Cielo (CIEL3), Getnet (GETT11) ou Stone (STNE): setor de maquininhas derrete em um ano; vale a pena comprar?

Competição acirrada e cenário desfavorável provocaram queda nos preços

Foto: Unsplash

Após a recente cisão com o Santander Brasil, a Getnet estreou em outubro na B3 e tornou-se uma nova opção de investimento em empresas do segmento de maquininhas, juntando-se às suas concorrentes de capital aberto: Cielo, na bolsa brasileira, e Stone, na Nasdaq.

No primeiro dia de negociação, as units da Getnet (GETT11) fecharam com salto de quase 64%, a R$ 7,72, mas agora estão 47% abaixo deste nível, a quase R$ 4. O movimento, neste caso, pode ser explicado por especulação, segundo Sandra Peres, analista CNPI do TradeMap. 

Como a oferta de ações da Getnet não teve lock-up, um período em que o acionista que entra na IPO (oferta pública inicial, em português) tem de ficar com os papéis mantidos em carteira, houve espaço para uma estratégia no mercado conhecida como “flipar” – a venda das ações logo em seguida à estreia na bolsa para lucrar com valorização dos papéis.

“A empresa também entrou forte no mercado por ser um ‘spin-off’ das operações do Santander, que já tinha consolidado a Getnet e depois a tornou uma companhia independente”, diz Peres. 

As ações da Cielo (CIEL3) e da Stone (STNE) também não andam muito bem das pernas. Nos 12 meses até 17 de novembro, os papéis acumulam perdas de 37,1% e 66,9%, respectivamente.  

O setor de maquininhas tem sido pressionado pelo impacto negativo que a pandemia exerceu sobre o varejo – em particular sobre os pequenos lojistas e comerciantes, que utilizam as maquininhas como meio de pagamento. Com a diminuição no volume de pagamentos, as empresas lucraram menos.   

O Pix é outro elemento que prejudica os resultados das empresas de maquininhas, porque serve como forma de pagamento alternativa e de menor custo – o comerciante não precisa pagar a taxa do cartão, por exemplo. 

Especialistas também destacam a diversidade de empresas atuando no segmento como um fator negativo para o investidor, pois isso aumenta a concorrência e a dificuldade de as companhias operarem e garantirem margens de lucro.  

Há sinais positivos em companhias específicas, mas o tom dos analistas em relação ao setor é de cautela. 

Infografico Cielo Getnet e Stone
Guerras da maquininhas

Presença no mercado

A Cielo, que em anos anteriores era um caso de sucesso porque mantinha praticamente um duopólio com a Rede no mercado de maquininhas, sofreu queda expressiva nos preços por causa do aumento da concorrência no setor e da perda de participação no mercado de cartões, como comenta Carlos Daltozo, head de renda variável na Eleven Financial.

Até o segundo trimestre deste ano (dado mais atualizado), a empresa tinha uma fatia maior que a Getnet e a Stone, conforme levantamento do TradeMap.

Market Share

No entanto, a participação da Cielo caiu em relação há um ano, quando detinha 35,8% do mercado. Em contrapartida, tanto a Getnet quanto a Stone apresentaram crescimento de 3,4 e 0,6 pontos percentuais, respectivamente, ficando atrás da Rede, credenciadora do Itaú Unibanco e detentora da segunda maior fatia de mercado, de 25,7%.

De 2018 para cá, a Cielo perdeu presença, principalmente entre os pequenos comerciantes, base mais rentável de clientes. As concorrentes apresentaram ofertas mais vantajosas aos microempreendedores individuais, como é o caso da Stone.

Daltozo, da Eleven, não demonstra otimismo com a recuperação da Cielo junto a médias e pequenas empresas. Para ele, o setor de adquirentes ficou muito competitivo, o que dificulta sua expansão.

“Por conta da competição, nos últimos anos, a Cielo sofreu sucessivas perdas de participação de mercado, culminando em uma forte desvalorização de quase 90% do seu valor de mercado desde seu pico, há cinco anos”, disse Eduardo Nishio, head de research e finanças da Genial Investimentos.

Quanto maior a altura, maior a queda

Apesar de a Cielo ser líder em market share atualmente, a companhia apresenta um valuation menor do que algumas adversárias “novatas”, com cerca de R$ 6,17 bilhões. A Stone tem um valor de mercado de US$ 8,2 bilhões (cerca de R$ 45,5 bilhões), enquanto a Getnet é avaliada em R$ 3,8 bilhões.

CIEL3
Fonte: TradeMap

A Cielo, além da perda de participação no mercado, também é afetada pela percepção a respeito da interação entre seus controladores – Banco do Brasil, empresa estatal, e Bradesco, empresa privada. Nishio, da Genial, acredita que isso possa ter diminuído a velocidade de reinvenção da empresa, enquanto o mercado se torna mais tecnológico. Não à toa, a Stone comprou a Linx neste ano, focando em soluções de software e produtos financeiros para expandir suas receitas.

“Ter um controlador estatal gera especulações que, apesar de nem sempre serem verídicas, podem aumentar a percepção de risco do investidor”, diz.

Nem tudo são flores na Stone

A Stone tem um valor maior que o da Cielo apesar de dominar uma parcela menor do mercado, mas também enfrenta dificuldades.

Em agosto deste ano, ela divulgou um relatório apontando problemas com o novo sistema de registro de recebíveis, que começou a vigorar no Brasil em 7 de junho. A migração resultou em desafios operacionais, segundo a empresa, o que fez pausar a oferta de crédito e ajustar suas projeções de recuperação de crédito em atrasado para baixo, além de observar uma inadimplência maior do que a reportada em outros períodos.

Daltozo elenca esses problemas à queda expressiva das ações na Nasdaq, que já vinham em tendência de baixa desde o começo do ano, mas que derreteram ainda mais a partir da publicação do documento. Na época, os papéis estavam cotados na casa dos US$ 50.

O balanço do terceiro trimestre da Stone aumentou ainda mais a pressão sobre o preço dos papéis, visto que os resultados vieram abaixo do previsto e a companhia disse que as margens de lucro devem permanecer abaixo dos níveis históricos no curto prazo. A reação do mercado foi brusca: as ações na Nasdaq caíam quase 30% em reação à notícia.

Recomendações

Mesmo com a ação tendo derretido nos últimos anos, a Genial recomenda a compra dos ativos CIEL3, com o preço-alvo em R$ 3,50 para dezembro deste ano, o que representa potencial valorização de 56%.

A casa aponta que, desde o prejuízo líquido reportado no segundo trimestre de 2020, a Cielo mostrou certa recuperação nos indicadores por meio de corte de custo e melhora no NPS (Net Promoter Score), métrica utilizada para avaliar a satisfação dos clientes, além do preço excessivamente descontado desde meados de 2016.

“No curto prazo, a dinâmica é mais positiva, tendo em vista a retomada dos volumes financeiros com a reabertura econômica, aumento de produtos com antecipação embutidos, crédito e os potenciais desinvestimentos em subsidiárias, como a Merchant e-Solutions“.

A Eleven Financial segue com a recomendação em revisão, uma vez que os últimos resultados da companhia vieram aquém do esperado pela casa de análise – com exceção do terceiro trimestre deste ano. Na metade de 2020, a research chegou a recomendar venda, quando as ações custavam por volta de R$ 5 a R$ 6.

De maneira geral, Daltozo pontua que a Eleven tem evitado entrar no setor de maquininhas, justamente por ter muita competição e em um cenário “agressivo” – por isso, não há cobertura para os papéis da Getnet e da Stone. Apesar dessa disputa ser boa para o consumidor, o head de renda variável enxerga outros setores menos arriscados para a carteira do investidor, como o de seguros, que também se beneficia da taxa básica de juros elevada e é um mercado mais “maduro”.

Os ativos da Stone contam com muito mais recomendações de compra, de acordo com o consenso da Refinitiv. Ao todo são 11, como aponta a tabela abaixo. As ações de Getnet ainda não possuem cobertura por terem pouco tempo de casa.

Consenso da Refinitiv 

 

COMPRAR 

MANTER 

VENDER 

Preço-alvo 
mediana 

CIEL3 

1

10 

R$ 3,45

STNE 

11 

– 

US$ 58,29

 Fonte: Refinitiv (em 17 de novembro de 2021)

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