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Pior da inflação já passou, diz presidente do BC, mas mercado ainda espera juros a 14% em 2022

Presidente do Banco Central acha que inflação já bateu no teto, mas mercado prevê que Selic ainda vai aumentar mais este ano

Gustavo Nicoletta

Gustavo Nicoletta

Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse hoje (27) que “o pior momento da inflação já passou”, e que, graças ao histórico de convívio que o Brasil teve com altos índices inflacionários, a autoridade monetária brasileira conseguiu “sair na frente”, adotando ferramentas capazes de frear o processo inflacionário.

As afirmações foram feitas durante o painel Erosão da Ordem Pública Internacional e o Futuro, no Décimo Fórum Jurídico de Lisboa, na capital portuguesa. Durante o discurso, Neto lembrou que o Brasil “é um dos poucos países que no meio desse processo está tendo revisões para cima” do Produto Interno Bruto (PIB).

“Inclusive a nossa última revisão no BC aumentou [a previsão de crescimento do PIB] de 1,5% para 1,7% [em 2022]. Provavelmente teremos PIB forte no segundo trimestre. Obviamente, em algum momento, tudo que estamos fazendo vai gerar alguma desaceleração no segundo semestre. Mas ainda assim o crescimento é bastante melhor do que se esperava no início do ciclo de ação”, disse Campos Neto.

A experiência que o Brasil tem com o combate à inflação tem ajudado na definição estratégica para amenizar este problema. “Como nós no Brasil entendemos que era problema mais de demanda, na minha opinião, até um pouco antes dos demais países, o BC do Brasil saiu na frente porque temos memória de inflação muito maior, e mecanismos de indexação muito mais vivos”, disse.

Campos Neto ressalta que todos os países estão subindo juros e que, enquanto alguns países estão no meio do caminho, o Brasil já está muito perto de ter feito o trabalho todo. “Vamos ver ainda alguns países subindo bastante os juros”, acrescentou.

Ainda segundo Campos Neto, o Brasil ainda apresenta um “componente de aceleração de inflação”. Ele, no entanto, disse acreditar que o pior momento da inflação já passou. “Temos algumas medidas desenhadas pelo governo que ainda precisamos entender os efeitos delas no processo inflacionário, o que ainda não está claro, mas o Brasil fez o processo antecipado e acreditamos que nossa ferramenta é capaz e vai frear o processo inflacionário”.

Preços e investimentos

Na avaliação do presidente do BC brasileiro, os índices inflacionários que estão sendo registrados em diversos países têm como origem uma “desconexão entre preços e investimentos” que vai além do petróleo, abrangendo também os alimentos.

“Os governos estão enfrentando o dilema de garantir segurança energética e alimentar para a população”, disse. Nesse sentido, “muitos países, em função da guerra, estão adotando medidas protecionistas que estão contaminando o resto da cadeia de inflação”. “E o anseio de gerar segurança alimentar e energética dos governos está sendo feito de maneira descoordenada e gerando queda de investimento”, acrescentou.

Segundo Campos Neto, a falta de coordenação está gerando queda em investimentos tanto em energia quanto em alimentos. “Precisamos entender que quem produz alimentos e energia não é o governo, mas o setor privado e que o governo tem de endereçar o problema das classes sociais mais baixas, mas não pode se desviar das práticas de mercado, porque, no final das contas, são os mercados que produzem alimentos e energia”, completou.

Mercado espera mais altas de juros à frente

Embora Campos Neto acredite que a inflação no Brasil já possa ter batido no teto – o que, em tese, diminuiria a pressão para novas altas de juros -, investidores consideram que a taxa básica de juros, a Selic, ainda deve subir um pouco mais antes de o BC parar de aumentá-la.

Neste mês, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano, e sinalizou que faria um aumento de igual ou menor magnitude em agosto.

As apostas do mercado até agora são de que a elevação ficará na ponta mais alta da previsão apresentada pelo BC. Segundo dados divulgados pela B3, a aposta majoritária do mercado, com 66,5% de probabilidade, é um aumento de 0,50 ponto porcentual no próximo encontro do Copom.

Para a reunião de setembro, a estimativa quase unânime é de que a taxa aumente em mais 0,25 ponto porcentual, alcançando 14,00%, ainda de acordo com os dados divulgados pela B3.

Especialistas do Rabobank concordam com a avaliação de Campos Neto, de que “o pior já passou” no caso da inflação, mas ressaltam que no setor de serviços a alta de preços ainda está forte e é motivo de preocupação. Além disso, o corte em impostos sobre combustíveis até o final do ano também muda um pouco o cálculo da inflação para 2023.

O Rabobank reduziu a previsão para a inflação deste ano de 8,7% para 7,3%, mas aumentou a do ano que vem para 4,5%, de 4,0% anteriormente, argumentando que a redução nos impostos transfere parte da pressão inflacionária para 2023.

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