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Commodities e decisão do Fed garantem mais uma alta de Ibovespa, que renova máxima do ano

Índice fechou com avanço de 0,99%, aos 111.289 pontos

Foto: Unsplash

Apesar de dados de inflação acima das expectativas, o Ibovespa, que já vinha subindo com o apoio das commodities, acelerou a alta e renovou a máxima do ano depois da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

O índice fechou o pregão com avanço de 0,99%, aos 111.289 pontos, com R$ 29,36 bilhões em volume negociado. No ano até aqui, o saldo é de alta de 6,17%.

A grande pauta do dia foi a decisão do Fed, que manteve os juros dos EUA entre zero e 0,25% ao ano e sinalizou que deve começar a elevar as taxas a partir de março, quando acontece a próxima reunião de seu comitê de política monetária.

O anúncio ficou em linha com a expectativa do mercado, mas a instituição surpreendeu os investidores com explicações sobre a redução de seu balanço – medida que removerá estímulos à economia americana e que vinha assustando os mercados.

Agora, o banco central afirmou que as taxas de juros serão a ferramenta principal para regular a política monetária, e só depois de elas começarem a subir é que o balanço começará a encolher.

A diminuição também acontecerá de forma gradual: em vez de vender os títulos de dívida que acumulou em carteira, o banco central deixará estes títulos vencerem, sem reinvestir o dinheiro em novos títulos.

O banco central também disse que pretende continuar injetando dinheiro na economia até o início de março por meio da compra de títulos de dívida. Alguns especialistas acreditavam que o Fed poderia encerrar já nesta reunião esta medida de estímulo, de forma a abrir caminho para outras medidas que antecipassem o recolhimento dos dólares distribuídos ao sistema financeiro durante os períodos de crise – como a redução de seu próprio balanço.

Na visão de Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos, “o tom menos rígido em relação à inflação (dovish, no jargão do mercado) acabou reduzindo expectativas de reduções mais bruscas dos estímulos vigentes”, o que causou a reação positiva.

Em Nova York, os índices reduziram perdas em relação aos últimos pregões: o Dow Jones fechou em baixa de 0,38%, e o S&P 500 caiu 0,15%, enquanto o Nasdaq subiu 0,02%. Na Europa, antes da decisão do Fed, o índice Euro Stoxx 50 teve forte alta de 2,12%.

Embalo das commodities segue a todo vapor

O preço do petróleo tipo Brent tocou US$ 90 ao longo do dia, em meio à crescente tensão entre Rússia e Ucrânia. A Rússia segue mobilizando tropas na fronteira com o país, mesmo depois de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter dito que consideraria impor sanções ao presidente russo, Vladmir Putin, caso haja uma invasão.

A possível invasão teria impacto sobre os preços da energia, visto que a Rússia é um dos maiores fornecedores de gás natural e petróleo para a Europa Ocidental. “Caso o fornecimento de gás natural e petróleo sejam interrompidos, a Europa terá de buscar outros fornecedores, o que poderá gerar forte aumento dos preços no mercado internacional”, afirmou a equipe de analistas da Genial Investimentos em comentários ao mercado.

A alta do petróleo impulsionou as ações da Petrobras (PETR4), que fecharam em alta de 2,67%, dando fôlego à alta do Ibovespa.

O minério de ferro também vem subindo, impulsionado pelo aumento da demanda com a aproximação do período de férias pós ano-novo chinês e ao choque da oferta, com a variante Ômicron do coronavírus gerando escassez de mão de obra para algumas mineradoras, segundo a Genial. A alta na commodity empurrou as ações da Vale (VALE3), que fecharam em alta de 0,29%.

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As siderúrgicas também subiram com o minério, com destaque para CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4), que registraram avanços de 2,32% e 1,79%. Em 2021, a produção mundial de aço cresceu 3,7%, enquanto a fabricação na China caiu 3% na comparação com 2020. Isso, na análise da Genial, “sinaliza um potencial para empresas pelo mundo adentrarem novos mercados, o que pode beneficiar o panorama, por exemplo, das siderúrgicas brasileiras para 2022”.

Cenário doméstico

Ao longo do dia, a Bolsa brasileira se beneficiou ainda do forte fluxo estrangeiro, que recorre a mercados emergentes contra uma potencial pressão por parte da alta das commodities e do cenário de inflação global e aumento dos juros nos EUA.

Em dados econômicos, a maior divulgação doméstica do dia foram os dados do IPCA-15 de janeiro. Após subir 0,78% em dezembro, o índice desacelerou para uma alta de 0,58% em janeiro, redução influenciada pela queda nos preços da gasolina e passagens aéreas. Apesar de perder ritmo, o aumento veio acima do esperado pelos analistas ouvidos pela Reuters, que apostavam em uma expansão de 0,43%. Em 12 meses, o indicador tem alta de 10,2%, abaixo dos 10,42% registrados em dezembro.

Na visão de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a desaceleração não alivia a perspectiva inflacionária, que segue muito ruim, “tendo em vista que as pressões altistas tenderão a perdurar pelo menos na próxima divulgação e os alívios tendem a não serem consistentes, dadas as intempéries climáticas correntes”.

Para economistas, o dado reforça as expectativas de novo aumento de 1,5% na taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) na semana que vem.

“Estamos presos numa situação difícil, onde dados econômicos ainda vêm ruins. Hoje, por exemplo, a FGV [Fundação Getúlio Vargas] mostrou que a confiança do setor de construção recuou, e mesmo assim a inflação persiste”, aponto o economista-chefe da Necton, André Perfeito, que anteriormente vinha apostando em uma alta menor na taxa, de 1,25 ponto. “Nos parece que outro ajuste de 1,5 pp é inevitável na próxima reunião.”

Além disso, depois de o Brasil ter sido convidado para participar da OCDE, com exigências como compromisso com políticas sustentáveis e zeragem do IOF, o presidente Jair Bolsonaro escreveu uma carta endereçada ao secretário-geral da organização, Mathias Cormann, em que agradece o convite e diz que o Brasil está alinhado com as práticas do grupo. O documento deu grande ênfase a questões ambientais e valores básicos, como liberdade individual e democracia.

Na seara eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista à rádio CBN do Vale do Ribeira, que um acerto com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmim seria positivo para ambos e para o país. “Depende de dois fatores: da minha decisão de ser candidato ou não, e da filiação do companheiro Alckmin a um partido que faça aliança com o PT”, disse.

O ex-presidente afirmou ainda que, caso vença a eleição, irá negociar com todas as forças do Congresso, e não apenas com sua base eleitoral ou partidos de esquerda. “Você negocia com quem está eleito, direita a esquerda, centro, com católico, evangélico, com ateu, com quem tem mandato para poder aprovar as coisas que o Brasil precisa. Essa é a política”, disse.

Destaques do pregão

No fechamento, as maiores altas do Ibovespa eram de Grupo Soma (SOMA3), Petz (PETZ3) e Méliuz (CASH3), com avanços de 9,76%, 7,33% e 6,91%, respectivamente. Na ponta oposta, Braskem (BRKM5), Americanas (AMER3) e JBS (JBSS3) tinham as maiores baixas, com quedas de 4,17%, 3,51% e 3,13%.

A alta do Grupo Soma surpreende, visto que a maior parte das varejistas, como a Americanas, perdeu força depois de o Fed sinalizar a primeira alta de juros em março.

A disparada da Petz veio depois da aquisição da Petix, líder de vendas de tapetes higiênicos e dona da marca SuperSecão, por aproximadamente R$ 70 milhões.

A aquisição, de acordo com Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos, está em linha com a visão da Petz de se tornar o maior ecossistema pet até 2025. “Enxergamos sinergias principalmente com a Zee.Dog, que ainda fabrica seus tapetes higiênicos no exterior, podendo agora internalizar parte dessa operação”, diz o analista, que também menciona a relação da Petix com mais de 8 mil pet shops como ponto positivo.

O Itaú BBA também vê a aquisição com bons olhos: “vemos esta aquisição como uma boa forma de a companhia impulsionar suas iniciativas de marcas privadas aumentando a variedade e explorando eventuais eficiências com a Zee.Dog, que já produz tapetes higiênicos”, disse o banco em relatório.

O Banco Inter (BIDI11) teve alta de 2,29% depois da conclusão da aquisição da fintech de remessas internacionais Unsend, que permitirá ao banco oferecer uma série de serviços nos EUA.

Fora do Ibovespa, a Inepar (INEP3), que está em recuperação judicial, disparou 14,89% depois de receber uma proposta da gestora americana Melville Capital para adquirir duas unidades da companhia por US$ 125 milhões. Em comunicado, a Inepar disse considerar a venda dos ativos “como importante aliado para finalização de seu processo de reestruturação”.

A queda da Braskem (BRKM5), depois de a ação ter registrado alta na abertura, vem um dia antes da precificação dos papéis para um follow-on. Outros fatores, como a retirada de incentivos fiscais da cadeia de produção dos EUA, também podem estar fazendo peso.

A forte queda de JBS (JBSS3) e dos demais frigoríficos reflete a queda do dólar, visto que estas empresas têm parte de sua receita dolarizada e atrelada à exportação.

A Marfrig (MRFG3) teve baixa de 2,33%, mesmo depois de anunciar a aquisição de duas startups complementares ao seu negócio: a brasileira Quiq, plataforma de gestão de pedidos online de restaurantes, e a americana Takeoff Technologies, de soluções automatizadas de atendimento e gerenciamento de estoque de alimentos para redes de supermercados e pequenos comércios. Os investimentos somam US$ 7 milhões.

A Embraer (EMBR3) também teve queda significativa, de 2,07%, depois de informar que a sua divisão de aviação comercial voltou a operar inteiramente dentro da estrutura da companhia, após passar quase dois anos funcionando separadamente. A cisão operacional havia acontecido por causa de um acordo com a Boeing assinado em 2018, mas que foi rescindido pela empresa americana em abril de 2020.

Segundo a empresa, a reintegração permitirá “o aproveitamento das competências e recuperação de sinergias, garantindo benefícios operacionais e eliminando ineficiências fiscais”.

Tim (TIMS3) e Vivo (VIVT3) também tiveram forte queda, de 2,24% e 1,38%, respectivamente, pressionadas pelo atraso no julgamento dos ativos da Oi (OIBR3) pelo Cade. A ação da Oi teve alta de 2,25%.

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