Volta às ruas e dinheiro gringo devem segurar Bolsa em alta (mas só até as eleições)

Alta nas commodities continuará a beneficiar a Bolsa brasileira, mas início das campanhas eleitorais pode esfriar os mercados

Foto: Shutterstock

As águas de março podem até ter fechado o verão, mas não tiram o bom humor do investidor da Bolsa, que viu o Ibovespa terminar o primeiro trimestre com uma valorização de 14,48%, o melhor desempenho trimestral desde os últimos três meses de 2020, e espera por mais nos próximos meses.

No último trimestre de 2020, o índice teve alta de 25,81%, embalado pela recuperação da economia após os estragos causados pela primeira onda da pandemia e antes de se deparar com o início da segunda onda, em 2021.

Agora, o cenário é outro. A pandemia dá sinais de arrefecimento e a guerra na Ucrânia fez os preços de commodities como o petróleo e o minério de ferro dispararem, o que acabou beneficiando empresas como Petrobras e Vale, que contam com um peso relevante no Ibovespa e ajudaram o índice no período.

Para o próximo trimestre, uma promessa de vida “normal” aos brasileiros, com a pandemia ficando para trás, deixa os investidores mais esperançosos com a recuperação da economia e, consequentemente, com novos ganhos na Bolsa, segundo ouvidos pela Agência TradeMap.

O bom humor, porém, parece ter prazo de validade. As eleições estão batendo na porta e, à medida em que o debate presidencial vai ficando mais próximo, a incerteza e a cautela vão crescendo, o que deve fazer a Bolsa pisar no freio.

Enquanto esse momento não chega, o estrategista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, acredita que a Bolsa deve surfar a diminuição das restrições da pandemia. Ele observa que as pessoas estão de volta às ruas e aos escritórios, com mais consumo de serviços e em lojas físicas, e menos no e-commerce. “Tudo isso impulsiona um pouco a recuperação da economia e favorece a Bolsa.”

Não por acaso, a ação que mais se valorizou no primeiro trimestre foi de uma empresa ligada a consumo: o Carrefour (CRFB3). A rede de supermercados viu seus papéis subirem 47,67% no período.

Para Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, a Bolsa também deve seguir sendo beneficiada pelo fluxo de investimentos estrangeiros, principalmente se a situação no leste europeu se acalmar, o que diminui a sensação de risco e impulsiona o mercado de ações.

Segundo dados da B3, o aporte estrangeiro na Bolsa brasileira atingiu R$ 64,1 bilhões desde o início do ano. O valor já considera a correção feita na sexta-feira (1) pela B3, que admitiu um erro nos dados de fluxo externo.

As maiores altas do Ibovespa no primeiro trimestre:

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Para Vinicius Augusto dos Santos, assessor de investimentos da SVN, as eleições, previstas para outubro, devem começar a pesar mais no humor do investidor a partir do início do segundo semestre, quando os candidatos começam a aparecer com mais frequência na mídia.

Ele admite, no entanto, que é difícil prever cenários. “Ninguém esperava a guerra e a alta das commodities, por exemplo”, ele disse. “Mas acredito que se a gente continuar a ver as mesmas variáveis de hoje, o Ibovespa ainda tem muito potencial para subir. O preço das ações por aqui ainda está baixo no geral”, afirmou.

Leia mais:
Como o Ibovespa se comportou nas últimas 5 eleições e o que esperar em 2022?

Commodities beneficiaram Bolsa no primeiro trimestre

A guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura cinco semanas, tem servido de gatilho para um avanço rápido nos preços do petróleo porque os russos são os maiores exportadores mundiais da commodity e, após darem início ao conflito, foram punidos por Estados Unidos, Reino Unido e países da União Europeia com sanções econômicas que dificultam as vendas ao exterior.

O petróleo do tipo Brent — que serve como referência internacional para o produto — era negociado por cerca de US$ 80 o barril em meados de janeiro, e, com o início do conflito em fevereiro, tem se mantido a mais de US$ 100, chegando a atingir a marca de US$ 139 no começo de março. Nesta sexta, a commodity era avaliada em US$ 104 na ICE.

Cruz, da RB Investimentos, lembra que mesmo antes do conflito o preço do petróleo e de outras commodities como o minério já estavam em patamares altos por causa de estímulos fiscais em diversos países como Estados Unidos e Europa.

“A China também está com uma meta de crescimento e por isso estava ‘tirando a mão’ em termos de regulação de vários mercados de commodities. O Brasil se beneficia junto com outros países latinos por serem mais exportadores”, comenta o estrategista.

Para Akamine, da Constância Investimentos, mesmo com um arrefecimento na guerra na Ucrânia, as commodities não devem voltar aos níveis anteriores tão rapidamente, o que favorece as ações ligadas a esses produtos por aqui.

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