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Crédito ou débito? O que as compras no cartão dizem sobre a economia em agosto

Índices calculados por grandes bancos apontam para recuo do setor de serviços, que vem sustentando a atividade econômica

Foto: Shutterstock

O BC (Banco Central) surpreendeu o mercado nesta quinta-feira (15) ao apontar que a atividade econômica brasileira avançou 1,17% em julho, mais que o dobro do que o mercado esperava. O crescimento veio principalmente dos serviços, que desde maio vêm mostrando um dinamismo surpreendente.

Mas essa onda positiva dura até quando? Em que momento os juros altos, elevado endividamento e o esgotamento do efeito da volta sincronizada dos brasileiros à vida normal começarão a colocar um freio na economia?

Dados de atividade coletados por grandes bancos mostram que esse impacto já começou a aparecer com mais força em agosto nos serviços, setor que representa 70% do PIB (Produto Interno Bruto) e que vem sendo o responsável pela força da atividade nos últimos meses.

Segundo o índice IGet, calculado pelo Santander e pela GetNet com base em compras no cartão de crédito e débito, os serviços recuaram 3,7% no mês passado na comparação com julho. Com isso, o indicador ficou no pior patamar desde março deste ano.

“Os serviços tiveram um bom resultado em julho, ainda mais porque foram as primeiras férias normalizadas após a pandemia”, apontou o economista Lucas Maynard, do Santander. “Já para agosto o mês veio fraco, apesar do pagamento do Auxílio Brasil maior em uma parte do mês”.

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Outro indicador, o IDAT-Atividade, do Itaú Unibanco, que também é calculado a partir de compras no cartão, também reforçou essa perda de ritmo do setor de serviços em agosto.

O índice apontou uma queda de 4,5% em relação a julho na conta com ajuste sazonal, com todos os segmentos em queda – os destaques negativos foram serviços de hotelaria, que caíram 8,1% em relação a julho, e outros serviços pessoais (como cabeleireiros e manicures), com retração de 3,9%.

Nesse cenário, a equipe de macroeconomia do Itaú acredita que os serviços medidos pela pesquisa mensal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrarão queda de 0,9% em agosto. “O declínio foi generalizado, com todos os subitens recuando no período”, afirmou o banco, em relatório.

A Pesquisa Mensal de Serviços mostrou um avanço de 1,1% em julho – o setor vem crescendo de forma consecutiva desde maio, o que levou economistas a revisarem suas projeções para o PIB de 2022. A mediana dos analistas ouvidos pelo Boletim Focus espera que a economia brasileira cresça 2,39% neste ano, mas muitos economistas já esperam uma alta próxima de 3%.

Para 2023, a expectativa é que a desaceleração da economia mundial e o patamar elevado de juros reduzam o crescimento do PIB a 0,50%, segundo o Focus.

Comércio também em queda

No caso das vendas do comércio, o IBGE já vem registrando quedas desde maio, em um movimento impulsionado pela inflação alta, já que com a reabertura da economia, as famílias optaram por substituir o consumo de bens por serviços.

Em julho, a Pesquisa Mensal de Comércio registrou uma queda de 0,8%, e a retração deve continuar em agosto. Segundo o índice IGet, o varejo teve queda de 3,2% no mês passado, enquanto o varejo ampliado (que inclui vendas de automóveis e materiais de construção) caiu 3,6% na mesma comparação.

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Já o IDAT-Atividade, do Itaú, aponta para um recuo de 0,8% nas compras de bens, com destaque para aqueles que dependem mais de financiamento, que registraram queda de 1,5% na comparação com ajuste sazonal. Esse segmento é formado por itens como informática, móveis e eletrodomésticos e comunicação, e apresentou uma perda de fôlego generalizada, de acordo com o Itaú.

O banco projeta que as vendas do comércio medidas pelo IBGE devem mostrar queda de 0,4% no mês passado. “Para os bens, a principal queda veio dos itens sensíveis ao crédito (o maior recuo ocorreu em móveis e eletrodomésticos), enquanto os itens sensíveis à renda tiveram resultados mistos”, diz a equipe do Itaú, em relatório.

Para Maynard, do Santander, o aumento da taxa básica, a Selic, que foi elevada de 3% ao ano em março de 2021 para os atuais 13,75% ao ano começa a chegar na ponta. “O varejo teve um impulso forte no começo do ano, mas foi perdendo força”, avaliou. “Mesmo que agosto não venha tão ruim, deve apresentar um número levemente fraco, mais modesto.”

Apesar da perda de ritmo projetada para os próximos meses, o Itaú acredita que o PIB deve crescer 2,5% neste ano, enquanto o Santander projeta expansão de 2,6%. “Apesar da melhora no curto prazo, os fundamentos continuam indicando desaceleração da atividade”, destacou a equipe de macroeconomia do banco.

Endividamento

Além dos juros e do patamar ainda elevado dos preços (a deflação registrada nos últimos dois meses foi impulsionada mais pela queda nos preços dos combustíveis e energia), o endividamento dos brasileiros também contribui para essa queda.

De acordo com dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o número de famílias endividadas chegou a 79% em agosto. O número de inadimplentes chegou a 29,6%, o maior patamar da série, iniciada em 2010.

“O endividamento das famílias está muito alto, e chega uma hora que o consumo fica limitado”, aponta Maynard.

Por outro lado, a desaceleração dos preços de alimentos e bebidas, que já está sendo captada por índices de inflação, o aumento do valor do Auxílio Brasil e a queda da taxa de desemprego podem ajudar a evitar uma perda de ritmo maior da atividade nos próximos meses.

“Há uma queda leve da massa salarial de um lado. Do outro, o valor do Auxílio Brasil aumentou. Acreditamos em uma alta de 2,6% do PIB, mas podemos revisar para cima. Temos que ver o restante do ano, já que o quarto trimestre é quando a economia vai sofrer mais”, diz o economista do Santander.

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