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Projeto de regulamentação das criptos não é 100%, mas é “melhor que nada”, diz CEO da Bitso Brasil

Thales Freitas defende aprovação do texto para a entrada de mais empresas no mercado

Foto: Shutterstock/eamesBot

A aprovação do projeto de lei de regulamentação das criptos no Brasil, que está estacionado na Câmara dos Deputados desde abril deste ano, não resolve todas as questões do mercado, mas é melhor que não ter nenhuma base legal para investidores e corretoras.

Essa é a opinião de Thales Freitas, CEO da Bitso Brasil, braço da corretora mexicana que atua no mercado brasileiro desde maio de 2021 e conta com 170 funcionários locais. Ele vê chances de o texto ainda deve ser chancelado pelo Legislativo neste ano.

“Sabemos que tem outros players que estão esperando esse projeto sair para fazer investimentos mais robustos no mercado cripto. Quando os parlamentares conseguirem enxergar o benefício disso, vão ver que é algo que vai proteger o consumidor brasileiro”, afirmou, em entrevista à Agência TradeMap.

A Bitso tem mais de 6 milhões de clientes globalmente e um número acima de 1 milhão no Brasil. Atualmente, a corretora negocia 46 criptomoedas.

O PL 4401 foi aprovado pelos Senadores e encaminhado para a Câmara dos Deputados, onde passou por mudanças que acabaram travando os trâmites de aprovação. Entre as principais polêmicas, está a retirada pelos deputados da segregação patrimonial de bens, que impede que os recursos dos investidores se misturem aos ativos da corretora.

O mercado brasileiro passou por uma revolução nos últimos meses com a entrada quase que simultânea de grandes bancos e fintechs na disputa com as exchanges, a despeito da forte crise que derrubou o valor dos ativos.

O executivo vê a investida como algo positivo, sobretudo no papel que grandes nomes, como BTG Pactual, Nubank, XP e PicPay, possuem na missão de educar os investidores para o mercado de criptomoedas.

“Eles estão fazendo um grande favor para toda a indústria cripto. São instituições consolidadas, com poder de caixa muito grande para gastar e educar as pessoas”, diz.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Qual a posição da Bitso sobre a regulamentação do mercado de criptoativos discutida na Câmara dos Deputados?

Sabemos que não é um projeto 100% perfeito, mas acho que ter um projeto e uma lei é melhor que nada. E uma vez que tivermos a lei aprovada, com certeza o Banco Central e a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] vão polir e colocar os detalhes de como a regulamentação vai funcionar.

Achamos que o importante é aprovar agora. É melhor aprová-lo quanto antes, e depois vamos melhorando e aperfeiçoando o projeto.

Você acredita que o PL ainda será aprovado neste ano?

Espero e acredito que tenha uma chance, mas a janela é pequena. O trabalho com a equipe de transição é superimportante também, de as pessoas do novo governo entenderem a importância da capacidade de gerar emprego, de trazer receita.

Sabemos que tem outros players que estão esperando esse projeto sair para fazer investimentos mais robustos no mercado cripto. Quando os parlamentares conseguirem enxergar o benefício disso, vão ver que é algo que vai proteger o consumidor brasileiro.

Já não tem volta. O brasileiro abraçou cripto como poucos países no mundo, então é melhor ter proteção e regulação para todo mundo.

Você comentou que o projeto não é perfeito. Quais seriam os pontos que poderiam ser melhorados?

Uma coisa que tinha no projeto antigo e depois mudou nesta versão foi a regra de transição. Alguns players queriam que algumas empresas só pudessem operar com cripto se tivessem um CNPJ no país.

O que a gente queria é que fosse uma regra de transição de 180 dias para todo mundo. Isso agora está no projeto, então é bom, mas é algo que pode entrar ou pode sair.

Tem a questão de segregação de contas, que também é um tema que alguns players querem e outros não.

São temas polêmicos, mas, em geral, o marco é bastante positivo.

Qual instituição você considera como a mais adequada para supervisionar o mercado de criptos? Acha que precisa ser criado um órgão regulador para isso?

Tanto o Banco Central quanto a CVM trabalham muito bem juntos, o natural seria os dois. Não sei qual parte ficaria com o BC, qual ficaria com a CVM, mas hoje já temos as autarquias criadas. Não acho que precise criar uma nova, só definir que escopo fica com cada uma. Vejo interesse delas também de regular isso.

A Bitso possui operações dentro e fora do Brasil. Quais as vantagens e desvantagens de operar no país em relação aos outros mercados?

Uma coisa difícil e boa ao mesmo tempo. No Brasil, a competição é aberta e todos os players globais estão aqui. A facilidade de uma exchange chegar e se conectar com o provedor para dar acesso ao PIX e poder operar é algo bastante bom.

Por outro lado, aqui ou você faz um trabalho de longo prazo, ou realmente não consegue se vencer nesse mercado.

O maior desafio que eu acho para a gente é como entender os brasileiros. A Bitso chegou faz um ano e meio e fizemos questão de ter um time local bastante forte.

Tem os bancões aqui. Eu não vejo o JPMorgan e o Bank Of America, hoje, querendo fazer algo com cripto nos Estados Unidos. Quem sabe daqui uns cinco ou seis anos. No Brasil, hoje nós temos bancos gigantes oferecendo. Isso é muito bom.

O que muda no mercado com a entrada de grandes players?

Eles estão fazendo um grande favor para toda a indústria cripto. São instituições consolidadas, com poder de caixa muito grande para gastar e educar as pessoas. No final das contas, acho que muitos clientes vão conhecer criptos por meio desses players, e quando quiserem algo um pouco mais sofisticado, mais na vanguarda, eles vão procurar players e exchanges mais especializadas, como no caso da Bitso. A ideia é sempre estar um passo à frente deles.

É um movimento que vem mais para agregar do que para competir?

Sim, exato. A educação é muito importante neste mercado. O que a Bitso faz é um trabalho muito de formiguinha. E esses players vão ajudar a massificar o tema critpo. É um trabalho de comunidade.

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Qual a expectativa para o mercado em 2023?

Depende de muitos fatores. O mercado está bastante volátil com a FTX, com a Binance, e enquanto as taxas de juros nos Estados Unidos continuarem subindo e a inflação não estiver controlada, os mercados vão continuar voláteis. Vai ter menos financiamento e a liquidez vai estar contraída.

Eu sou do campo mais otimista. Acredito que, na metade do ano que vem, até setembro, a inflação nos EUA esteja mais controlada, que a gente possa ver um Fed [Federal Reserve, o banco central americano] “pivotando” [invertendo a direção e começando a cortar os juros], e isso pode dar um impulso para todos os mercados mais voláteis, como de ações de tecnologia e cripto.

A recente atualização da blockchain Ethereum pode fazer o Ether superar o Bitcoin?

Não sei. Tenho as duas, e acho que ambas têm papéis diferentes. Mas o Bitcoin está com uma base de investidores cada vez mais estável. Vejo o Bitcoin como um ativo mais estável, que vai continuar sendo a pedra angular de cripto, apesar de a tecnologia do Ethereum e de seus novos protocolos continuar crescendo também.

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