Com pressão de blue chips e volta do temor fiscal, Ibovespa cai 1,63%; índice sobe 0,25% na semana

Na seara política, o risco voltou a assustar o mercado após falas do presidente Lula sobre gastos públicos

Foto: Shutterstock/Bigc Studio

Pressionado pelas blue chips, ações com maior peso na Bolsa brasileira, o Ibovespa desabou nesta sexta-feira (27) e praticamente apagou todos os ganhos registrados ao longo da semana.

O principal índice da B3 encerrou o pregão em queda de 1,63%, aos 112.316 pontos e R$ 17,39 bilhões em volume negociado, segundo dados da plataforma TradeMap.

O desempenho faz o Ibovesta registrar alta de 0,25% na semana, enquanto desde o início do ano a valorização é de 2,35%.

Blue chips puxam para baixo

A queda do índice teve forte influência das blue chips. A Vale (VALE3), companhia com a maior fatia do Ibovespa, perdeu 2,74%.

Os papéis da Petrobras também voltaram a fechar no negativo. As ações preferenciais (PETR4) perderam 2,21%, enquanto as ordinárias (PETR3) caíram 2,27%.

O movimento de queda, também observado na véspera, reflete o temor dos investidores com a oficialização de Jean Paul Prates para o comando da estatal, apesar de o nome do senador já ser dado como certo há semanas.

Em vídeo distribuído aos funcionários da empresa ao qual à Agência TradeMap teve acesso, o ex-senador afirma que a estatal pode acelerar sua agenda de sustentabilidade para promover uma “transição energética justa”.

Para o executivo, é fundamental que a Petrobras aplique sua experiência no desenvolvimento de novas fontes de energia, sejam elas bioprodutos ou outras fronteiras de energia renovável.

Os bancos, outro setor com forte influência no índice, também caíram em bloco, ainda repercutindo o colapso da Americanas (AMER3) devido à forte exposição do segmento a varejista.

O Bradesco (BBDC4) caiu 2,97%, enquanto BTG Pactual (BPAC11) e Itaú (ITUB4) cederam 2,22% e 2,12%, respectivamente.

Saiba mais:

Lula e governadores

Na pauta política, o mercado avaliou a reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com governadores para discutir as exonerações do ICMS – imposto de origem estadual -, que atualmente possui um teto para produtos como combustíveis, energia e transporte coletivo.

No encontro, o presidente ressaltou a guinada do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para investir em obras públicas.

Segundo Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital, o recado elevou os temores do mercado sobre o compromisso da União em manter os gastos sob controle e diminuir a dívida pública.

“Tivemos movimento de queda muito relacionado com a volta de uma preocupação fiscal e possibilidade de a União compensar estados por perda de arrecadação com ICMS”, afirmou.

Diante deste contexto, o dólar encerrou com alta de 0,72%, a R$ 5,11. Os juros futuros também subiram. Os contratos para 2024 fecharam a 13,42%, alta de 9 pontos-base, enquanto as opções para 2026 foram a 12,81%, com alta de 14 pontos-base.

Altas do dia

Na ponta de cima, o indicador voltou a ser liderado pela Magazine Luiza (MGLU3), com salto de 5,84%. O desempenho mostra a manutenção do fluxo positivo de investidores do setor varejistas que abandonaram as apostas na Americanas nas últimas semanas.

Na sequência, CVC (CVCB3) e Hapvida (HAPV3) fecharam com avanço de 5,76% e 3,60%, nesta ordem.

No caso da operadora de saúde e da Rede D’Or (RDOR3), que subiu 2,29%, as altas refletem os dados de planos de saúde em 2022. De acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o ano fechou com 50,5 milhões de beneficiários, o maior número desde dezembro de 2014.

A SLC Agrícola (SLCE3) também integrou o pelotão de alta, com avanço de 0,54%. O ânimo do mercado com as ações da empresa reflete o otimismo da abertura dos portos chineses para os cerais brasileiros, disse a Genial Investimentos, em relatório.

Os analistas também destacaram o potencial de atratividade para a BrasilAgro (AGRO3), que não é listada no principal índice da Bolsa brasileira.

Segundo a corretora, apenas em dezembro do ano passado, o país asiático recebeu 1,2 milhão de toneladas. Em paralelo, os Estados Unidos, os maiores fornecedores de milho para a China, devem reduzir em 70% o envio de grãos para a China em 2023.

“A China deve recorrer ao Brasil para suprir uma quantidade substancial de sua demanda, beneficiando empresas produtoras de milho como SLC e BrasilAgro”, informou a corretora.

Bolsas globais e criptos

Lá fora, os mercados globais fecharam em alta, com os investidores analisando os últimos dados da inflação americana antes da primeira reunião do Fed (o banco central dos EUA) do ano para decidir os juros, marcada para a próxima semana.

Em Nova York, o Dow Jones subiu 0,08%, enquanto o S&P 500 fechou em alta de 0,25%. A Nadasq, que concentra as ações de empresas de tecnologia, mais sensíveis aos juros, avançou 0,95%. Na Europa, o Euro Stoxx 50 valorizou 0,10%.

A inflação na maior economia do mundo, medida pelo PCE, subiu 0,1% em dezembro, percentual igual ao do mês anterior. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação norte-americana avançou 5%, menor que os 5,5% prévios.

“Números vieram em linha com o esperado e, como não trouxeram indicativos de alta da inflação, foi uma boa notícia e reforçou o aumento de 25 p.p na taxa de juros pelo Fed na semana que vem”, afirmou Duarte, da AVG Capital.

Já o núcleo do índice subiu 0,3% em dezembro na comparação com novembro e 4,4% na comparação com dezembro de 2021.

Na avaliação de Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, os dados do PCE deixam claro que o principal foco do Fed agora é a inflação de serviços.

“O Fed deve seguir com mais ajustes na taxa de juros no primeiro trimestre deste ano. Acreditamos que a taxa terminal de juros deve alcançar o pico em 2023, ficando no intervalo entre 5% e 5,25%, com cortes apenas em 2024”, afirma o economista.

Seguindo o caminho das Bolsas globais, as criptos voltaram a operar no campo positivo. Por volta das 17h, o Bitcoin (BTC) subia 2,6% em comparação as últimas 24 horas, acima de US$ 23 mil. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) valorizava próximo de 0,3%, na faixa de US$ 1,6 mil.

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.