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Eleição chegará “atrasada” na pauta dos investidores e só deve fazer preço no 2º semestre; entenda

A partir de julho, o mercado conhecerá a equipe econômica dos candidatos e terá uma perspectiva da formação do poder legislativo

Fotos: Shutterstock

Quem acompanha a Bolsa de valores há muito tempo já sabe — ano eleitoral traz volatilidade aos mercados –, uma vez que a dúvida sobre um novo governo gera desconfiança e insegurança por parte de quem investe. Neste ano não será diferente.

No entanto, o que tem causado estranheza é que a cena política ainda não tem feito preço nos ativos. Historicamente, o processo eleitoral interfere na Bolsa, em média, seis meses antes da data do voto, o que ainda não aconteceu neste ano.

De acordo com alguns especialistas ouvidos pela Agência TradeMap, a aversão maior ao risco causada pelo debate político deve acontecer entre julho e agosto, quando o mercado conhecerá a equipe econômica dos candidatos e terá alguma perspectiva de como será formado o poder legislativo nos próximos quatro anos.

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Outro fato importante para o cenário atual é que o mercado conhece o modus operandi dos dois principais candidatos ao pleito, ou seja, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do atual, Jair Bolsonaro. Os dois são tidos como os principais porque as pesquisas de intenção de voto indicam um segundo turno envolvendo ambos.

Uma pesquisa da Genial Investimentos em parceria com a Quaest, datada de 11 de maio, mostra que Lula possui cerca de 46% das intenções de voto enquanto Bolsonaro possui 29%. O terceiro lugar fica com Ciro Gomes, que anota apenas 7%, número quatro vezes menor que a intenção do segundo colocado. No segundo turno, Lula venceria em todos os cenários. Em uma disputa entre Lula e Bolsonaro, o primeiro teria 54% e o segundo 34%.

Ainda estamos esperando os nomes das principais pastas de cada um dos candidatos. Além disso, aguardamos a indicação do ministro da economia de Lula e se Bolsonaro vai continuar com Paulo Guedes”, avalia Fernanda Mansano, economista-chefe da Empiricus, que acredita que a eleição começará a “pesar” na Bolsa apenas a partir de agosto.

Para Mário Lima, analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors, a Bolsa deve começar a precificar a eleição entre junho e julho. Segundo ele, o mercado irá observar não somente a equipe de governo, mas também como será formado o Congresso Nacional.

“Hoje em dia, com toda a questão envolvendo o orçamento secreto e as medidas impositivas, existe uma diminuição do poder de agenda do Executivo em relação ao Legislativo”, argumenta Lima. 

De acordo com um gestor de multimercado ouvido pela TradeMap, o mercado tem um pouco de dificuldade de avaliar as eleições pela distância da disputa, acreditando que “a campanha ainda não começou para valer”, e que as falas atuais dos principais candidatos ainda não estão sendo levadas a sério. Para ele, as discussões devem se acalorar e precificar os mercados a partir de agosto.

Diferenças entre Lula e Bolsonaro

Apesar de Lula e Bolsonaro estarem voltando suas alianças políticas ao “centro político”, fator que têm acalmado os mercados, por enquanto, ambos ainda possuem grandes diferenças.

Mansano acredita que, qualquer que seja o candidato vencedor, a tendência é que respeite o teto de gastos e que tenha metas de inflação claras, por exemplo. “Isso certamente vamos ver no discurso de quem for indicado para ser o ministro de cada um”.

A sinalização de Bolsonaro e de Lula ao centro acontece de formas diferentes. O atual presidente, por exemplo, formou alianças com os presidentes da Câmara e do Senado nos últimos anos, a fim de buscar capital político. Para Lima, Bolsonaro fez esse aceno ao centro por uma “questão de sobrevivência política”.

Lula, por sua vez, anunciou recentemente que Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e antigo rival político, será seu vice na chapa. O analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors vê o fato como um sinal importante de moderação política pelo petista, ao formar dupla com uma pessoa mais alinhada ao centro-direita.

Mesmo diante desses acenos, as diferenças políticas ainda são visíveis. Segundo um gestor que falou com à Agência TradeMap sob a condição de anonimato, em termos de política econômica, Bolsonaro agrada mais do que Lula.

No caso do ex-presidente, o gestor avalia que essa sinalização ao centro tem “pouco valor”, visto que o discurso de Lula acerca de temas como o controle de preço do combustível, teto de gastos e controle da inflação é negativo para o mercado.

Em termos econômicos, no caso de Bolsonaro, o gestor afirma que o mercado não tem muito do que reclamar, embora exista riscos institucionais como as críticas frequentes ao sistema eleitoral, às urnas e aos embates com o STF (Supremo Tribunal Federal).

A percepção de investidores estrangeiros

O capital que entra na Bolsa brasileira vindo de outros países tem tido um papel de destaque desde o início do ano. No primeiro trimestre, o aporte estrangeiro atingiu R$ 64,1 bilhões, de acordo com a B3, o que acabou ajudando o Ibovespa ter sua melhor performance trimestral em dois anos.

Contudo, temores de inflação global e alta nos juros causaram um sentimento de aversão ao risco generalizado em abril, o que acabou fazendo com que esses investidores tirassem drasticamente seu dinheiro dos mercados emergentes. Por aqui, o saldo líquido desse tipo de investimento ficou negativo em R$ 7,67 bilhões.

Além do cenário global de aversão ao risco, a eleição também entra no radar dos investidores, diz o analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors. De acordo com dele, a percepção é de os investidores vejam a vitória de Lula como mais benéfica. “Não que eles gostem dele, é que pelo menos você sabe o que o Lula vai fazer. Ele tem suas ideias e apoios para tentar adaptar o discurso de esquerda para uma plataforma que consiga governar”.

Por outro lado, Bolsonaro é “errático”, na visão do analista. “Num dia ele faz política com o centrão, no outro questiona as urnas e briga com o Supremo. É um sujeito que é um manancial de crise”, completa Lima.

O analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors disse um avanço de Bolsonaro nas pesquisas pode refletir nos preços e, num primeiro momento, causar uma remoção de capital estrangeiro daqui.

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