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Comércio em baixa: Tombo além do esperado em junho é mau sinal para o setor nos próximos meses

Inflação e juros altos derrubam vendas, que também precisam disputar a renda dos brasileiros com a prestação de serviços

Foto: Shutterstock

A corrosão do poder de compra das famílias pela inflação em 12 meses acima de dois dígitos e a restrição do crédito com a escalada dos juros se refletiram em um desempenho frustrante das vendas do comércio medidas pelo IBGE em junho, com um tombo mensal de 1,4%.

E as perspectivas para os próximos meses não são otimistas. A despeito da injeção de recursos com estímulos do governo, o consumo de bens disputa a renda dos brasileiros com a prestação de serviços, setor que apresenta alta diante da reabertura da economia como consequência da crise sanitária.

Além de o dado ter vindo pior do que a expectativa do mercado, que já era negativa, a abertura dos números reforça o sentimento de cautela com as vendas: das oito categorias pesquisadas pelo IBGE, sete apresentaram retração em junho.

“A inflação muito pesada gerou quedas significativas nos setores de combustíveis e supermercados, itens que têm peso bastante importante para o varejo”, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura. “Outros conjuntos sofreram com a questão dos juros, como móveis e eletrodomésticos, material de construção e veículos, que depende mais do crédito.”

As vendas do comércio registraram queda de 1,4% em junho ante maio, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (10). Em paralelo com junho do ano passado, a perda foi de 0,9%.

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As vendas do comércio apresentam perda de fôlego desde o início do ano. Após bater o pico de 2,3% em janeiro, o volume do setor está em constante desaceleração e entrou no campo negativo em maio, ao registrar queda de 0,4%.

A trajetória descendente e o resultado frustrante em junho acendem um sinal de alerta entre os analistas, que esperam mais quedas para o setor ao longo do terceiro trimestre. A partir de outubro, com a entrada do período de festas e datas comemorativas, a tendência é de recuperação.

Para Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos, o desempenho negativo de segmentos que vinham mostrando resiliência a despeito da queda do setor, como supermercados e vestuário, reforçam os desafios para o segmento nos próximos meses.

Este movimento, explica, é sinal do comprometimento da renda das famílias com a constante variação de preços, mesmo que o mercado de trabalho continue apresentando sinais de aquecimento.

“Mesmo setores que não dependem de crédito mostraram arrefecimento. Apesar do mercado de trabalho estar forte, a inflação atrapalha”, afirma. “Esses dados de queda generalizada mostram que alguns dos pilares que estavam sustentando o consumo sentiram bastante no mês de junho”.

Competição com serviços

Além dos gargalos da inflação alta e restrição de crédito, os varejistas disputam a renda com o setor de serviços, que apresenta resultados positivos com a abertura da economia proporcionada pela vacinação em massa contra a Covid-19.

Os dados do setor de serviços em junho serão divulgados nesta quinta-feira (11), pelo IBGE.

Diante desta mudança de consumo, até mesmo movimentos que poderiam trazer alívio ao comércio, como o Auxílio Brasil turbinado e a redução do ICMS sobre combustíveis, energia e telecomunicações, tendem a ter o seu efeito minimizado e reduzem as expectativas de melhora para vendas.

Assim como nos anos de lockdown, a renda extra disponibilizada pelo governo neste ano foi a princípio direcionada para o consumo de bens, principalmente móveis e eletrodomésticos, além do boom em materiais de construção. Agora, os benefícios estão indo para opções de lazer.

“As pessoas já reformaram as suas casas e compraram muitos eletrodomésticos e móveis. Agora elas passaram a direcionar a renda para os serviços, como viagens e cultura. A melhora dos preços com a queda dos impostos pode ajudar o comércio, mas o setor de serviços tende a ser mais beneficiado”, diz Rocha.

As medidas do governo para estimular a economia tendem a ter efeito reduzido em setores de consumo mais imediato, como alimentos e vestuário, enquanto outras categorias que estão mais atreladas à disponibilidade de crédito não devem ser favorecidas.

Para Borsoi, além dos caminhoneiros e taxistas, que são diretamente beneficiados pelo corte de tributos nos combustíveis, os mais favorecidos pelas medidas serão brasileiros com poder aquisitivo já reduzido e que não tendem a fazer compras com tíquetes maiores.

“Construção civil, veículos e itens de dispêndio mais pesado dependem de crédito, e não temos um cenário positivo para isso neste momento”, afirma.

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Na mesma linha, Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, afirma que parte do valor dos benefícios deve ser usado para a geração de renda dos trabalhadores informais, que também acaba desviando o recurso do varejo.

“Muita gente vai pegar o Auxílio Brasil para empreender e fazer algo que gere renda. São pessoas que vão vender algo na rua, fazer bolo e brigadeira, e isso turbina ainda mais o setor de serviços”, diz.

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