A alta de juros nos Estados Unidos vai acelerar em maio. Esta foi a conclusão dos investidores após ouvirem o discurso do presidente do banco central do país, Jerome Powell, nesta segunda-feira (21). A alta mais intensa nos juros americanos é tida como um dos fatores que podem atrapalhar o avanço do mercado de ações brasileiro.
Powell disse em seu pronunciamento que “há uma óbvia necessidade de agir rapidamente e retomar a posição da política monetária a um nível mais neutro, e então passá-la a níveis mais restritivos se isso for necessário para restaurar a estabilidade de preços”.
O trecho chamou a atenção do mercado por causa da referência de Powell à necessidade de uma ação rápida do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, no combate à inflação.
O presidente da instituição repetiu essa menção à rapidez no trecho final do discurso, dizendo que “está crescendo o risco de um período estendido de inflação elevada empurrar as expectativas de longo prazo desconfortavelmente para cima, o que ressalta a necessidade de o Comitê se mover rapidamente.”
Os comentários dele mexeram com as expectativas do mercado a respeito de qual será a trajetória da taxa referencial de juros nos EUA.
Dados divulgados pelo CME Group na sexta-feira (18) com base em negócios no mercado futuro de juros apontavam que os investidores viam 56,1% de chance de o Fed elevar a taxa em mais 0,25 ponto porcentual (pp) em 4 de maio. Hoje, após o discurso de Powell, este índice caiu a 40,6%. Em compensação, a probabilidade de uma alta mais intensa, de 0,50 pp, aumentou de 43,9% para 59,4% na mesma base de comparação.
Para a reunião do mês seguinte, em 15 de junho, a previsão majoritária passou a ser de 0,25 pp, ante estimativa anterior de 0,50 pp.

Mudança de expectativas pode afetar mercado brasileiro
O aumento mais intenso dos juros nos Estados Unidos pode ter efeito negativo para os preços dos ativos brasileiros, que tem sido impulsionados em parte pelo fluxo de investimento estrangeiro direcionado ao Brasil nos últimos meses.
Quando os juros sobem em países desenvolvidos, em especial na maior economia do mundo, que é a americana, a tendência é que aconteça um fenômeno batizado de “flight to quality” (quando investidores deixam ativos de maior risco, como os de países emergentes como o Brasil, para buscarem papéis considerados mais seguros).
Como os títulos da dívida pública dos EUA, conhecidos como treasuries, são considerados os ativos mais seguros do mundo, o interesse por eles sobe consideravelmente quando passam a pagar mais ao investidor.
Nessas horas, os investidores comparam os juros e a inflação dos EUA com esses mesmos indicadores para Brasil, calculando o chamado diferencial de juros. A partir dessas informações, avaliam o que vale mais a pena para a alocação de recursos em termos de risco e retorno.
O Ibovespa sentiu um breve impacto do discurso de Powell, que foi publicado por volta das 13h30 (de Brasília). Neste horário, o índice chegou a cair para 115. 520 pontos, queda de 0,31% em relação ao nível observado antes do pronunciamento. Por volta das 15h20, o índices subia 0,38%, a 115.761 pontos.