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Haja estômago: Volatilidade do Bitcoin assusta, mas cenário já foi bem pior

Tendência de maior adesão ao BTC, principalmente pelo lado institucional, deve reforçar a solidez do ativo nos próximos anos

Foto: Shutterstock

O urso voltou a dar as caras (e patadas) no mercado de criptoativos nas últimas semanas, e os investidores precisaram se segurar firmes diante das sequências de quedas livres que jogaram o Bitcoin (BTC) no pior patamar desde dezembro de 2020 e derrubaram as altcoins.

Os responsáveis por tamanho mau humor foram os suspeitos de sempre: aumento dos juros americanos e alto grau de incerteza global pela falta de resolução da guerra na Europa e dos impactos na economia chinesa com a extensão das medidas de restrição em meio ao aumento de casos de Covid-19.

Além do clima internacional desfavorável, o mercado foi duramente penalizado nos últimos dias pelo colapso da blockchain da Terraform Labs, responsável pela Terra (LUNA) e a stablecoin TerraUSD (UST), o que intensificou ainda mais a debandada de investidores dos criptoativos.

Se em anos passados o mês maio era visto como um período de ganhos, em 2022 a máxima “sell in may and go away” (venda em maio e siga em frente, em tradução livre), nunca pareceu tão adequada. Desde o começo do mês, o BTC já perdeu 20,5% do seu valor (de US$ 37.153 para a faixa de US$ 29.505 no início desta tsegunda-feira) e pressionou de reboque todo o mercado de criptomoedas, segundo dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

Olhando um pouco mais para trás o buraco parece ainda maior. Desde quando atingiu a máxima histórica de US$ 70.758 em 14 de novembro do ano passado, o Bitcoin despencou 58,3%. E, pegando uma faixa de 12 meses, a queda é de 36%.

Variação semanal do Bitcoin desde novembro de 2019 / Fonte: TradeMap

Mas nem tudo é notícia ruim. As recentes altas e baixas realmente geram medo e acendem o alerta de risco, mas são movimentos muito menos intensos aos observados até não muito tempo atrás, quando a volatilidade do BTC batia os três dígitos em questão de dias.

É o que mostram gráficos com as séries históricas das cotações e corroboram especialistas no mercado de criptoativos ouvidos pela Agência TradeMap.

O mesmo pode ser visto por meio do Bitcoin Volatility Index (BVIN). O indicador é produzido pela Universidade de Sussex, em parceria com a CryptoCompare. A plataforma, que reúne dados do mercado de criptoativos, é uma das principais referência para medir o sobe e desce do mercado, além das expectativas dos próximos passos do ativo.

O gráfico funciona com uma metodologia que se assemelha ao tradicional VIX Index, também chamado de “índice do medo”, que aponta as perspectivas dos analistas para os próximos 30 dias.

Observando em um panorama desde o seu lançamento, em outubro de 2020, fica latente a gradual redução dos picos de volatilidade ao longo dos meses. Os movimentos de maior intensidade foram registrados até julho de 2021, com o índice majoritariamente operando na casa dos três dígitos. No início de janeiro daquele ano, o medidor bateu o teto de 174,29 pontos.

A partir do segundo semestre de 2021, após o índice ir a 163,86 pontos no meio de julho, se percebe um período de calmaria no mercado, com o BVIN operando quase todo o tempo apenas em dois dígitos. Mas também houve momentos de alta volatilidade, como entre outubro e novembro de 2021, quando o BTC atingiu o seu valor máximo —, e no início deste ano, com o mercado sendo influenciado pela iminente invasão da Ucrânia pelas tropas russas.

Histórico de volatilidade do Bitcoin desde novembro de 2020 / Reprodução Bitcoin Volatility Index (BVIN)

A imagem é semelhante à apresentada pelo BitVol (Bitcoin Volatility), da plataforma T3 Index, focada em mesurar a volatilidade de diversos ativos. Com um histórico iniciado em 2019, o gráfico deixa claro a escalabilidade das expectativas para o BTC até maio do ano passado, quando foi a 159,95 pontos, para então entrar em um período de estabilização.

Antes, o BTC experimentou uma momentânea tranquilidade entre março de 2020, quando o índice bateu o teto de 190,28 ponto, e janeiro de 2021, ao subir até 166,21. Neste hiato, a linha do gráfico se manteve na maior parte do tempo em dois dígitos, indicando queda de volatilidade.

Histórico de volatilidade do Bitcoin desde janeiro de 2019/ Reprodução BitVol

Amadurecimento

A queda da volatilidade do Bitcoin é reflexo do “amadurecimento” dos criptoativos. Lançada em 2009, a maior moeda digital em capitalização enfrentou bastante resistência do mercado tradicional até começar a integrar as operações de grandes bancos e fundos, movimento que se intensificou nos últimos anos com a criação de uma série de regulamentações em diversos países.

Conforme um ativo aumenta em capitalização de mercado, mais capital é necessário para causar variações relevantes em seu price action (análise dos movimentos básicos do preço), e apenas instituições financeiras multimilionárias têm a força compradora necessária para causar esses movimentos expressivos”, explica João Galhardo, analista e sócio da Quantzed Criptos, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.

Alex Buelau, cofundador e CTO da Parfin, fintech  que oferece serviço de custódia e gestão de criptos, acompanha o mercado há quase uma década e testemunhou todas as fases de adesão do BTC. 

“Em 2013, havia só uma exchange (corretora de criptoativos), e o volume de capitalização era muito mais baixo do que hoje, algo em torno de alguns milhões”, afirma.

Segundo dados da CoinMarketCap, plataforma de dados de criptos, atualmente, o mercado conta com US$ 1,2 trilhão em capitalização. Conforme o histórico, o aumento de aportes ocorre de forma significativa no início de 2021, mesmo período em que os índices de volatilidade começam a operar mais próximos da estabilidade.

“Não é algo restrito ao Bitcoin, mas um efeito que acontece com qualquer mercado novo que começa de uma forma muito rasa e vai amadurecendo com o tempo. Hoje, temos dezenas de exchanges em operação, e o volume de capitalização é gigantesco”, diz Buelau.

O recente momento de pressão sobre os ativos digitais refletiu na escalada da volatilidade do BTC. No fim de abril, o BVIN voltou a bater os três dígitos, aos 107 pontos. A plataforma ainda não compilou os dados de maio.

Já o BitVol mostra um aumento do estresse na semana passada, com o indicador aos 109 pontos, na última quinta-feira (12), em meio à divulgação de dados da inflação americana e os impactos da derrocada do sistema da LUNA.

Para os especialistas, o atual quadro de fuga dos riscos dá fôlego para a volta de picos de instabilidade. A situação, porém, é bastante diferente de tempos atrás. A tendência de maior adesão ao BTC, principalmente pelo lado institucional, deve reforçar a solidez do ativo nos próximos anos.

É lógico assumir que, caso a tese de Bitcoin como reserva de valor se concretize em meio às grandes instituições financeiras, a volatilidade intrínseca do criptoativo se assemelhe à do ouro nessa projeção”, afirma Galhardo, da Quantzed.

Com um viés de otimismo, Buelau, da Parfin, aponta a trajetória crescente da valorização do BTC, a despeito de momentos de fortes baixas. Para ele, a tendência deve se manter, principalmente com o pensamento de usar a criptomoeda como um investimento mirando o longo prazo. 

“O ponto principal do gráfico é ver que a linha está sempre para cima. As pessoas devem evitar curto prazo e pensar mais no longo. Essa é a diferença entre o especulador e o investidor”, diz. “A recente queda não afeta os investidores mais institucionais, que não pensam semana a semana, mas em ciclos de até cinco em cinco anos.”

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