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Como a “inércia” da Petrobras (PETR4) pode afetar Vibra (VBBR3), Raízen (RAIZ4) e Ultrapar (UGPA3)

Empresas privadas que atuam no gap de distribuição da estatal podem se prejudicar por não conseguirem vender no preço que a Petrobras define

Foto: Shutterstock

A disparada do preço do petróleo no mercado internacional desde o início da guerra na Ucrânia — além de encarecer os combustíveis e gerar discussões sobre inflação no Brasil e políticas de precificação para a Petrobras — tem levantado preocupações sobre o risco de uma escassez de diesel, o combustível usado pela maior parte dos caminhões que circulam nas estradas brasileiras.

A Petrobras (PETR4), responsável por cerca de 80% do abastecimento desse combustível no país, define o preço a ser repassado para os postos. No entanto, em uma tentativa de não fazer esse repasse de forma abrupta, para minimizar o efeito na inflação, a empresa tem segurado os preços, em vez de seguir à risca a política de paridade internacional, que, em tese, busca acompanhar as cotações do mercado internacional.

Para entender como isso pode gerar uma escassez, antes é preciso compreender o papel do setor de distribuição de combustíveis, formado por empresas como Vibra (VBBR3), Raízen (RAIZ4) e Ultrapar (UGPA3).

Estas companhias, que compram no exterior parte do diesel distribuído no Brasil, são prejudicadas se a Petrobras, uma concorrente, mantém o preço baixo e não acompanha o mercado internacional, contribuindo para que os importados deixem de ser atrativos. Como a Petrobras, sozinha, não dá conta de atender todo o mercado, o resultado disso pode ser a escassez de diesel para o consumidor brasileiro.

“Não vale a pena importar ou comprar de uma refinaria mais caro do que se venderia na bomba, ou seja, operar com prejuízo”, afirma o  líder da área de Análise da Warren, Frederico Nobre, que acredita que, caso as distribuidoras interrompam as importações, isso deve se refletir em uma redução da receita.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus, mesmo que o diesel não seja o único produto que essas distribuidoras vendam, as companhias podem também ter uma redução da margem de lucro, uma vez que a “inércia” da Petrobras pressiona os preços do mercado para baixo.

Embora não seja o único produto, o diesel é o principal negócio de distribuição de nomes como Raízen, Vibra e Ultrapar, sendo responsável por cerca de 50% do volume total das três. Veja:

Porcentagem de diesel no volume de vendas das distribuidoras de combustível no 1t22
Arte: Rachel Santos/TradeMap

Em relação à margem financeira, no primeiro trimestre, as três apresentaram resultados mistos no comparativo direto com o quarto trimestre de 2021. A Raízen apresentou no período uma margem Ebitda de R$ 121 por metro cúbico (m³) de combustível distribuído, uma queda de 14% na comparação.

Enquanto isso, a Ultrapar viu sua margem subir de R$ 94 para R$ 110 na mesma base. Já a Vibra teve uma queda de 23,2%, indo de R$ 160 por m³ nos últimos três meses de 2021 para R$ 123 por metro cúbico no início deste ano.

Tudo depende da Petrobras

Em um relatório publicado no fim de maio, o UBS-BB avaliou que manter o preço de paridade de importação é um fator-chave para a Petrobras (PETR4) não ter problemas de abastecimento.

Além disso, os analistas que assinam o relatório afirmam que potenciais desafios podem ocorrer no terceiro trimestre do ano, antes das eleições, porque podem aumentar o “atraso” entre os preços praticados no mercado internacional e os preços definidos pela estatal.

“Para conter os preços, a Petrobras teria que desrespeitar mais ainda a paridade de importação, que já tem ficado defasada frente ao que está acontecendo lá fora”, avalia Spiess, da Empiricus. Nesse contexto, ele avalia que a petrolífera teria que encarar a explosão de preço por falta de produto ou forçar as empresas a assumirem prejuízo, o que, segundo ele, “não vai acontecer”.

De acordo com dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustível) do dia 10 de junho, atualmente, a defasagem do preço do diesel praticado aqui com o mercado internacional é de 18%.

“Com a alta no câmbio e nos preços de referência do óleo diesel e da gasolina no mercado internacional em relação aos números do dia 9, os cenários das defasagens tanto para gasolina como para o óleo afastaram-se muito da paridade, o que inviabiliza as operações de importação”, comenta a instituição.

Uma vez que o combustível encarece, o frete também sobe e os preços de todos os produtos acompanham a tendência de alta, podendo contribuir para um aumento da inflação no país, que segue acelerada.

Para o analista da Warren, contudo, o risco de escassez não é tão alto no momento, mas, se virar uma realidade, pode prejudicar regiões mais afastadas dos grandes centros, com “logísticas mais complexas”.

O governo federal também tem tomado iniciativas para frear essa possível crise. Uma das propostas é o projeto de lei para reduzir o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o que, segundo Régis Chinchilla, analista da Terra Investimentos, “daria mais espaço para a Petrobras ajustar a paridade internacional”.

Entenda:
Cobertor curto: limitar ICMS de combustíveis reduz inflação, mas prejudica contas públicas

O objetivo do governo federal é conter a alta de preços de combustíveis, uma das pedras no caminho do presidente Jair Bolsonaro para buscar a reeleição este ano – no acumulado em 12 meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), principal medidor da inflação no Brasil, sobe 11,37%.

Spiess, da Empiricus, entende que o governo tem “assumido a bronca” diante de uma possível crise energética, e tem tomado essas medidas para conter o preço mesmo que isso cause um impacto fiscal negativo.

A proposta — que também implica que o governo federal zere PIS, Cofins e Cide da gasolina e etanol — custaria aos cofres públicos entre R$ 25 bilhões e R$ 50 bilhões até o final de 2022, segundo estimativa do ministro da Economia, Paulo Guedes.

“É uma medida puramente eleitoral, não estamos mais no terreno da racionalidade econômica”, apontou o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, da consultoria Schwartsman & Associados, em entrevista à Agência TradeMap. “No melhor dos cenários, o mais otimista, a medida cortaria 2,25 pontos percentuais do IPCA deste ano. Mas continua em 6,75%, ou seja, ainda estouraria o teto da meta”.

No último dia 27, o Ministério de Minas e Energia disse que o Brasil tem um estoque de diesel para 38 dias. “Esse estoque serve para eventuais problemas de ruptura de fornecimento ou demanda muito grande por conta de algum choque”, ressalta Chinchilla.

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