A cotação do dólar tem espaço para cair logo após as eleições. Na avaliação do economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, a cotação do real está entre 10% e 20% acima do que seria o preço ideal, mas deve ceder com uma maior clareza em relação a qual política fiscal será adotada por um novo governo.
“A cotação do dólar está respondendo às incertezas. A situação se acalmando, o país deve capturar [o efeito do] fluxo de investimentos e a moeda deve se apreciar”, disse ele durante o Abecip Summit, evento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança.
A cotação do dólar está variando entre R$ 5,10 e R$ 5,30. Para Honorato, o patamar deveria ser inferior devido às contas externas do país, que possui reservas elevadas e um investimento direto externo que compensa o déficit em transações correntes (que reúne as transações do Brasil, como transferências e pagamento de serviços, com o restante do mundo).
O economista vê ainda como fatores positivos para a economia brasileira a situação financeiras das empresas, que estão menos endividadas e, por isso, sofrerão menos com o atual ciclo de juros elevados – a taxa Selic está em 13,75% ao ano.
“A alta dos juros vai machucar menos e as empresas vão responder mais rápido à desaceleração da economia esperada para o começo de 2023 porque os balanços estão mais leves”, avaliou.
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Honorato vê ainda a demanda como outro fator que deve estimular a economia. Esse aumento da demanda vem da melhora do mercado de trabalho, apesar do aumento da desigualdade. O Bradesco acredita que a taxa de desemprego ao final de 2022 ficará em torno de 8%.
Copo meio vazio
Apesar dos pontos de resiliência, o economista do Bradesco vê alguns fatores de preocupação em relação à economia brasileira.
O primeiro é que os juros ficaram elevados ao menos até meados do ano que vem, o que deve coibir investimentos. A inflação é outro fator de preocupação, já que consome a renda das famílias e elas ficam impossibilitadas de fazer novas aquisições, como a compra de um imóvel.
Já o segundo fator é a falta de uma regra fiscal, que possa permitir que os juros fiquem em patamares baixos por mais tempo.
“Quanto maior a incerteza (fiscal), mais esse cenário vai se prolongar”, disse, acrescentando que espera que isso só se resolva com o fim do período eleitoral.