Fiagros devem democratizar o acesso ao investimentos atrelados ao agronegócio. Apesar de CRAs estarem disponíveis para os investidores pessoas físicas, o fundo permite o acesso a ofertas restritas 476 de papéis que podem oferecer taxas de retorno melhores e que não estão disponíveis a investidores de varejo, diz Muller.
Além disso, o investimento em CRAs por meio dos Fiagros proporciona maior diversificação, reduzindo o risco da carteira, afirma Elmor, da Hectare.
Uma das vantagens dos Fiagros em relação aos fundos imobiliários é a maior resiliência do setor a chacoalhões da economia brasileira. “É um setor que tem uma função contracíclica, que surfa bem a onda quando o Brasil vai mal e o dólar sobe”, apontaGrahl, da Valora.
De 2012 a 2020, o PIB do Brasil caiu, em média, 4%, enquanto a atividade do agronegócio cresceu aproximadamente 30%, assinala Gulbrandsen. “É um setor mais resiliente à alta da taxa Selic que o imobiliário.”
O gestor da NCH vê um cenário positivo o setor agropecuário no Brasil, com a China ainda com demanda forte para commodities, mas a grande questão recai sobre o patamar do câmbio. “Como a maioria dos produtos agrícolas são dolarizados, eles têm se beneficiado de um dólar mais alto frente ao real”, diz Gulbrandsen.
Quais os riscos desse investimento?
Além do risco inerente ao setor do agronegócio, como de quebra de safra e do ciclo de commodities, investidores devem ficar atentos à qualidade do crédito na carteira dos fundos.
“Olhamos a saúde financeira das empresas, se elas não estão muito alavancadas, as perspectivas de crescimento, quais as estruturas de garantias das operações”, diz Gulbrandsen, da NCH.
Muller destaca que até agora o índice de inadimplência dos CRAs no mercado era baixo porque a maioria das operações que vinham a mercado era de grandes empresas, mas com as ofertas de emissores de menor porte sendo compradas por alguns Fiagros, esse número pode aumentar. “Por isso, buscamos checar se as empresas estão formalizadas , se têm balanço auditado.”
A JGP deve lançar no ano que vem um índice que acompanha o desempenho dos CRAs no mercado.
Importante também observar a estrutura de garantia dos papéis, que pode envolver a alienação fiduciária de terras e propriedades rurais, diz Elmor.