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Alerta ligado: previsão de menor demanda da China por carnes deixa investidores de sobreaviso

Relatório produzido pelo USDA prevê menos demanda de carne bovina e suína pela China no ano que vem

Foto: Shutterstock

Um relatório produzido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) divulgado na última semana deixou os investidores do setor de frigoríficos com um certo temor. Isso porque o órgão informou que prevê que as importações de carne bovina e suína da China recuem no próximo ano, respectivamente, 19% e 8% na comparação com 2022.

Diante disso, as ações dos frigoríficos brasileiros – JBS (JBSS3), BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), que dependem, em escalas diferentes, do gigante asiático, vêm enfrentando dias difíceis na Bolsa.

Mas, segundo chefe de análise de renda variável da ACE Capital, Wesley Okada, ainda é cedo para tirar alguma conclusão sobre o relatório. De acordo com ele, por mais que o USDA preveja mais estoques na China, o histórico de consumo chinês traz alento. “Historicamente, a demanda chinesa por carne é crescente ao longo do tempo mesmo em momentos de estoque alto por lá”, afirma.

Para Okada, essa possível menos demanda da China seria causada por dois fatores. O primeiro é a “política de Covid-19 zero” no país, que, por forçar as pessoas a ficar em casa, diminui o consumo em restaurantes, por exemplo. O outro ponto é uma menor oferta proveniente da Argentina e do Uruguai. “É uma projeção, pode ser revisada para cima ou para baixo. Não vejo isso como superalarmante.”

A queda dos papéis

O documento do USDA foi divulgado no dia 7 de setembro. Como não houve pregão na B3 na ocasião devido ao feriado de Independência do Brasil, o efeito nos papéis do setor só foi sentido no dia 8, quando a maioria recuou. Veja abaixo:

Empresa Ticker Performance no dia 8 de setembro
JBS JBSS3 -4,99%
Marfrig MRFG3 -5,84%
BRF BRFS3 +0,61%
Minerva BEEF3 -2,16%

O analista do setor de alimentos da Genial Investimentos, Adriano Castro, acredita que a queda foi “irracional” e não se justifica. “Vivemos um ciclo de gado positivo por aqui, e esperamos que, na segunda metade do ano e em 2023, haja uma alta disponibilidade de gado, elevada produção de carne bovina. Isso vai fazer os frigoríficos terem acesso a um produto mais barato e com mais disponibilidade”, afirma.

Castro também considera que, mesmo com queda na demanda, o cenário no curto prazo é positivo. “Ainda temos muito o que ‘espremer’ da China”, diz, acrescentando que uma exposição no setor até o final do ano via ações da Minerva.

Já Okada, da ACE Capital, considera o movimento de queda das ações como uma antecipação de alguns investidores exatamente por essa relevância da China no mercado de carne. “É um sinal amarelo de que o setor pode encarar um problema no futuro.”

O analista da INV, João Abdouni, vê as ações dessas empresas ainda num momento turbulento este ano, principalmente pelo momento complicado da China, de incertezas quanto aos lockdowns. Diante disso, ele prefere uma exposição em ações ligadas ao agronegócio via SLC Agrícola (SLCE3).

Qual empresa se prejudicaria mais?

Os analistas ouvidos pela Agência TradeMap se dividem na aposta de qual empresa se prejudicaria mais com uma demanda menor da China.

Wesley Okada acredita que a Minerva se prejudicaria mais por ter uma exposição maior à China. “Se você realmente tiver uma menor demanda de carne bovina da China, a Minerva é a mais afetada. A exposição dela a outros países como Argentina e Uruguai é menor do que à da Ásia”, afirma.

O balanço do segundo trimestre da empresa mostrou que o continente asiático respondeu por 46% do total exportado do período. As exportações para a China corresponderam a 38% do montante enviado ao exterior pela companhia. Da receita bruta de R$ 8,96 bilhões obtida pela Minerva, R$ 6,36 bilhões vieram do mercado externo.

Okada também ressalta que a Marfrig, mesmo sendo o maior player de exportação do setor para a China, ainda possui muitas operações nos Estados Unidos, o que acabaria minimizando o problema.

No segundo trimestre deste ano, a companhia obteve 74% do total das receitas de exportação da China e de Hong Kong. Dos R$ 7,11 bilhões, R$ 4,76 bilhões vieram de mercados externos, sendo R$ 3,52 bilhões do gigante asiático.

Dentre as empresas, a JBS, gigante do setor, deve ficar um pouco mais tranquila em relação à possível demanda do mercado chinês. Para Castro, analista da Genial, isso ocorreria pelo fato de a companhia ter uma exposição muito grande a outros mercados, como o americano, por exemplo.

O ponto é que a empresa vende cerca de 75% da sua produção nos mercados domésticos que atua, e os outros 25% são exportados.Em termos de receita, dos R$ 92,2 bilhões totais de abril a junho, 73% são provenientes da Austrália e dos Estados Unidos, principalmente.

Dentro desse montante que é exportado, o mercado asiático continua sendo o comprador mais “importante” da JBS. “A China, que mesmo diante dos lockdowns, manteve os volumes de compra elevados, crescendo mais de 35% no acumulado do ano”, afirmou a empresa no balanço.

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A BRF também não é muito exposta ao mercado chinês. No segundo trimestre deste ano, a empresa teve um volume total vendido de 547 mil toneladas de aves, suínos e processados no Brasil e 478 mil toneladas no exterior. Destes 478, 121 mil toneladas são originados da Ásia, onde a China é o principal comprador.

Para além da questão da China, Abdouni, da INV, acredita que a BRF é uma empresa que pode ter um curto prazo complicado por conta de um aumento no preço de alguns grãos, já que a empresa possui uma grande exposição a frangos e suínos.

“Apesar de uma boa safra no Brasil, a seca na Europa e na própria China estressa o custo dos grãos. Já vemos o preço do milho perto das máximas, e isso acaba sendo custo principalmente para a BRF”, comenta.

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