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Guerra na Ucrânia cria dilema para o Banco Central Europeu

BCE manteve juros intactos e sinalizou ao mercado que deve começar a elevar taxas a partir de setembro, segundo especialistas

A presidente do Banco Central europeu, Christine Lagarde. Foto: Andrej Hanzekovic / BCE

O BCE (Banco Central Europeu) decidiu nesta quinta-feira (14) ficar imóvel. Manteve intactas tanto as taxas de juros como a previsão de remoção de estímulos à economia no terceiro trimestre. A inércia é resultado de um dilema para o qual o mercado já escolheu a resposta.

A inflação da zona do euro atingiu 7,5% nos 12 meses encerrados em março. Isso significa que os preços por lá estão subindo quase quatro vezes mais rápido que o desejado pelo BCE.

Parte deste aumento resulta de problemas na produção e entrega de alguns produtos – um efeito da pandemia de Covid-19 e das medidas de isolamento social adotadas para combatê-la. A outra parte é reflexo direto da guerra da Ucrânia e das consequências dela para o preço da energia na Europa.

A Rússia, país que começou o conflito armado, é uma grande exportadora de petróleo e gás natural para o mercado europeu. No entanto, enfrenta dificuldade para vender estes produtos ao exterior desde o início de março. Isso porque foi alvo de sanções econômicas aplicadas pela União Europeia e pelos Estados Unidos após o início da guerra.

A economia europeia foi diretamente afetada por isso – em março, os preços da energia (combustíveis e eletricidade) na região aumentaram 44% em base anual.

Não foi só lá que o custo da energia aumentou. No Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo, a inflação de março também acelerou para níveis historicamente altos e superou a expectativa do mercado.

A diferença é que, nestes dois países, os bancos centrais estão comprometidos com medidas para tentar abafar rapidamente a alta dos preços – algo que ainda está longe de acontecer no BCE.

Preocupação com economia

Um dos motivos para essa diferença é a preocupação do BCE com o crescimento europeu por causa do aumento nos preços da energia. O banco central teme aumentar os juros rápido demais e acabar prejudicando a atividade econômica.

Hoje, a instituição sinalizou que há riscos crescentes de a inflação ficar acima do nível previsto, e uma chance cada vez maior de o crescimento econômico desapontar.

Segundo o ING, a presidente do BCE, Christine Lagarde, evitou classificar o cenário atual como sendo de estagflação – inflação alta e crescimento econômico estagnado -, mas as evidências sugerem que a zona do euro está a caminho desta situação.

O Rabobank disse em relatório que a abordagem mais cautelosa do BCE, em tese, é a correta. No entanto, pode acabar sendo um erro, porque pode resultar em perda de credibilidade da instituição.

Credibilidade do BCE está em jogo

No Brasil, a taxa de juros atual está em 11,75% ao ano, o Banco Central sinalizou um aumento da taxa para 12,75% no mês que vem, e o mercado espera que ela supere 13% ainda  em 2022.

Nos Estados Unidos, os juros estão entre 0,25% e 0,50% ao ano, o banco central prometeu mais altas e remoção de estímulos, e a previsão do mercado é de que a taxa avance em pelo menos mais 0,50 ponto porcentual no mês que vem.

No caso do BCE, os juros estão perto de zero e a indicação da instituição é de que as taxas subirão somente no final do ano. O mercado, porém, negocia como se os juros fossem subir em julho – segundo o banco Nordea, o mercado vê 50% de chance de uma alta de 0,25 ponto porcentual nas taxas naquele mês.

Esta discrepância entre as expectativas do mercado e os planos do BCE mostram que os investidores estão desconfiados da estratégia do banco central e acham que ele será forçado a mudar de planos no meio do caminho.

“O BCE não aguentará ficar muito longe de seus pares, mesmo que a situação na Europa seja diferente. Após a decisão de hoje, o euro caiu para menos de US$ 1,08, e isso só deve ajudar a aumentar a pressão inflacionária”, disse o Rabobank.

Alta de juros só deve vir em setembro

Especialistas acham que os juros da zona do euro vão subir mais rápido do que o BCE deseja, porém mais devagar do que o mercado acredita.

Segundo o Rabobank, o mais provável é que o BCE comece a elevar os juros em setembro e repita a dose em dezembro. A mesma opinião tem o Nordea. Ambas as instituições, porém, acham que depois disso o apetite do BCE por taxas maiores deve diminuir.

“O BCE pode diminuir um pouco o ritmo em meio a uma economia em desaceleração e para se antecipar a mais sinais de aumento na pressão por salários maiores”, disse o Nordea em relatório.

O banco ING ressaltou que, embora a maioria dos bancos centrais esteja assumindo uma postura mais combativa em relação à inflação, “a Europa é diferente e o BCE é diferente”.

“Em vez de reações tomadas por pânico, o BCE continua com uma normalização muito gradual. O BCE definitivamente não vai se adiantar em relação aos outros bancos centrais. Será uma normalização no passo da lesma”, afirmou, acrescentando que também espera alta de juros somente a partir de setembro.

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