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Tango triste: Argentina tem juros de 75% ao ano e inflação que pode chegar a três dígitos

Acordo com o FMI prevê que país mantenha juros maiores que as taxas de inflação

Foto: Shutterstock

Tentando controlar uma inflação que pode fechar o ano perto de 100%, o Banco Central da Argentina fez a oitava elevação seguida de sua taxa básica de juros, que agora está em 75% ao ano – a majoração foi de 5,5 pontos percentuais.

E para as pessoas físicas que possuem até 10 milhões de pesos (cerca de R$ 370 mil pela cotação oficial) aplicados, a taxa efetiva é ainda maior, de 107,35%.

A título de comparação, a taxa básica de juros no Brasil, a Selic, atualmente está em 13,75% ao ano.

O aperto monetário foi a forma encontrada pela Argentina para lidar com a inflação, que já passa dos 70% ao ano. Mas apesar do juro exagerado e da inflação galopante, o país ainda tem conseguido acelerar o crescimento do PIB e a taxa de desemprego está abaixo de 7%.

Essa enxurrada de números mostra como a situação do país é complexa – e sem horizonte para uma melhora.

Acordo com FMI

O aumento dos juros e a rentabilização dos depósitos é uma das exigências do FMI (Fundo Monetário Internacional), que em março fez a reestruturação de uma dívida de US$ 44 bilhões da Argentina.

“A autoridade monetária considera necessário incrementar mais uma vez a taxa de política monetária e consolidar dessa forma o processo de normalização da estrutura das taxas de juros ativas e passivas das economias, para deixá-las em terreno positivo em termos reais”, justificou o BC argentino.

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O objetivo é que os poupadores prefiram deixar o dinheiro aplicado a comprar dólares.

Um dos problemas econômicos da Argentina é o baixo nível de reservas internacionais, que estão em US$ 37,7 bilhões (cerca de 10% do que o Brasil possui). Os juros altos estimulam a poupança, e a expectativa é que esse número ao menos pare de cair.

Inflação de três dígitos

O juro é um dos remédios para tentar lidar com a inflação. O aumento de preços no acumulado do ano até agosto está em 78,5%. A expectativa é que feche o ano entre 90% e 100%.

Não é desde agora, no entanto, que a Argentina convive com inflação elevada.

A inflação só “desapareceu” durante o período em que durou a conversibilidade entre dólar e peso argentino, mas em 2001 essa paridade deixou de existir e a inflação entrou em uma trajetória de alta.

No governo de Cristina Kirchner (2011 a 2015) já era de mais de 30% ao ano, e em 2019, ao final do governo de Maurício Macri, tinha passado dos 50%.

Um dos motivos para essa inflação sempre mais alta é que o país priorizou nas últimas décadas uma política expansionista. Em bom português, gastou mais do que poderia.

Nos últimos 60 anos, a Argentina só obteve superávit fiscal entre 2003 e 2008, período do boom das commodities que beneficiou diversas economias emergentes.

Gastando mais do que arrecada, restou à Argentina se endividar ou emitir moeda. Mas com a dificuldade de fazer novos empréstimos após sucessivos calotes, a principal via para manter o país funcionando foi a emissão de  moeda – e a inflação.

E não é só o governo que gasta muito. Os argentinos também – ao menos os que têm os salários reajustados pela inflação.

É esse contingente que corre para comprar dólares (embora haja uma limitação de compra de US$ 200 ao mês) ou simplesmente consumir, temendo uma desvalorização ainda maior da moeda.

Esse comportamento tem ajudado a manter o crescimento do país. No primeiro trimestre do ano, a Argentina cresceu 6% na comparação com o mesmo período de 2021 e a expectativa do FMI é de uma expansão entre 4% e 4,5% neste ano.

Já a taxa de desemprego argentina está em 6,7%. O problema é que a parcela dos trabalhadores que não têm os salários reajustados mensalmente sofre com o aumento da inflação, que empurra este grupo para a pobreza.

Argentina tem 14 tipos de dólares

Para quem vai visitar a Argentina, resta aprender a lidar com a situação econômica do país, que impõe uma série de taxas de câmbio diferentes (são 14 ao todo).

São três as principais: a oficial, o câmbio paralelo (ou blue) ou o MEP, voltado para os turistas.

Pelo dólar oficial, R$ 1 equivale a 27,12 pesos. No blue, a relação é de R$ 1 para 52 pesos, semelhante à do MEP. A cotação blue, no entanto, só é possível ao fazer operações no mercado não regulado, o que dá margem a golpes.

E para quem gosta de usar cartão de crédito, o meio é a opção menos adequada para se usar na Argentina. Além de os pagamentos serem calculados na cotação oficial, menos vantajosa, há ainda a incidência do IOF de 6,78%.

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