BB Seguridade (BBSE3) busca parcerias para “navegar em mar aberto” – confira entrevista com o CEO

Vendas de seguros feitas pela companhia que ocorrem sem ser por meio do Banco do Brasil saíram de menos de 1% no ano passado para 5% do total em 2022

Foto: Shutterstock

A BB Seguridade, holding dos negócios de seguros do Banco do Brasil, tem pressa para navegar por águas ainda inexploradas.

A companhia, que historicamente é conhecida por vender seguros apenas para clientes do BB, corre para atingir também o público que está fora do banco, por meio de parcerias com outras instituições financeiras.

É o que mercado chama de “navegar em mar aberto”, um jargão usado por empresários e empreendedores para exaltar a liberdade para “pescar” novos clientes sem se restringir a um ambiente específico.

Não que o BB, um dos maiores bancos do país, já não seja um baita oceano. Mas a holding entendeu que, se quiser crescer mais, terá de ir além. Ou, como diz o poeta português Fernando Pessoa: navegar é preciso.

Até meados do ano passado, a quantidade de seguros que a BB Seguridade vendia fora do banco não chegava a 1% do total. Hoje, após 15 parcerias fechadas com outras instituições, as vendas por esse tipo de canal já alcançam a fatia de 5%.

“E nós estamos colocando zero de investimento no ‘fronte’ nessas parcerias. Eu brinco até que são parcerias no amor”, afirma o CEO da BB Seguridade, Ullisses Assis, em entrevista à Agência TradeMap. Segundo ele, há mais dez parcerias em negociação.

Entre os parceiros já fechados, estão o Banco Original, do grupo J&F, da família Batista, que vende produtos de previdência e capitalização da BB Seguridade, e o Modal, comprado pela XP, que comercializa produtos de previdência.

Assis, porém, ressalta que o Banco do Brasil sempre foi, é e continuará sendo o principal canal de vendas para a BB Seguridade. “Mas não podemos nos dar o luxo de não crescer em mar aberto”, diz.

Segundo o CEO, as parcerias têm sido feitas tanto para vender em canais físicos quanto digitais, com instituições que querem comercializar seguros com as marcas da BB Seguridade e também com as que preferem o modelo “white label”, em que a companhia fornece o produto, mas a marca é a do parceiro.

“Estamos abertos a qualquer tipo de parceria”, ressalta o executivo.

Por enquanto, a maior parte das parcerias tem se concentrado em seguros agrícolas. No primeiro semestre, a BB Seguridade vendeu R$ 347 milhões em seguros por meio de parcerias, dos quais R$ 299 milhões no segmento rural, um dos fortes da companhia.

Dá para crescer?

O esforço da BB Seguridade para mostrar que é capaz de crescer tem como pano de fundo o fato de que a empresa é vista por investidores e analistas como um negócio já consolidado, sem tanto espaço para expansão.

É o que mercado chama de empresa “de valor”. Não quer dizer que esse tipo de companhia não seja um bom investimento. Embora o potencial de crescimento seja menor, a empresa também embute um risco menor, por já ter se provado no mercado.

Uma das forças da BB Seguridade está na capacidade de crescer tanto em cenário de avanço econômico quanto em contextos de crise, que geralmente incluem juros altos.

Se a economia está aquecida, a empresa vende mais seguros. Já se os juros estão altos, a companhia ganha com as aplicações em renda fixa que realiza com o dinheiro que recebido dos clientes.

No segundo trimestre deste ano, por exemplo, a empresa teve lucro líquido de R$ 1,4 bilhão, crescimento de 86,6% em relação a igual período de 2021, em um cenário em que a Selic chegou a 13,25% ao fim de junho, no maior nível desde 2017.

Só o resultado financeiro (indicador que inclui os ganhos da empresa com os juros) ficou positivo em R$ 166 milhões no intervalo de abril a junho, revertendo resultado negativo de igual período do ano passado, de R$ 102 milhões, quando a Selic estava em 3,5%.

Quais são as recomendações?

O lucro líquido surpreendeu positivamente casas como Goldman Sachs e Itaú BBA, que recomendam a compra do papel da empresa. Segundo levantamento da Refinitiv, disponível na plataforma do TradeMap, dez instituições acreditam que vale a pena comprar a ação da BB Seguridade.

A Inter Invest, corretora do Banco Inter, por exemplo, é uma das que recomendam a compra das ações da BB Seguridade e coloca a companhia como a preferida do setor de seguros.

“É uma empresa que tem um perfil de resiliência”, afirma o analista Matheus Amaral, que acompanha empresas do setor financeiro na Inter Invest, em entrevista à Agência TradeMap.

Outro atrativo da BB Seguridade para os investidores é a capacidade que a companhia tem para pagar dividendos gordos.

No primeiro semestre, a empresa teve lucro líquido de R$ 2,1 bilhões e separou 80% desse total para distribuir a acionistas. E a BB Seguridade já disse que, ao final do ano, a parcela do lucro que será destinada a dividendos deverá ser maior.

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Até por isso, quem tem essa ação na carteira costuma ficar atento quando a companhia fala em investir. Se a empresa decide elevar os investimentos, isso pode significar uma menor destinação dos lucros para o acionista.

Mas, se o acionista da BB Seguridade ficar preocupado com a capacidade de distribuição de dividendos, ao ver a empresa investindo mais, Assis tem a resposta: “só vamos investir naquilo que obviamente pode nos trazer muito mais resultados.”

Quais são as iniciativas na busca por mais resultados?

Embora não esteja tendo custos com as parcerias que tem feito, a BB Seguridade tem investido em transformação digital, de modo a ampliar os horizontes. No ano passado, foram R$ 300 milhões investidos. Para este ano, estão previstos cerca de R$ 600 milhões.

O objetivo principal da transformação digital é que todos os produtos da companhia tenham uma arquitetura aberta para poderem se encaixar em qualquer tipo de parceiro, de forma física ou digital, e com condições de serem customizados, a depender da necessidade do parceiro.

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Segundo Assis, 55% da transformação já foram realizadas e tudo deve estar pronto até o fim de 2022, antecipando em um ano o plano inicial. “Isso vai nos dar um enorme poder de fogo no mercado”, afirma o executivo.

De acordo com ele, a antecipação dos investimentos se justifica porque a empresa não quer perder o “bonde” da transformação digital pela qual passa o mercado.

Mas como ficam as agências bancárias?

Um dos pontos de atenção no mercado é a tendência do setor bancário fechar agências físicas, o que poderia restringir os canais de vendas da BB Seguridade. Só no ano passado, o Banco do Brasil fechou 398 agências, encerrando 2021 com uma rede com 3.979 unidades.

O CEO da BB Seguridade, porém, ressalta que o banco já diminuiu o ritmo de enxugamento da rede de agências e lembra que a maior parte dos clientes da holding já é habituada às ferramentas digitais.

Segundo ele, dos oito milhões de clientes da BB Seguridade, seis milhões utilizam o aplicativo do banco de maneira recorrente. “E boa parte consome apenas um produto”, destaca o executivo, indicando que a BB Seguridade tem espaço para crescimento das vendas dentro da própria base, com a oferta de mais produtos para o mesmo cliente.

Além disso, ressalta, o banco tem apostado em agências especializadas – destinadas a um cliente de renda mais alta -, e que se diferenciam por poder oferecer um trabalho de assessoria mais personalizado.

“Para esse modelo, o banco não vai diminuir rede. Na verdade, vai expandir”, informa. “É um cliente que gosta do digital, mas que requer uma assessoria mais de perto”, afirma o executivo, citando, como exemplo, a ocasião da venda de produtos de previdência e a voltada para o agronegócio.

O fato é que a comercialização por meio de canais digitais, no banco ou fora do banco, têm crescido. No primeiro semestre, avançaram 15% e passaram a representar 12,9% do total de seguros vendidos pela holding, ante o nível de 11,8% visto na primeira metade do ano passado.

Para o executivo, a empresa, com a estratégia que tem adotado, possui condições de “dobrar de tamanho” em um “universo não muito distante”.

Assim preferiu não cravar uma projeção, mas lembrou que o mercado brasileiro de seguros ainda tem espaço para crescer em comparação a países mais desenvolvidos.

“No Brasil, o mercado de seguros representa 4% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto, em países desenvolvidos, isso é o triplo, de 12%”, destaca. “No segmento rural, o Brasil tem 15% da área plantada segurada. Já nos Estados Unidos, isso é 90%.”

Em relação a investimentos para o ano que vem, o CEO diz que é difícil fazer previsões, mas destacou que a BB Seguridade não perderá oportunidades por economia ou falta de apetite. “Não precisamos escolher entre estratégia A ou B, podemos e temos tamanho para poder tocar A e B ao mesmo tempo.”

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